O programa cobre 3.785
municípios, sendo que 400 deles nunca haviam tido médicos. Distritos indígenas
contam hoje com 300 médicos; antes não tinham nenhum.
Há dois anos, no dia 8 de julho de
2013, o Brasil foi tomado por uma onda de ira corporativista contra um projeto
que visava ampliar a oferta de médicos especializados em saúde da família no
País. Naquele dia, o governo baixou a Medida Provisória (MP) criando o programa
Mais Médicos, que previa a importação de médicos de diversos países, inclusive
cubanos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a oposição ao governo tentaram,
de todas as formas, impedir que os estrangeiros viessem suprir a carência de
profissionais em áreas rejeitadas pelos médicos brasileiros.
Médicos cubanos chegaram a ser
vaiados e insultados por colegas em sua chegada no aeroporto de Fortaleza (CE),
em uma atitude que surpreendeu os dirigentes da OPAS (Organização Pan-Americana
de Saúde), parceira do governo federal no programa. “Nunca pensei que fosse
chegar a este extremo de preconceito e até racismo, que fossem dizer que as
médicas cubanas pareciam empregadas domésticas, que os médicos negros deveriam
voltar para a África ou que eram guerrilheiros disfarçados”, lamenta o
representante da OPAS/OMS no Brasil, Joaquín Molina.
Neste meio tempo, sempre que a
mídia brasileira noticiou o programa foi para contar quantos cubanos fugiram
para Miami ou os erros que porventura cometeram, ainda que nunca tenha se
concretizado nenhuma condenação. Molina se queixa que, cada vez que era
procurado pelos jornais para defender o programa, ganhava um parágrafo na
reportagem, contra dez do presidente do CFM atacando a ideia. “Pessoalmente,
acho que a mídia brasileira privilegia a notícia ruim. Nunca vi uma manchete
positiva neste país”, critica.
Reuni neste post 10 pontos que a
imprensa não destacou para que as pessoas possam conhecer melhor o programa
Mais Médicos. Confira:
1. O número de médicos na
atenção básica à população na rede pública do País foi ampliado em 36%: tinha
cerca de 40 mil antes do programa e ganhou 14.462 profissionais, entre eles
11.429 cubanos e 1.187 com diplomas de outros países. A lei priorizou os
brasileiros, mas apenas 1.846 se inscreveram na primeira convocatória. Este
ano, a situação se inverteu e 95% das 4.146 vagas foram ocupadas por médicos
brasileiros.
2. Além de serem reconhecidos
como excelentes médicos de saúde da família, a principal vantagem dos médicos
vindos de Cuba, segundo a OPAS, é que vieram todos de uma vez, em um pacote.
Outra vantagem é que qualquer abandono que não seja por razões de saúde é coberto
pelo governo cubano, que envia outro profissional sem nenhum custo adicional
para o governo brasileiro. A OMS situa o sistema de saúde cubano entre os 39
melhores do mundo; o sistema de saúde brasileiro aparece na 125ª posição. Ao
contrário dos brasileiros e profissionais de outros países, os cubanos também
não escolhem para onde querem ir, é o ministério e a OPAS que decidem para onde
serão designados.
3. Os médicos cubanos ganham
R$ 3 mil por mês; os outros R$ 7 mil do salário previsto no acordo vão para o
governo de Cuba. Ainda assim, o pagamento que recebem no Brasil é 20 vezes
superior ao que receberiam em sua ilha natal. Além disso, os municípios arcam
com todas as despesas: transporte, moradia e alimentação. Ou seja, o cubano
praticamente não gasta o dinheiro que recebe.
4. Uma avaliação independente
feita em 1.837 municípios revelou um aumento de 33% na média mensal de
consultas e 32% de aumento em visitas domiciliares; 89% dos pacientes
reportaram uma redução no tempo de espera para as consultas. Uma pesquisa feita
em 2014 pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), baseada em 4 mil
entrevistas em 699 municípios, revelou que 95% dos usuários estão satisfeitos
ou muito satisfeitos com o desempenho dos médicos. 86% dos entrevistados
afirmaram que a qualidade da atenção melhorou após a chegada dos profissionais
do Mais Médicos e 60% destacaram a presença constante do médico e o cumprimento
da carga horária. Queridos por seus pacientes, vários médicos cubanos têm sido
homenageados pelas câmaras municipais por seu trabalho no Brasil.
5. O programa cobre 3.785
municípios, sendo que 400 deles nunca haviam tido médicos. Os 34 distritos
indígenas contam hoje com 300 médicos; antes não tinham nenhum. Entre os
yanomami, por exemplo, houve um aumento de 490 atendimentos em 2013 para 7 mil
em 2014, com 15 médicos cubanos dedicados à etnia com exclusividade. 99% dos
médicos que atendem os índios no programa são cubanos.
6. Um dos trabalhos mais
interessantes desenvolvidos pelos médicos cubanos nas aldeias indígenas é o
resgate da Medicina Tradicional, com o uso de plantas. Na aldeia Kumenê, no
Oiapoque (AP), o médico Javier Lopez Salazar, pós-graduado em Medicina
Tradicional, atua para recuperar a sabedoria local na utilização de plantas e
ervas medicinais, perdida por causa da influência evangélica. O médico
estimulou os indígenas a buscar as canoas defeituosas e abandonadas nas beiras
dos rios para transformá-las em canteiros de uma horta comunitária só com ervas
medicinais, identificadas com placas e instruções para uso.
7. Ao contrário do que os
jornais veiculam, os médicos e médicas cubanos não são proibidos de se casar
com brasileiros. Existe uma cláusula que os obriga a comunicar os casamentos
para evitar bigamia em seu país natal, segundo a OPAS. Os casos de romances
entre médicos/as e brasileiros/as são numerosos. Houve até uma prefeita em
Chorrochó, na Bahia, que se casou com um médico cubano.
8. Desde que o programa Mais
Médicos começou, 9 médicos cubanos morreram: cinco por enfarto, 3 por câncer e
1 por suicídio (em 2014, um médico de 52 anos, ainda em treinamento, foi
encontrado morto em um hotel de Brasília, possivelmente por enforcamento). Até
agora, somente oito abandonaram o programa e deixaram o país rumo aos EUA.
9. O programa Mais Médicos
virou modelo no continente e países como a Bolívia, o Paraguai, o Suriname e o
Chile, que também sofrem com falta de profissionais, já planejam fazer projetos
semelhantes.
10. Além do atendimento de
saúde, o Mais Médicos inclui a ampliação da oferta na graduação e na residência
médica e a reorientação da formação e integração da carreira. A meta é criar,
até 2018, 11,5 mil novas vagas de graduação em medicina e 12,4 mil de
residência médica, em áreas prioritárias para o SUS. Os municípios onde serão
instalados os novos cursos de medicina foram escolhidos de acordo com a
necessidade social, ou seja, lugares com carência de médicos. Créditos da foto:
reprodução, via http://cartamaior.com.br/
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Marcos Imperial