Apontado por uma recente pesquisa realizada pelo
jornal Correio do Povo em parceria com o Instituto Methodus como o prefeito
melhor avaliado entre as quatro maiores cidades do Rio Grande do Sul, Jairo
Jorge (PT) prepara-se para entrar no último ano do seu segundo mandato na
prefeitura de Canoas, com um duplo desafio: manter o nível de aprovação de
77,8% da população apontado pela pesquisa e eleger seu sucessor (ou sucessora)
para dar continuidade ao projeto iniciado há sete anos. Jairo Jorge consolidou
sua posição como uma peça importante no tabuleiro político estadual e seu nome
vem sendo objeto de especulação nos meios de comunicação a propósito de uma
possível troca de partido.
Em entrevista ao Sul21, Jairo Jorge
fala sobre a sua administração em Canoas, aponta os desafios que estão
colocados para a cidade e analisa o atual momento político vivido pelo PT. O
prefeito diz que não passa pela sua cabeça sair do partido, mas admite o
descontentamento com o modo pelo qual a direção nacional vem se conduzindo em
meio ao processo de crise política alimentada pelas denúncias de corrupção.
“Aqui no Rio Grande do Sul nós temos um grande acordo sobre a crise do partido
e sobre o que precisa ser feito. Mas é preciso ver se o partido acorda
nacionalmente. O Diretório Nacional ficou muitos meses sem se reunir. Em um
momento de crise, é preciso ter inteligência política, ter rumos, e ninguém é
dono da verdade e pode pretender ter soluções sozinho”, diz Jairo Jorge que
espera que a próxima reunião do Diretório Nacional, no final de outubro,
sinalize uma mudança de rumos.
Sul21: Uma recente pesquisa publicada pelo
jornal Correio do Povo apontou o senhor como o prefeito mais bem avaliado entre
alguns dos maiores municípios do Estado. Como recebeu o resultado dessa
pesquisa e a que atribui a avaliação positiva de sua administração?
Jairo Jorge: Em primeiro lugar, recebi essa pesquisa com humildade. Ela
nos desafia a fazer mais. Esse é meu primeiro sentimento. Uma pesquisa é sempre
uma fotografia, um registro de um determinado momento. Na minha opinião, esse
levantamento expressa duas coisas. Primeiro, um trabalho de equipe com
hierarquização, metas, indicadores e métricas para ver se o que estamos fazendo
está em sintonia com a sociedade. Trabalhamos com a ideia de um só governo, uma
só administração. Apesar de termos um governo de coalizão, temos um programa de
governo que foi inscrito na Justiça Eleitoral e apresentado aos eleitores.
Nossas metas não são algo genérico, mas fazem parte desse programa de governo. Além disso, o sistema de participação, com treze
ferramentas diferentes, nos permite sempre sair da zona de conforto. Quando
imaginamos que está tudo bem, tudo maravilhoso, o sistema de participação nos
mostra que há algo a ser aperfeiçoado na saúde, na educação, na segurança, nos
serviços urbanos de uma forma geral, por meio de ferramentas como o Prefeitura
na Rua, que já teve 265 edições, sempre aos sábados…
Sul21: Como funciona esse programa? O
prefeito vai para a rua todos os sábados para conversar com a população?
Jairo Jorge: Sim, todos os sábados. Nós trabalhamos muito com a ideia de
processos abertos. Ir a um lugar onde você só tem amigos é fácil. Agora, ir
para a rua ou para uma praça é sempre algo indeterminado e essa indeterminação
é muito importante para um governo, por que ela nos retira da zona de conforto,
onde podemos ficar achando tudo maravilhoso. Quando vamos para um lugar aberto,
onde as pessoas podem fazer protestos e criticar, o governo é obrigado a se
movimentar para resolver os problemas e atender às demandas do cidadão. Esse
exercício é também uma dessacralização da autoridade, um conceito que defendo
muito. Muitas vezes a autoridade fica muito ensimesmada, dentro uma redoma de
vidro que precisa ser quebrada. A dessacralização é um exercício de humildade.
