Pedro Curi, PSTU
Já chegou o disco voador!
Quem não deu boas risadas com Chaves e Chapolin,
por favor, pare de ler e procure ler outra coisa. O quê? Ignorante? O gato ou o
Kiko?
Dr. Chapatin diria: “Isso me dá coisas!”.
Há pessoas que dizem que “Chaves é pra quem tem cabeça pequena”,
ou “que não há graça”. Respeito opiniões, mas Chaves e Chapolin
merecem mais atenção. Não é qualquer dia que um programa de televisão comemora
mais de 24 anos de exibição em nosso país. Nenhum programa que resista mais de
duas décadas na TV a base de reprises deve ser visto como uma atração qualquer.
Como diria Chapolin: Palma, palma, não “priemos
cânico”!
Desculpem o “nervoso” acima, mas agora há pouco,
quando comentei com um amigo que iria escrever sobre tal assunto, ouvi a
seguinte frase: “Você acha que esse assunto interessa às pessoas?”. O
engraçado é que a indagação me instigou a escrever mais. Então, vamos ao
assunto. Sigam-me os bons!
Foi sem querer querendo
Chaves e Chapolin não são apenas uma
superprodução. É um conjunto de personagens que consegue apresentar um pouco do
dia-a-dia, da família, dos amigos e do mundo de cada um. Um universo um tanto
tosco, mas que, “sem querer querendo”, acabou invadindo a vida de pelo menos
três gerações de brasileiros e cristalizou-se na memória de muitos de nós.
Não importa sua idade, em algum momento, você já
assistiu ao menos a um trecho. E, quando menos esperava, “sem querer querendo”,
estava rindo.
O programa atravessou os anos 1980, desafiando
megaprogramas infantis como os de Xuxa e Angélica, desenhos animados como
He-Man e Thundercats. Encarou os anos 1990 de Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion,
Eliana & Cia. Chegou aos anos 2000 enfrentando Pokémon e DragonBall. E
continua ganhando mais fãs.
Chaves e Chapolin já viveram muitas idas e vindas
na televisão. Chapolin, principalmente, é o que sempre sai do ar. Mas sempre
acaba voltando. Fãs dizem que é uma jogada da emissora para chamar mais a
atenção do público com a falta do programa. O programa é tão querido que tem
histórias impressionantes de apego e um pouco até de obsessão pelo menino do
barril.
Um fato muito curioso aconteceu em 2003. Pouco
depois de Chaves completar ininterruptos 19 anos no ar, os fãs passaram por uma
situação que jamais imaginariam: ligar a TV numa tarde de agosto e não ver mais
a famosa vila.
Passaram-se dias, e Chaves continuava fora do ar.
Porém, horas depois do primeiro dia em que as portas da vila se fecharam para
mais de oito milhões de crianças, jovens, adultos e idosos de todo o Brasil, o
SBT recebia o recorde de mais de cinco mil e-mails que pediam o retorno do
seriado. Uma semana depois, Chaves voltou.
O programa passou a ser exibido no fim da noite de
sábado, pouco antes da hora de dormir. Mas não era o suficiente. Seis dias sem
visitar aquela vila, era muito tempo. A produção da emissora recebeu mais uma
leva de milhares de e-mails e telefonemas, exigindo o retorno de Chaves à
programação diária.
Após duas semanas sem exibições diárias, Chaves
voltou, trazendo junto o vermelhinho Chapolin que, mais tarde, sairia novamente
do ar. Quando voltaram, Chapolin era exibido às 14h45 e Chaves, às 15h15.
História de risos
Em 25 de agosto de 1984, Chaves foi ao ar no
Brasil. Chaves e Chapolin eram exibidos como quadros do Programa do Bozo. O
palhaço era a principal atração da emissora TVS, hoje SBT. Bozo tornou-se o
palhaço mais famoso do país na década de 1980, e seu sucesso seria maior depois
que o menino do barril decidiu aprontar suas peripécias durante seu programa. O
primeiro episódio que o público brasileiro assistiu foi “Caçando Lagartixas”.
