Em artigo especial para o 247, o ex-deputado Haroldo Lima, do PCdoB, que
foi diretor da Agência Nacional do Petróleo e um dos responsáveis pelo atual
modelo do pré-sal, afirma que o golpe paraguaio tramado pelo senador Aécio
Neves (PSDB-MG) não passará; "Para os que testemunharam o golpe de 1964,
como eu, e resistiram à ditadura na clandestinidade, na cadeia e na tortura, os
inconformados de hoje procedem irresponsavelmente, como se estivessem fazendo
piquenique na cratera de um vulcão", diz ele; "O golpe ousadamente
tramado não passará. O povo que se levantou no Araguaia, que derrotou a
ditadura, que fez as 'Diretas Já' não aceitará golpe algum. O Brasil é muito,
mas muito mais complexo que o Paraguai. E a presidenta Dilma, uma
guerreira"; leia a íntegra.
Tramam um golpe. Ele
não passará Por Haroldo Lima,
especial para o 247.
A situação política brasileira
evolui por caminhos inesperados, tortuosos e preocupantes. Núcleos em posições
de Poder confrontam-se com o Governo e planejam desbancá-lo. O afastamento da
presidenta da República é objeto de especulação, colunas de jornais tratam do
tema abertamente, nomes de políticos são citados para sucedê-la. Como não há
fatos jurídicos para permitir o afastamento da presidenta dentro da lei,
procura-se produzir feitos que justifiquem um “impeachment”. É um ardil torpe.
É a “direita” na ofensiva.
Esse quadro vem se formando do
início do ano para cá, incentivado pela inconformidade dos que perderam a
eleição presidencial, pelas dificuldades advindas da crise internacional do
capitalismo, pelos erros do Governo e pela gravidade da corrupção descoberta.
Não há sombra de dúvida que problemas subsistem. Mas o dramático é pretender
enfrentá-los rompendo com a democracia, a duras penas conquistada.
Percebe-se que um golpe vem sendo
urdido pacientemente por setores oposicionistas-judiciais-midiáticos, passo a
passo, para asfixiar a democracia e varrer a Constituição que chamávamos de
“cidadã”.
Para os que testemunharam o golpe
de 1964, como eu, e resistiram à ditadura na clandestinidade, na cadeia e na
tortura, os inconformados de hoje procedem irresponsavelmente, como se
estivessem fazendo piquenique na cratera de um vulcão. O golpe de 1964 foi rude
com a democracia e a Nação brasileiras, mas tragou também os que o apoiaram de
início.
Hoje, não se vê militares na trama
que se gesta. Por enquanto. O golpe seria “moderno”, no estilo do ocorrido no
Paraguai, em 2012: sem canhões, com juízes; sem tropa, com delegados, tribunais
de contas, apoio midiático e “representante do povo”, temerariamente dispostos
a afastar governo legal com pretextos vis.
Nesse período recente, a Nação
teve seu tecido social esgarçado por contínua, longa, unilateral e exacerbada
exposição de problemas e defeitos. Tudo era creditado a uma só corrente
política e a alguns líderes. Resultou no despertar do rancor, do desrespeito e
do ódio. Os preconceitos foram sublimados, sendo deprimente a estupidez com que
se tem investido contra a presidenta por ser mulher. Uma vergonha.
O golpe ousadamente tramado não
passará. O povo que se levantou no Araguaia, que derrotou a ditadura, que fez
as “Diretas Já” não aceitará golpe algum. O Brasil é muito,
mas muito mais complexo que o Paraguai. E a presidenta Dilma, uma guerreira.
Todo um corpo de ideias atrasadas
brota, como ervas daninhas, especialmente na Câmara dos Deputados. Um
conservadorismo raivoso ali avança. Estava certo o Departamento Intersindical
de Assistência Parlamentar, o DIAP, quando disse que “esse Congresso é o mais
conservador desde 1964”.
Embalado em tanto reacionarismo, a
Câmara vem impondo à Nação uma agressiva pauta retrógrada, em que estão: a
terceirização de atividades-fim; o financiamento empresarial das campanhas
eleitorais; uma legislação repressora para a comunidade LGBT; restrições aos
direitos dos homossexuais; redução da maioridade penal. De passagem, o Estado
laico é desrespeitado, a intolerância religiosa é fomentada.
A redução da maioridade penal pode
desorganizar nossa legislação. Atualmente, jovens com 16 anos não podem
consumir bebida alcoólica, comprar cigarro, dirigir carro ou ônibus, ser
submetido a atividades insalubres ou noturnas. Se esses menores já são
maiores para efeito da lei penal, como seriam menores para outros fins?
Juridicamente isto não se sustenta, já dizem especialistas.
A marcha ascensional dos povos não
é retilínea, nem irreversível, tem altos e baixos, comporta recuos. Mas o
grave, o perigoso, é quando maiorias ocasionais comportam-se como predestinadas
e enchem-se da pretensão de moldar a sociedade à sua imagem e semelhança. Aí os
recuos vão se repetindo, se generalizando e se consolidando. As posições
contrárias vão sendo reprimidas. Na história recente da humanidade isto deu no
fascismo.
Protestar é preciso, denunciar os
golpistas é imperioso, desmascará-los é vencê-los.
O grande dramaturgo alemão Bertolt
Brecht e antes dele o poeta russo Maiakovski, em famosos poemas, mostraram o
risco que as sociedades correm quando, ante o avanço do obscurantismo, não
protestam desde o início. Quando resolvem protestar, já é tarde.
Haroldo Lima – foi representante
da Bahia na Assembleia Nacional Constituinte, de 1987/88.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá queridos leitores, bem vindo a pagina do Blog Imperial. Seu comentário é de extrema importância para nosso crescimento.
Marcos Imperial