Sul21: Qual é o critério que organiza esse
contato direto da população com o prefeito?
Jairo Jorge: É por ordem de chegada. São demandas muito rápidas. Além do
Prefeitura na Rua, onde atendo dez pessoas na rua todos os sábados, também
visito as estações do trem (Trensurb, trem metropolitano que cruza a cidade de
Canoas), onde fico das 6h15 até as 8h30, atendendo de 40 a 60 pessoas.
Além disso temos audiências públicas onde atendo cerca de 15 pessoas. Então há
várias portas de acesso para a população. Temos também a Ágora em Rede, uma
ferramenta colaborativa muito importante. Há pessoas que não gostam de ir à
prefeitura, na estação ou na audiência pública, que são muito criativas e
críticas, mas que também são propositivas, apresentando excelentes ideias. É
claro que, às vezes, nos deparamos com irracionalidade nas redes sociais, mas a
minha experiência é que, quando se argumenta ou mesmo se reconhece um
determinado erro, as pessoas têm uma leitura positiva.
Utilizamos também ferramentas mais clássicas como
o Orçamento Participativo, mobilizando de 8% a 10% do total de eleitores do
município. Só este ano foram mais de 17 mil pessoas. É um número robusto para
uma cidade do tamanho de Canoas. Em uma cidade pequena, é fácil mobilizar 10%
dos eleitores. Se há dois mil eleitores, basta mobilizar duzentos. Agora, numa
cidade com 220 mil eleitores, isso significa mobilizar em torno de 20 mil
pessoas. É bem mais complexo, ainda mais neste contexto atual de desencanto com
a política. Então, o sistema de participação popular que nós concebemos e que
foi sendo aperfeiçoado ao longo dos anos, permitiu que fôssemos qualificando a
nossa administração e a nossa relação com o cidadão. O grande desafio para o
gestor hoje é trabalhar com processos abertos e indeterminados. Creio que é
essa uma tendência para a gestão pública no século XXI.
Sul21: Na sua avaliação, essas ferramentas
de participação e esse modelo de gestão podem funcionar também em escala
estadual e nacional?
Jairo Jorge: Acredito que sim. Sou um defensor da democracia
participativa. Hoje temos a possibilidade também de usar plataformas digitais
de participação que podem chegar a milhares de pessoas. Tivemos, tanto no
governo Tarso quanto no governo Olívio, avanços importantes como o Orçamento
Participativo, o Gabinete Digital. Talvez uma das razões para explicar as
dificuldades que enfrentamos hoje em nível nacional foi não ter implantado
ferramentas de participação mais avançadas. Os conselhos são muito importantes,
mas são apenas uma etapa da participação.
O que é importante garantir é a capacidade de a
sociedade interferir no governo. É o que eu chamo de uma gestão focada no
cidadão. As ideias de choque de gestão e de governo de resultados estão muito
mais focadas na eficiência do que na efetividade. Não adianta termos déficit
zero e ter zero de saúde, educação e segurança. O bem estar das pessoas é que
deve estar em primeiro lugar. Esse é o critério que deve ser observado
prioritariamente para saber se os recursos públicos estão chegando nas pessoas
adequadamente. Para tanto, ouvir a opinião e o sentimento dos cidadãos é
fundamental. Outra condição para essa efetividade é ter canais para garantir a
interferência dos cidadãos na formulação das políticas públicas. Para estes que
gostam da métrica do cliente e que comparam a política com o mercado, eu diria
que, se o cidadão é o cliente, ele é o acionista também, não um mero
consumidor. Quem pensa a gestão pública sob esse viés a conduz ao fracasso. As funções do Estado são determinadas pela
sociedade. É ela quem determina o seu tamanho. Se a sociedade quer mais saúde,
educação e segurança, ela quer mais Estado ou quer um Estado vocacionado para
isso. As pessoas não foram para a rua em 2013 pedindo menos Estado.