No início, a série conseguiu manter os mesmos
níveis de audiência das demais emissoras. Em 1987, a TVS mudou seu nome para
SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Com abertura nacional, os seriados
tornaram-se mais independentes, ganhando espaço individual. Os horários
perduraram por muitos anos: Chapolin às 12h e Chaves às 12h30. Em 1988, Chaves
passou a ser exibido no horário nobre, entre 20h30 e 21h30, quando eram
exibidos somente os episódios inéditos.
Tudo começou no México
Mas a história do programa vem de bem antes. Em
1970, Roberto Bolaños, idealizador dos personagens e do programa e intérprete
de Chaves, Chapolin e Dr. Chapatin, já possuía seu próprio programa no México,
o Chespirito. No mesmo ano, estreou Chapolin e, em 1971, surgiu El Chavo Del
Ocho. O número “8” não é a idade de Chaves, como muitos pensam, mas era o número
do canal em que era exibido, a TV TIM.
O nome do programa foi traduzido errado como
Chaves no Brasil. Na verdade, Chavo, em espanhol, quer dizer “garoto”,
“moleque”.
Não poderia deixar de falar também do
papel fundamental dos dubladores. Eles conseguiram com muita “astúcia”
abrasileirar o seriado, tornando-o mais simples e de fácil entendimento para os
brasileiros. Há dublagens curiosas em que Kiko, por exemplo, ao falar de
futebol cita times brasileiros como Corinthians, Palmeiras e Grêmio.
Sou pobre, porém honrado!
Essa frase marcou Seu Madruga. Viúvo com uma
filha, vivendo numa casa alugada, sempre com 14 meses
de aluguel atrasado, desempregado e de bom coração. Este é um dos
personagens mais queridos pelo povo.
Há uma frase sua que resume bem sua
situação: “Não existe trabalho ruim, o ruim é ter de trabalhar”.
Num capítulo em que é perguntado por um policial se pagava todos seus impostos
em dia, ele responde: “Sou um cidadão consciente... não fanático”.
Seu Madruga, junto com o menino Chaves, são os que
mais representam o caráter humano do programa. O lado psicológico exibe o
estereótipo dos personagens e a relação com a pobreza da América Latina.
A combinação de pessoas humildes, morando numa
vila pobre, foi perfeita para atrair a atenção de crianças e jovens. A vila do
Chaves é um espelho para muitas vilas e povoados proletários do mundo.
Não há quem não se sensibilize com a miséria de
Chaves, a insana busca por um sanduíche de presunto. A briga de Seu Madruga
para arrumar emprego e pagar o aluguel.
No livro Chaves – Foi sem querer
querendo, há uma história que demonstra o quanto o programa foi e é capaz
de tocar as pessoas. Num dos capítulos, durante uma reforma da vila, a turma
toda fica hospedada por um tempo na casa do Sr. Barriga, o dono da vila. Num
dos episódios, o de Natal, Chaves comenta que jamais havia recebido um presente
nessa data. Ele ganha, então, um presente do Sr. Barriga. O fato curioso foi
que, após a exibição, centenas de brinquedos chegaram pelo correio à sede da
emissora, como se essa pudesse ser um meio de distribuí-los a crianças
carentes.
Vinte anos sem Seu Madruga
No último dia 9 de agosto, completaram-se vinte
anos do falecimento de Ramón Gómez Valdez Castillo, o Seu Madruga. Vitima de
câncer no pulmão, morreu aos 64 anos deixando uma legião de fãs.
Conhecido por ser um dos melhores atores de cinema
e TV no México, começou sua carreira ainda criança, num circo junto com seu
pai, na cidade de Juarez. Esteve presente em boa parte das filmagens de Chaves
e Chapolin.
Era conhecido pelo carisma, determinação e
dedicação à cultura popular latina. Ao fim das gravações de Chaves, partiu numa
empreitada pela América Latina com seu circo, interpretando seus personagens.
Hoje, o rosto de Madruga está em camisas, bottons,
cadernos. Concorre, inclusive, com a figura de Che Guevara. Com certeza, este é
um dos mais queridos do povo brasileiro.
