Por: José Prata Araújo
Uma das mais importantes políticas de distribuição da renda
nacional foi em relação ao salário mínimo. Como pode ser visto na tabela
abaixo, seu valor passou de R$ 200,00, em 2002, para R$ 724,00 em 2014, com
aumento nominal de 262% e real, acima da inflação, de 72,31%.
Reajustes do salário mínimo – 2003 a 2014
Ano
|
Salário mínimo em R$
|
Reajuste nominal – %
|
INPC – %
|
Aumento real – %
|
Abril de 2002
|
200,00
|
-
|
-
|
-
|
Abril de 2003
|
240,00
|
20,0
|
18,54
|
1,23
|
Maio de 2004
|
260,00
|
8,33
|
7,06
|
1,19
|
Maio de 2005
|
300,00
|
15,38
|
6,61
|
8,23
|
Abril de 2006
|
350,00
|
16,67
|
3,21
|
13,04
|
Abril de 2007
|
380,00
|
8,57
|
3,30
|
5,10
|
Março de 2008
|
415,00
|
9,21
|
4,98
|
4,03
|
Fevereiro de 2009
|
465,00
|
12,05
|
5,92
|
5,79
|
Janeiro de 2010
|
510,00
|
9,68
|
3,45
|
6,02
|
Janeiro de 2011
|
545,00
|
6,86
|
6,47
|
0,37
|
Janeiro de 2012
|
622,00
|
14,13
|
6,08
|
7,59
|
Janeiro de 2013
|
678,00
|
9,00
|
6,20
|
2,64
|
Janeiro de 2014
|
724,00
|
6,78
|
5,56
|
1,16
|
Total período
|
-
|
262,00
|
110,05
|
72,31
|
Fonte: DIEESE.
A política do salário mínimo de Lula e Dilma
O Professor da Unicamp, Claudio Salvadori Dedecca, especialista
nas áreas do trabalho e de política social, defende a política de valorização
do salário mínimo: “Em 2015, o salário mínimo completará 75 anos de existência.
Somente nos últimos sete anos, ele conheceu uma política pública de valorização
estável. Ela foi resultado de um acordo social tripartite, experiência
histórica inédita e prática que deveria lastrear a consolidação de nosso regime
democrático”. (…) “Dois foram os objetivos básicos da atual política de salário
mínimo: (1) garantir a valorização progressiva do piso legal segundo as
condições econômicas, adotando-se um critério moderado de reajuste segundo a
evolução do PIB; (2) dar previsibilidade dos reajustes anuais para os setores
público e privado, estimular o crescimento e propiciar, mesmo que lentamente, a
distribuição do aumento do produto para os trabalhadores mais pobres. Essa
política pública de valorização do salário mínimo foi concebida como
instrumento de estímulo do desenvolvimento socioeconômico brasileiro”.
A política do salário mínimo prevê o reajuste para repor perdas
inflacionárias e o aumento real: a) os reajustes para a preservação do poder
aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de
Preços ao Consumidor – INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, acumulada nos doze meses
anteriores ao mês do reajuste; b) a título de aumento real, serão aplicados os
seguintes percentuais: I) em 2014, será aplicado o percentual equivalente à
taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e II)
em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do
PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013. Outro ponto da política do salário
mínimo é a data-base de revisão – a cada ano – que foi fixada em janeiro, o que
aconteceu em 2010. Até 31 de dezembro de 2015, o Poder Executivo encaminhará ao
Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a política de valorização do
salário mínimo para o período compreendido entre 2016 e 2019, inclusive.
A mídia e a direita quer o fim da política do mínimo
O jornal O Globo rejeita qualquer ajuste gradual na política do
salário mínimo e defende, sem meias palavras, “desmontar a fórmula” de
reajuste. Diz o jornal em editorial publicado no dia 12/01/2014: “A margem de
ação de qualquer governo é estreita. E como, depois de 2005, estes gastos
cresceram bastante, a margem de manobra de Dilma em 2014 é mesmo apertada. Para
piorar a situação, há a regra de indexação do salário mínimo criada em 2011 —
um retrocesso, porque o país precisa de menos mecanismos que projetem para
frente a inflação do passado, e não mais”.(…) “Baseada na soma do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) com a variação do PIB de dois anos
atrás, a fórmula estabeleceu um reajuste de 6,78% para o mínimo deste ano, de
R$ 724 — um aumento de 6,78%, contra uma inflação de 5,9%. Além de os aumentos
do salário-base não guardarem qualquer relação com os ganhos (ou perdas) de
produtividade na economia, eles indexam uma miríade de benefícios
previdenciários/sociais. A ponto de, hoje, cada R$ 1 a mais no SM injetar quase
R$ 340 milhões adicionais na conta da despesa pública. Em termos líquidos —
considerando o crescimento da arrecadação devido à subida do salário —,
estima-se que o novo mínimo já estabeleceu um gasto em 2014 de R$ 14,2 bilhões,
cerca de meio Bolsa Família”.(…) “Com a economia em expansão a taxas razoáveis,
é até possível alguma compensação pelo lado da arrecadação tributária e
previdenciária. Mas não nos últimos dois anos. Nem neste e no próximo. O tema é
espinhoso em ano eleitoral. Mas a revisão desta indexação terá de ser feita
pelo próximo presidente, até porque a regra vencerá em 2015 e já fez o possível
na recuperação do poder de compra do SM. A questão também é impedir que a
inflação corroa os ganhos obtidos. Até por isso, é importante desmontar a
fórmula”.
Não podemos aceitar a volta dos fantasmas do passado na questão
dos direitos trabalhistas. Os tucanos já se comprometeram com “medidas
impopulares”, na verdade medidas anti-populares. A valorização do salário
mínimo precisa continuar.
Como disse o presidente do PT, Rui Falcão: “A sociedade brasileira
quer mudar, mas pensando no futuro e não em um passado que ela repudiou de
forma reiterada e contundente nas três últimas eleições presidenciais”.
José Prata Araújo, é economista e autor dos livros Um retrato do
Brasil – Editora Fundação Perseu Abramo (2006) e O Brasil de Lula e o de FHC –
Bis Editora (2010)
Veja outros posts da série “Futuro X Passado” no www.blogdojoseprata.com.br, seção “O Brasil do PT e o do PSDB”.
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