Sul21: Considerando todo o período da atual
administração, quais seriam as principais realizações alcançadas em Canoas e os
problemas a serem enfrentados no futuro?
Jairo Jorge: Nós pegamos uma cidade muito desestruturada, que tinha mais
de dez meses de atraso com fornecedores, mais de R$ 175 milhões de dívidas, uma
arrecadação de R$ 30 milhões por mês, uma folha de R$ 15 milhões e menos de R$
300 mil em caixa quando assumi. Em menos de 30 dias eu tinha que pagar os
salários dos servidores com menos de 300 mil em caixa. O início foi muito
difícil.
O histórico da política em Canoas sempre teve um
traço muito clientelista, de tutela. Antes de assumirmos, não havia nenhum
instrumento de participação efetiva. Era uma cidade com uma baixa autoestima em
razão da violência e da corrupção. Todo o nosso esforço foi para recuperar o
sentimento de pertencimento do cidadão com a cidade. Não é porque somos uma
cidade da periferia que não temos no nosso espaço de protagonismo e de
reconhecimento. Nós procuramos fortalecer essa identidade e também recuperar as
funções da cidade, melhorando a saúde, a educação, a segurança e os serviços
públicos de uma forma geral, com investimentos estruturantes. Estamos
investindo, por exemplo, R$ 160 milhões em drenagem urbana, um investimento que
políticos tradicionais viam como algo secundário.
Outra decisão importante foi que, em todas as
obras que realizamos para melhorar a saúde, a educação ou a segurança, pensamos
a inovação como uma marca para fazer políticas melhores. Quando construímos o
teleagendamento, por exemplo, nós quebramos uma chaga que era o fato de as
pessoas terem que ficar oito ou dez horas numa fila. Não existe dignidade numa
fila com esta. As pessoas precisam ter um serviço público que se espelhe
naquilo que há de melhor e não no que há de pior. Se a pessoa que tem um plano
de saúde particular liga e marca um horário com seu médico, por que isso não
pode ser feito no SUS? Temos que buscar a excelência e não serviços arcaicos. Quando se fala em teleagendamento está se falando
em acabar com as filas, mas também em aumentar a demanda. Nós tínhamos 900
consultas/mês e passamos para 2000 consultas/mês, ou seja, mais do que dobramos
o número de consultas. Isso envolveu também todo um monitoramento do serviço
para que o cidadão passasse a ser tratado pelo nome e não como uma massa
amorfa. Nós buscamos, em todas as áreas, uma personalização do serviço público,
No século XX, nós lutamos pela universalização dos serviços públicos. Hoje as
pessoas querem serviços públicos de qualidade, querem uma educação e uma saúde
de qualidade, querem ser tratadas pelo nome. Quando a pessoa vai lá e tem a
consulta marcada no seu nome, com dia e hora, isso representa uma mudança
importante. É um outro respeito do Estado com o cidadão.
Nós também investimentos fortemente em educação,
com oito escolas de educação infantil e duas escolas de ensino fundamental
entregues. Vamos entregar mais seis escolas de educação infantil e estamos
recuperando a estrutura da rede municipal, com mais de 15 quadras
poliesportivas cobertas.
Até agora, já entregamos 550 obras na cidade e
temos outras 110 em andamento. Até o ano que vem teremos ainda provavelmente
mais umas 100 obras. Então, a parte das obras e a melhoria dos serviços
públicos foram avanços importantes que produzimos. Quanto ao futuro, acho que o
grande desafio da cidade é garantir a estabilidade desses serviços, que essa
excelência possa ser mantida e seja perene, e enfrentar os gargalos ainda
existentes. Um dos principais é o tema da mobilidade. Acreditamos que o
aeromóvel vai reestruturar o transporte coletivo em Canoas, com uma tecnologia
genuinamente gaúcha e brasileira. Esse novo modal pode representar uma solução
sustentável e ecologicamente adequada para médias e grandes cidades. O primeiro
trecho já está em implantação e queremos que ele esteja operacional até o final
do ano que vem (entre a estação Mathias Velho, do Trensurb, e o Bairro
Guajuviras).
