quinta-feira, 7 de abril de 2016

“Seria lamentável a primeira mulher eleita presidenta ser derrubada injustamente por homens corruptos”

Somos um grupo de mulheres sororárias, trazendo nossa declaração de apoio a você, presidente Dilma.
Sororidade é um substantivo feminino que não existe nos dicionários brasileiros.
Uma palavra que faz parte do campo semântico do feminismo, é derivada de soeur, do francês, cuja tradução é irmã.
Sororidade é, portanto, o irmanar-se entre mulheres. É vê-las, apesar das diferenças, unidas, no fato de sermos e vivermos mulher.
É a compreensão de que fazemos parte do coletivo, de um comum. De que não estamos sozinhas.
É uma palavra que, se vivida, produz sentimento potente que nasce no peito, que expande o peito. E faz com que não nos olhemos como adversárias, como não somos, mas como irmãs, que é a nossa essência.
E é por isso que estamos aqui, neste ato.
Como escreveu Maria Gabriela Saldanha: “a todo momento tentam nos matar em muitos níveis: sexual, emocional, politicamente. Dilma já teve câncer, já foi torturada com choques elétricos, abusada nos porões da ditadura militar, vem sendo chamada de puta nas varandas das elites, teve adesivo simulando estupro com o seu rosto estampado nos carros e ainda está de pé. Dilma ainda está de pé. Nós estamos de pé com ela, eu queria muito poder dizer isso pessoalmente”.
E nós viemos aqui para dizer isso pessoalmente.
Dilma, você é um pouco de cada uma de nós. Mulher. Mulheres. Mulheres nascidas ou vividas. Mulheres descobertas.
Nos consterna ver e ouvir os sistemáticos ataques violentos de ordem sexista contra a Presidenta da República, Dilma Rousseff, desde que assumiu este cargo.
Em um contexto de grave crise política, tais ataques tem se tornado ainda mais violentos.
Nenhuma discordância política ou protesto pode abrir margem e/ou justificar a banalização da violência de gênero – prática patriarcal e misógina que é, por essência, o antagonismo da dignidade humana.
A solidez de uma democracia é também medida pela igualdade de gênero.
No Brasil, mesmo em contexto democrático, continuamos lutando para que as mulheres sejam tratadas de forma igualitária e isonômica em todos os ambientes, em todas as dimensões do cotidiano.
E essa luta é árdua, nós sabemos. Mas para que ela continue e para que as conquistas avancem, nós necessitamos do Estado de Direito e da plenitude democrática das instituições.
É por isso que, neste contexto, nós, feministas, decidimos nos manifestar contra a possibilidade de um golpe de Estado no Brasil.
Um golpe que, diferente do último que o Brasil experimentou, não será protagonizado pelas Forças Armadas.
Um golpe que consiste na ruptura com as práticas democráticas e com a ordem constitucional.
Articulado por elites políticas e econômicas dispostas a ilegitimamente criar condições para a instabilidade unicamente para, em seguida, recompor uma estabilidade que lhes convém.
Querem forçar a saída, à revelia da lei, da Presidenta Dilma de seu cargo, conquistado legitimamente por duas vezes por meio de eleições democráticas, salvo comprovação de crime comum ou de responsabilidade. Somente pelo voto deve se dar a alternância de poder.
Nosso posicionamento contra o golpe não significa apoio incondicional ao Partido dos Trabalhadores ou à gestão da Presidenta.
Os rumos da política conduzidos pela atual administração muitas vezes negligenciaram os nossos direitos bem como os de outros grupos sociais historicamente vulnerabilizados: negros e negras, população indígena, pessoas LGBTs, dentre outros.
Contudo, entendemos que o retrocesso contido na possibilidade de ascensão do projeto conservador, constitui um grave risco e fragiliza as conquistas dos últimos anos, especialmente aquelas que beneficiam as camadas populares na qual recaem as obrigações e os deveres sociais: as mulheres negras e de baixa renda.
São conquistas como o Bolsa Família, do qual mulheres são 93% dos titulares do cartão. Como as cotas, o PROUNI e o FIES, que não só aumentaram o números de pobres e negros nas universidades, como o números de mulheres.
Como a Lei Maria da Penha, sancionada pelo ex-presidente Lula em 2007 e considerada um exemplo internacional de legislação de combate à Violência contra a Mulher pela ONU.
Como a PEC das domésticas, que assegurou direitos trabalhistas para as trabalhadoras domésticas, já que o trabalho doméstico é majoritariamente feminino, e negro, no Brasil.
Conquistas como o programa Minha Casa Minha Vida, que prioriza mulheres como titulares e tem 94% de mulheres entre os beneficiários das residências para baixa renda.
Alertamos que, em contextos de crise econômica mundial, a História nos mostra que não é novidade o avanço da extrema direita na arena política. O Brasil não é exceção.
O réu Eduardo Cunha e o deputado Bolsonaro, dentre outros seguidores da cartilha ultraconservadora, tem como plataforma política o ataque aos direitos coletivos e às liberdades individuais, mas, principalmente, o ataque à vida das mulheres.
Cunha, inclusive, já se articula para aprovar lei que dificulta o aborto até em casos de estupro, algo que já é permitido pelo Código Penal brasileiro desde 1984.
Finalmente, há que se pensar que no plano simbólico seria lamentável que a primeira mulher eleita presidenta no Brasil fosse derrubada injustamente por homens que são, comprovadamente, corruptos.
São 54,5 milhões de votos em um país de maioria de mulheres, negros e pobres. E é por elas e por eles que defendemos que essa escolha seja mantida.
Queremos que a jovem democracia brasileira sobreviva e possa amadurecer. Porque ela é condição fundamental para que possamos avançar nas políticas de igualdade de gênero no país.
#MulheresComDilma
#FeministaspelaDemocracia
# NãovaiterGolpe

Escrito por Stephanie Ribeiro, Manoela Miklos, Mara Coradelo, Antonia Pellegrino

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Marcos Imperial

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