
Não somos nada nem ninguém sem consumir. Você já parou para pensar
nisso? Vivemos numa sociedade de consumo, disso todos nós sabemos. Acontece que
a nossa ânsia por obtenção palpável se estendeu até os desejos mais íntimos.
Não adquirimos por ímpeto apenas roupas, sapatos, objetos. Nós consumimos
sentimento, gente, sexo, prazeres, tempo. Tudo. Parece que sem consumo não
existe vida. Nem bem estar. Nem alegria. Nem amor. Nem nada.
As
pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com elas mesmas e com o mundo. Querem
preencher a qualquer custo os seus buracos. Consomem tudo e todos ao mesmo
tempo, na ânsia desesperada de abarrotar os espaços vazios que levam por
dentro. Começam se enchendo de coisas, mas logo o tangível passa a não bastar.
Então, encontram nos outros a possibilidade da sensação de plenitude,
de prazer e satisfação. É uma perseguição efêmera atrás da saciedade.
Aí
vem a primordialidade de ter e sentir, a carestia da posse, que comanda os
sentidos e determina as ações. Objetos já não suprem a ausência física de uma
companhia, o desamor que maltratou o coração, o desejo carnal irrefreável. É
preciso sentir que alguém lhe pertence, nem que seja por algumas horas, até
atingir umnível de contentamento. A ideia da posse acalma. O problema é
que depois que o refém é liberado, um rombo maior se abre por dentro, e você
vai precisar preenchê-lo outra vez. E mais outra. E assim, sucessivamente. Até
que uma sombra equilibre a sua e, juntos, consigam fechar todos os
rasgos.
Enquanto isso não acontece a busca pelo prazer e pela companhia entra em
um círculo vicioso. É preciso se sentir querida, desejada, amada, reverenciada.
Se consome amizade, se consome sexo, se consome o tempo dos outros, a atenção.
Aliás, o tempo é uma coisa curiosa. Tem gente que só se sente vivo, de fato, se
estiver abusando de todo e qualquer sopro de segundo. Perder tempo ou sentir
que não está fazendo nada com ele é infelicidade na certa, é causa mortis.
Abusam do tempo, o tempo todo, a fim de afirmar-se vivo.
A busca por sexo também é uma forma de consumo, porque se associa o
prazer ao amor, confunde-se a proximidade com a companhia, a carência com a
presença. Depois a solidão chega e toma o seu lugar. É quando o consumista,
novamente, persegue quem possa lhe preencher, para suprir o vazio e a
necessidade de afirmação.
E assim, o consumo se expande junto das vontades cada vez mais ansiosas
e caprichosas. O eu grita mais e mais alto, faz as suas birras, é exigente.
Você cede. Até porque a sensação é de que uma vida sem consumo é chata, vazia e
sem nenhum propósito. O pensamento é que só é possível ser feliz quando se
adquire, seja lá o que for.
As
pessoas gastam dinheiro, gastam tempo, investem os seus planos e sonhos,
se desgastam em expectativas e frustrações. Tudo em busca de um sentimento de
verdade. Não precisa ser imenso, não, mas que seja inteiro.
A verdade é que enquanto faltar amor aqui dentro nós continuaremos
procurando lá fora por alguém que nos baste. Miraremos alvos incertos,
consumiremos o mundo freneticamente, expostos ao tiroteio dos corações
caçadores. A esperança é que, no meio da artilharia, em lados opostos, nos
reconheceremos dentre tantos atiradores; nós e o nosso amor próprio. Só quando
nos encontrarmos deixaremos de ser ávidos consumidores de gente."
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Marcos Imperial