Oh! E agora quem poderá me ajudar?Eleito o
verdadeiro super-herói da América Latina, Chapolin Colorado é um dos
personagens mais queridos criados por Bolaños. Conhecido por ser muito
simpático, nobre e, sobretudo, covarde, Chapolin diverte simplesmente por ser a
antítese de todos os super-heróis da época. Para quem não sabe, Chapolin é o
nome de um gafanhoto típico do México, que pode ser comido com pimenta.
Num dos capítulos de Chapolin, Bolaños faz uma
forte sátira ao capitalismo. Na trama, junto com o Chapolin, há outro herói: o
Míster, como é chamado, é interpretado por Ramón Valdez (Madruga), que veste as
roupas do Superman e usa uma longa barba branca e cartola, representando o
famoso Tio San.
Time is Money!”. Esse episódio é um dos
melhores, e demonstra em forma de comédia um protesto ao capitalismo
norte-americano.
Chapolin toca muito no lado social. Um dos
episódios da série mais marcantes nesse sentido é o “Seu Mundinho”, um senhor
interpretado por Ramón Valdez (Madruga) que se sente mal por ser um fiscal
sanitário. Ele é amparado por Chapolin, que faz o papel de sua consciência,
para não prejudicar os trabalhadores humildes. Há também as histórias de
auxílio a Chaves na vila, em que o herói se mostra preocupado com a situação de
miséria de Chaves e Seu Madruga.
Chapolin quebra um dos principais pilares da
ideologia capitalista. O individualismo, o papel do “homem-herói”. A qualidade
de herói que resolve todos os problemas, desvia de balas, bate em todos os
vilões, é inteligente, bonito, forte etc. não existe no magrelo e “tampinha”
Chapolin.
Chapolin é igual a qualquer ser humano. Quer
dizer, é um pouco besta, mas a gente releva. Seus poderes, na verdade, se
concentram na marreta biônica, nas pílulas de nanicolina, nas anteninhas de
vinil, mas principalmente na sua humildade. Em todos os episódios de Chapolin, quem
acaba resolvendo os problemas são as próprias pessoas que clamaram sua ajuda.
Que venham os 25 anos e muitos mais
Com certeza, há uma pergunta que todos os fãs de
Chaves e Chapolin fazem cotidianamente: “até quando assistiremos ao
seriado?”
O medo de ficar sem o programa é mais que natural.
Chaves bate todos os recordes quando se trata de um programa de entretenimento.
Para quem ainda duvida da grandiosidade deste, basta saber que os episódios já
foram exibidos em mais de oitenta países. Dentre esses, em quase todos os
países da América Latina e em estados e cidades dos EUA e Canadá onde há grande
concentração de imigrantes latinos. E, pasmem o menino do barril e o
vermelhinho já foram sucesso até em países como Rússia, Coréia do Sul, Arábia
Saudita e Japão.
O seriado cativa por sua simplicidade na maneira
de fazer humor. Com uma linguagem do povo e com situações muito parecidas com
as de nosso cotidiano, a comédia representa muito bem a situação da classe
trabalhadora.
Os programas de entretenimento atuais precisam apelar ao sexo, à
violência, ao preconceito para chamar a atenção do público. Grande maioria dos
filmes, novelas e seriados retrata, exclusivamente, o cotidiano de famílias
burguesas ou de classe média. Uma necessidade ideológica do capital
de popularizar para a maioria proletária o modo de vida burguês. E enfatizar a
ilusão de que o trabalhador pode um dia ter uma vida assim.
Em tais programas, encontramos a busca insana,
pelo sucesso, por riquezas. Os estereótipos de beleza só atendem aos padrões
que interessam à burguesia. A moral burguesa, infelizmente, domina a
dramaturgia.
Chaves e Chapolin conseguem fazer uma comédia mais
pura e ingênua, sem apelar a esses métodos da moral burguesa. Fica uma questão
para debate: será que o sucesso de Chaves e Chapolin não seria fruto deste
diferencial mais popular?"
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Marcos Imperial