"Mesmo num
país como o Brasil, que hoje encena seu teatro do absurdo, seria surreal
imaginar que um parecer técnico do Tribunal de Contas da União, que não foi
julgado internamente nem apreciado pelo Congresso Nacional, possa suplantar 54
milhões de votos", argumenta Leonardo Attuch, editor do 247; ele lembra,
ainda, que as "pedaladas de 2015", apontadas no parecer do técnico
Júlio Marcelo de Oliveira, caem por terra com a decisão de ontem do Congresso
Nacional, que aprovou a nova meta fiscal de 2015; "ou seja, sem crime de
responsabilidade, por mais forçada que fosse a tese das pedaladas, qualquer
tentativa de impedir um governo legitimamente eleito não merece outra palavra,
a não ser golpe".
Esqueçam as
motivações de Eduardo Cunha.
Suponham, por um
instante, que ele tenha agido com a mais nobre das intenções, ao dar o sinal
verde para um processo de impeachment contra presidente Dilma Rousseff.
Em vez de
sentimentos primitivos, como vingança ou retaliação, Cunha seria movido pelo
nobre propósito de defender a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Assim, a
presidente Dilma, eleita com 54 milhões de votos, seria derrubada do cargo
porque cometeu um crime terrível: "pedaladas fiscais" em 2015.
Até porque as
chamadas "pedaladas de 2014", condenadas pelo Tribunal de Contas da
União, numa decisão, diga-se de passagem, que ainda não foi referendada pelo
Congresso, não poderiam justificar um impeachment, uma vez que a Constituição
brasileira estabelece que um presidente não pode ser afastado por fato anterior
ao seu atual mandato – argumento, aliás, sempre usado pelo próprio Cunha.
Por isso mesmo,
o pedido de impeachment aceito pelo presidente da Câmara foi aquele que recebeu
um adendo: o parecer de um técnico do TCU, chamado Júlio Marcelo de Oliveira,
que apontou a continuidade das pedaladas em 2015.
Sem essa muleta,
o pedido de oposição, assinado por Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína
Pachoal, não ficaria de pé.
Vamos avaliar,
agora, qual é a situação das contas públicas em 2015. Ontem, por ampla maioria,
o Congresso Nacional aprovou a nova meta fiscal, o que elimina qualquer
possibilidade de que "pedaladas" tenham sido cometidas neste ano.
Mas ainda que
alguns defendam que a presidente Dilma assinou decretos de execução
orçamentária antes da aprovação do parlamento – o que, aliás, foi feito por
todos os presidentes na história da República – é preciso avaliar qual é a
situação jurídica do parecer técnico do TCU.
Em primeiro
lugar, ele não foi avaliado nem pelo próprio Tribunal, que ainda não se
debruçou sobre as contas de 2015. Contas que, assim como as de 2014, também não
foram chanceladas pelo Congresso.
Portanto, mesmo
num país como o Brasil, que hoje encena seu teatro do absurdo, seria surreal
imaginar que um parecer técnico do TCU, que não foi julgado internamente nem
apreciado pelo Congresso, possa suplantar 54 milhões de votos.
Isso significa
que, sem crime de responsabilidade, por mais forçada que fosse a tese das
pedaladas, qualquer tentativa de impedir um governo legitimamente eleito não
merece outra palavra, a não ser golpe.
A menos que a
sociedade comece a aceitar a tese de que crimes existem antes de serem
julgados.
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Marcos Imperial