Sul21: Como está a situação do novo
presídio? O que falta para ele entrar em funcionamento?
Jairo Jorge: Uma das unidades está pronta desde o final do governo
Tarso. Ela até poderia ter sido inaugurada, mas acho que o governador agiu
corretamente ao definir que todas as condições estivessem adequadas e dar ao
governador Sartori a oportunidade de fazer as suas escolhas. Agora, finalmente,
depois de dez meses, conseguimos o repasse dos recursos para concluir a obra de
acesso. Nossa meta é concluir essa obra em sessenta dias. Em seguida, já vamos
ter uma primeira unidade funcionando com capacidade para quase 400 presos e a
prefeitura assumiu o compromisso de fazer o restante do acesso. Se a prefeitura
assumir, ela faz a obra em quatro meses, se for a Susepe, leva cerca de um ano.
Acredito que no primeiro semestre de 2016 teremos mais três unidades prontas.
Elas estão 99% concluídas, faltando apenas detalhes, mas são detalhes
importantes como acesso, esgoto, iluminação e energia.
Desde o início desse projeto, ainda durante o
governo Yeda, nós não abrimos mão de algumas pré-condições. Uma delas é a
presença de bloqueador de celular. Hoje, o crime, através, do celular, coordena
dentro do presídio ações criminosas realizadas nas ruas. O bloqueador é uma
ferramenta essencial para impedir esse tipo de prática, reduzindo a incidência
da violência e a ação das gangs e facções. Outra exigência da qual não abrimos mão
é que haja trabalho e estudo. E um terceiro elemento importante é a questão do
efetivo tanto da Brigada quanto dos agentes penitenciários. Sem efetivo é
impossível esse presídio funcionar. O quarto elemento é o da saúde prisional.
Nós não podemos retirar do sistema público de saúde estrutura para atender o
presídio. Com cerca de 2.800 presos, ele será quase uma pequena cidade. E o
quinto e último elemento é uma gestão compartilhada. Nós temos um conselho de
gestão do qual a prefeitura faz parte. Hoje, a capacidade do presídio é para
2.800 presos. O meu receio é que, daquia dez anos, possa ter 5.600 pessoas,
virando um novo Presídio Central. Não queremos que isso aconteça. Ele será um
grande avanço para o sistema prisional gaúcho, desde que tenha capacidade de
ressocialização. Não vamos imaginar que uma masmorra medieval vai melhorar as
pessoas. O que melhora é trabalho e estudo.
Sul21: Estamos a menos de um ano da eleição
municipal de 2016. A prefeitura de Canoas é governada hoje por uma ampla e
inédita – para os padrões gaúchos – coalizão política. Como está o processo de
debate entre essas forças políticas para a definição da candidatura da
situação?
Jairo Jorge: Ainda estamos avaliando o cenário, seja
dentro do Partido dos Trabalhadores, seja na relação com os nossos aliados. Nós
temos um conjunto de candidaturas que pretendem concorrer. Isso é natural.
Quando eu fui candidato pela primeira vez houve uma grande polarização na
cidade. Na minha reeleição, conseguimos formar um arco amplo de alianças em cima
de um programa de governo. Mesmo assim, enfrentei outros cinco candidatos na
eleição passada, quando conseguimos um resultado expressivo, com 71,27% dos
votos no primeiro turno. Na minha sucessão, o quadro é mais complexo, o que
exige um debate mais aprofundado. Estamos fazendo uma roda de conversas com os
partidos e devemos concluir esse processo até o final de novembro. Nós
trabalhamos tanto com o cenário de uma candidatura própria quanto com o de uma
candidatura de um de nossos aliados, que possa dar continuidade ao nosso
trabalho. Acho que há na sociedade um desejo de continuidade. Nosso desafio é
encontrar um nome que tenha capacidade de catalisar essa vontade.
