Guilherme Wisnik, professor de Arquitetura e
Urbanismo da USP, diz que o prefeito Fernando Haddad (PT) confronta tabus de
São Paulo, como o protagonismo do carro; segundo ele, nem os maiores opositores
de sua gestão podem negar o fato de que as ações estão orientadas para o
interesse coletivo; “Não me espantarei se esses anos ficarem marcados na
história como um ponto de virada civilizatória em São Paulo”.
247 – O professor da USP Guilherme Wisnik elogia as ações do
prefeito Fernando Haddad (PT) e diz que elas podem virar um ponto de virada
civilizatória em São Paulo. Segundo ele, nem os maiores opositores de sua
gestão podem negar o fato de que suas ações estão orientadas para o interesse
coletivo. Leia:
O prefeito
Fernando Haddad segue hoje uma agenda própria, que confronta tabus de São
Paulo, como o protagonismo do carro
É difícil hoje
alguém ter a coragem de contestar o fato de que as cidades precisam encontrar
novas soluções para o deslocamento em massa, e deixar de construir mais
viadutos e túneis. Elas precisam de soluções que não consumam tanto petróleo,
que não poluam tanto o ar, que não induzam à impermeabilização do solo e que
não gerem tanto congestionamento.
Em São Paulo,
nem os maiores opositores da gestão de Fernando Haddad podem negar o fato de
que as ações do prefeito estão orientadas para o interesse coletivo, em termos
tanto sociais como econômicos e ambientais.
Os 358 km de
novas faixas exclusivas de ônibus em São Paulo são ações evidentes nessa
direção, assim como os 78 km de ciclofaixas recentemente instaladas (a previsão
é chegar a 400 km até o final de 2015). A considerável melhora na avaliação do
prefeito pela população é sinal claro dessa consciência.
Diferentemente
do que se costuma pensar, a bicicleta pode ser, sim, uma modalidade
significativa no transporte da cidade. Isso porque 25% do congestionamento que
temos hoje se deve a percursos curtos feitos de carro --menos de 3 km. Mas a
bicicleta não é só um meio de transporte menos poluente e mais compacto: sobre
ela temos maior empatia com o entorno.
As ações de
Haddad se conectam com as recentes mudanças de comportamento. Existe atualmente
uma tendência de abandono das regiões suburbanas (como Alphaville e Granja
Viana) e de volta para as áreas mais centrais da cidade.
Além disso, o
carro vem deixando de ser um bem de consumo imprescindível para as novas
gerações, e os espaços públicos passaram a ser mais utilizados e reivindicados
pela população, de par com as intensas mobilizações em prol do transporte
público como um "direito à cidade".
Daí a tônica do
novo Plano Diretor, que procura conectar as ações de mobilidade ao adensamento
populacional nesses eixos de transporte, diminuindo a distância entre moradia e
trabalho e restringindo o número de vagas de garagem nessas áreas. Isso porque,
ao contrário do que ocorre na maior parte do mundo desenvolvido, a nossa
legislação até agora exigia números mínimos de vagas, e não máximos.
Outros exemplos
positivos da gestão Haddad podem ser citados, como o IPTU progressivo sobre os
imóveis vazios, a inauguração das duas primeiras centrais mecanizadas de
triagem de resíduos sólidos e a ampliação da coleta seletiva do lixo. Há também
o apoio aos moradores da cracolândia por meio de um programa que associa saúde,
emprego, moradia e assistência social.
A defesa dessas
posições não deve ser confundida com uma campanha eleitoreira. Boa parte da
independência das ações da prefeitura se deve, a meu ver, ao próprio isolamento
de Haddad dentro do PT.
Visto com má
vontade pela mídia, dispondo de baixo Orçamento, engessado pela progressiva
judicialização da política e menos comprometido com a "realpolitik"
do seu partido, o prefeito não viu outro caminho que não o de seguir a sua
própria agenda. Uma agenda que confronta tabus cruciais da nossa sociedade,
como o protagonismo do carro na cidade.
Haddad, no
entanto, não faz um voo solo. Caso raro entre nós, é um político que concilia
ações imediatas e cirúrgicas com uma visão abrangente e de longo prazo. É,
portanto, um ator de ponta na política, assumindo uma liderança em decisões
estratégicas na linha de outros prefeitos de grandes metrópoles, de espectros
políticos variados, como Nova York, Medellín e Bogotá.
Quando a
política parece estar submetida à hegemonia do marketing, como um reality show
de estatísticas e de pesquisas construídas de maneira autogerada e pouco
refletida, vejo a coerência contundente de Haddad com grande admiração. Não me
espantarei se esses anos ficarem marcados na história como um ponto de virada
civilizatória em São Paulo.
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Marcos Imperial