Marcos Sacramento, DCM
Neymar seria um nome
importante na luta contra o racismo se tivesse se posicionado sobre as ofensas
que sofreu em campo, mas não pode ser crucificado só pelo fato de ser famoso.
Como ele, há milhões de negros que ignoram a própria condição e os abismos
raciais existentes no país.
A tomada de consciência
desse batalhão de anônimos seria mais efetiva contra a discriminação racial do
que um depoimento qualquer de Neymar. Muitos que têm a pele mais clara, como a
do jogador do Barcelona, sequer se reconhecem como negros. Um exemplo disso foi
o depoimento do Caio, o namorado de 24 anos da youtuber Julia Tolezano, a Jout
Jout.
No final do ano passado
vazaram as fotos do rapaz, de quem os fã da Jout Jout só conheciam a voz. Caio
é uma espécie de assistente de produção da moça e às vezes dá uns pitacos por
trás das câmeras.
Comentários com teor
racista seguiram após a descoberta:
“Caio na minha
imaginação é loiro alto, de olhos azuis e musculoso”, disse um internauta.
Outro manifestou-se
como se visse o Freddy Krueger: “Prefiro não acreditar nisso. Vou esquecer
essas imagens e fingir nunca tê-las visto”.
O namorado da Jout Jout
resolveu gravar um vídeo para discutir a polêmica e mostrou-se surpreso porque
até então não se considerava negro. “Eu estava lá no meio, sem saber o que
falar porque eu me considero pardo … considerava, não sei mais”, disse ele no
início de vídeo.
“Para eu considerar
negro no Brasil tenho que ter sofrido algum tipo de racismo (…)? Quem decide
isso? É o americano que fala que sou parecido com o Barack Obama ou é o marido
da minha mãe que é africano e disse que eu não sou negro? São meus dois avós negros
que casaram com minhas duas avós brancas? São meus traços, meu cabelo?
Eu que decido? Como é
isso? Se eu tive essas dúvidas, se eu não tive essas discussões mais cedo na
minha vida, imagino que muita gente deve ter esse mesmo problema que eu. De não
conversar, não discutir, e não saber se definir”, continua.
Caio não sabia que de
acordo com o IBGE a definição de negros engloba pessoas “pardas” e “pretas”.
Independente do que ele se autodeclara, seu fenótipo não levantaria dúvidas se
ele fosse aprovado por cotas no Concurso do Itamaraty.
Da mesma forma, os
traços do rapaz podem expô-lo a situações constrangedoras como ser confundido
com empregados em alguma festa chique ou mesmo arriscadas, como em uma blitz
policial durante a madrugada.
Provavelmente Caio
cresceu sob a proteção de um ambiente classe média, onde negros podem passar a
vida inteira sem receber uma abordagem violenta da polícia. Pode ter sofrido
alguma discriminação sutil, ter sido alvo de olhares de seguranças em shoppings
e não ter percebido. A pele não muito escura pode ter contribuído para que ele
não se sentisse negro.
Como Caio, há vários
negros que ignoram a própria condição. Muitos chegam a ser contra as cotas
raciais, chamam manifestações racistas de simples mal entendidos e rejeitam a
influência do passado escravista nos problemas sociais do país.
No vídeo, o namorado da
Jout Jout disse está se descobrindo, questionando, pesquisando para conhecer a
própria identidade. Se mais pessoas fizessem como ele, não haveria disparates
como negros chamando os negros militantes de “vitimistas” nem a necessidade de
meia dúzia de palavras do Neymar condenando o racismo."
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