Sul21: Quais são as pré-candidaturas que
postulam esse papel?
Jairo Jorge: Dentro do PT nós temos o deputado Nelsinho, um nome que
está bem postado dentro da cidade. Por outro lado, a minha vice-prefeita Beth
Colombo (PP) também postula a indicação e é um nome legítimo também porque é
minha vice-prefeita há oito anos. E ainda temos o nome do deputado federal Luiz
Carlos Busatto (PTB), que coordenou minha campanha no segundo turno. Esses três
nomes são da base do nosso governo, mas ainda não há nenhuma definição.
Seguimos conversando e a ideia é chegar a um denominador comum até o final de
novembro, buscando a melhor solução possível para a continuidade do nosso
projeto.
Sul21: O seu nome vem sendo citado como um
possível candidato ao governo do Estado? Esse é um projeto que está no seu
horizonte?
Jairo Jorge: A vontade pessoal pouco importa em um processo eleitoral.
Ela é irrelevante. Todo político gaúcho se sentiria honrado em governar o
Estado. Nós tivemos grandes governadores do nosso partido. Tarso e Olívio são
nomes que engrandeceram a política do Rio Grande do Sul. Outros nomes também tiveram
uma importante contribuição: Collares, Pedro Simon, Germano Rigotto…Todos que
governaram têm sua contribuição, mesmo que estejam em campos diferentes do
nosso como a Yeda, o Britto ou o governador Jair Soares. Cada um deixou o seu
legado e tem a sua história. A questão de ser ou não candidato depende de um
conjunto de fatores que não dependem da vontade pessoal. Acho que o PT tem grandes nomes, não só os das
nossas lideranças históricas como Tarso Genro, Olívio Dutra, Raul Pont e Paulo
Paim, mas também toda uma nova geração com Miguel Rossetto, Pepe Vargas, Maria
do Rosário, Paulo Pimenta, Luiz Fernando Mainardi, Marco Maia, entre outros. Eu
acredito muito que nós vamos ter uma troca geracional em 2018. Essa geração que
ajudou a transformar o Rio Grande do Sul, e que tem entre 67 e 80 anos, deixou
o seu legado, contribuindo muito para a democratização e para o Estado ser o
que é hoje, com suas virtudes e suas dificuldades. Isso faz parte da política e
do trabalho do gestor. Vai surgir uma nova geração, seja dentro do PT seja
dentro dos demais partidos. Em todos os partidos ocorrerá uma troca geracional,
como ocorreu em 1982, quando se descortinou uma nova geração depois de um longo
período sem eleições em nosso país. Praticamente todos os líderes daquela geração
acabaram se elegendo governadores. Acho que é muito cedo para esse debate sobre o
governo do Estado. Nós nunca devemos colocar uma eleição antes da outra. O
nosso foco neste momento deve ser 2016. O PT tem cerca de 70 prefeituras no
Estado e devemos trabalhar para dar continuidade a esses trabalhos e construir
alianças para conseguir vitórias em outras cidades importantes mesmo que não
estejamos na cabeça de chapa como acho que deve ser o caso de Porto Alegre. Eu
defendo que devemos apoiar a Manuela para a prefeitura, nossa aliada e parceira.
Sul21: O PT atravessa um momento muito
difícil, com a legenda muito associada ao tema da corrupção. Nos últimos meses,
alguns parlamentares e detentores de cargos anunciaram sua saída do partido.
Uma possível saída sua do PT vem sendo cogitada pela imprensa gaúcha.
Fala-se de uma possível ida para a Rede, de Marina Silva. Qual a sua avaliação
sobre o atual momento do PT e o que há de verdade nestas especulações sobre uma
possível saída sua do partido?
Jairo Jorge: Em primeiro lugar é preciso reconhecer que o PT está
atravessando uma grave crise que tem um risco terminal. Não do PT terminar como
partido, o que não ocorrerá. O PT, com sua força eleitoral, será sempre um
partido presente na cena pública, independente do que está acontecendo hoje. O
risco que o PT corre é o de deixar de ser um partido universal, no sentido de
deixar de catalisar o espírito de utopia das pessoas. O PT precisa fazer
mudanças profundas para que possamos nos reinventar como utopia. Essa
reinvenção é absolutamente necessária. Se ela não ocorrer, o PT morre, não como partido,
mas como utopia. O que nos movimentou há 35 anos a criar o PT foi o desejo de
algo novo. O PT quebrou o caciquismo da política brasileira, com um modelo
inovador de organização, de baixo para cima, um modelo que revolucionou a
política brasileira. Ao longo desse processo de doze anos no governo federal,
nós fomos perdendo essa perspectiva utópica de não ser um partido da ordem.
Eu saí muito frustrado do último congresso do PT.
Na minha opinião, ali era um ponto de virada. Aqui no Rio Grande do Sul nós nos
unimos, com algumas das principais forças políticas do partido. Eu votei junto
com o Raul Pont, com o Ary Vanazzi, com o Henrique Fontana, o Pimenta. Nós nos
unificamos em torno de uma ideia de renovação do PT e da necessidade de o
partido fazer uma autocrítica junto à sociedade. Infelizmente o PT não fez
isso. Nós temos hoje uma visão hegemônica que não enxerga a crise e os seus
desafios. Agora no final de outubro teremos uma reunião do Diretório Nacional.
Vamos ver se acontece alguma coisa. Aqui no Rio Grande do Sul nós temos um
grande acordo sobre a crise do partido e sobre o que precisa ser feito. Mas é
preciso ver se o partido acorda nacionalmente. O Diretório Nacional ficou
muitos meses sem se reunir. Em um momento de crise, é preciso ter inteligência
política, ter rumos, e ninguém é dono da verdade e pode pretender ter soluções
sozinho. É preciso ter debate político para construir essas soluções.
Por outro lado, todos nós temos que estar na rua
hoje em defesa do mandato da presidenta Dilma. Não podemos aceitar qualquer
golpe. Quem não ganhou as eleições que se prepare para a próxima. A minha
geração tem o dever de defender o mandato legítimo da presidenta e não podemos
ceder diante das tentações autoritárias. A reação da CUT, de outras centrais
sindicais e dos movimentos sociais está sendo muito importante. Não podemos, de
maneira nenhuma, permitir que haja um retrocesso no país. O melhor caminho é
sempre a democracia.
Quanto às especulações, acho que elas são naturais.
É óbvio que nós, petistas, sentimos as dificuldades e ficamos entristecidos com
o atual momento do partido. Mas nós não vamos deixar de militar ou de cumprir o
nosso papel. A política não é uma profissão. Eu sou um militante que hoje estou
aqui na prefeitura de Canoas, mas amanhã vou estar em outras funções ou
exercendo a minha profissão como jornalista. Eu vejo com bons olhos o
surgimento de uma força política como a Rede, com uma liderança política digna
como a Marina. É natural que haja um assédio sobre lideranças do PT, como
ocorreu também com o surgimento do PSOL. Mas não me passa pela cabeça sair
doPT. Já disse isso claramente.
Sul21: Já ocorreu esse assédio, então?
Jairo Jorge: É natural que haja, até por amigos comuns que temos ali,
como o Molon, que é uma pessoa por quem tenho uma grande admiração, e o
Randolfe, que considero um dos melhores senadores da República. Aqui no Estado
tem o Marcos Rolim que é uma pessoa com quem também militei. Tenho muito
respeito por eles, mas tenho muita esperança ainda e vamos aguardar esse
momento importante que será a reunião do Diretório Nacional no final de
outubro. Fonte: sul21
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