"Além de não ter nomeado nenhuma mulher, nem representante da
população negra do país, o "novo governo" é recheado de investigados
pela Justiça e até mesmo condenados por crimes como improbidade administrativa
e desvio de recursos públicos. Com base na Lei da Ficha Limpa, Temer também foi
considerado inelegível pelos próximos oito anos, por decisão da Procuradoria
Eleitoral de São Paulo, por doação de campanha acima do limite legal",
afirma William de Lucca, em texto para a Rede Brasil Atual; confira a íntegra.
William De Lucca, para a Rede Brasil Atual - O
presidente interino, Michel Temer (PMDB), anunciou, pouco depois de ser
empossado no cargo, seu ministério. Além de não ter nomeado nenhuma mulher, nem
representante da população negra do país, o "novo governo" é recheado
de investigados pela Justiça e até mesmo condenados por crimes como improbidade
administrativa e desvio de recursos públicos.
Com
base na Lei da Ficha Limpa, Temer também foi considerado inelegível pelos
próximos oito anos, por decisão da Procuradoria Eleitoral de São Paulo, por
doação de campanha acima do limite legal. Apesar de poder assumir a
Presidência, eventuais candidaturas futuras podem ser questionadas.
Um
dos nomes mais conhecidos do ministério, o senador José Serra (PSDB) deixa
novamente um posto para o qual foi eleito e assume o Ministério das Relações
Exteriores. O tucano tem uma extensa ficha de acusações, e a mais recente tem a
ver com a formação de cartel e o superfaturamento de obras e licitações no
Metrô de São Paulo, que teria acontecido entre 1998 e 2008, período que
coincidiu com o mandato de Serra como governador (2007 a 2010).
Nesta
semana, o STF recebeu uma investigação por improbidade administrativa contra
Serra e contra o também ministro de Temer, Gilberto Kassab (PSD), sobre o
período no qual foram prefeitos de São Paulo. Kassab assume a pasta da Ciência
e Tecnologia e já havia sido condenado por improbidade e perdido os direitos
políticos em 2014, mas recorreu da decisão.
Indicado
para uma das pastas mais importantes do ‘governo’, o deputado federal Ricardo
Barros (PP) assume o Ministério da Saúde depois de ser denunciado por
irregularidades em sua passagem como secretário da Indústria e Comércio do
Paraná. É acusado de tentar fraudar uma licitação de publicidade em Maringá,
interior do estado.
Outra
pasta importante, a Educação, ficou com o pernambucano Mendonça Filho (DEM),
que aparece na Operação Castelo de Areia, como suspeito de ter recebido R$ 100
mil da construtora Camargo Correia de forma irregular. Seu partido, o
Democratas, foi o autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo
Tribunal Federal que propunha o fim do ProUni, uma das importantes políticas
públicas dos governos Lula e Dilma na área da Educação.
O
novo ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, deputado federal
Maurício Quintella (PR) foi condenado por participação em esquema de desvio de
dinheiro destinado ao pagamento de merenda escolar em Alagoas, quando era
secretário de Educação do Estado.
O
deputado federal suplente Raul Jungmann (PPS), que assume como ministro da
Defesa, teve problemas com a Justiça quando foi ministro de FHC, acusado pelo
Ministério Público Federal (MPF) de participar de um esquema de desvio de
recursos públicos do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária).
Outro
pernambucano, o deputado Bruno Araújo (PSDB) vai ocupar o Ministério das
Cidades. Teve seu nome citado na Operação Lava Jato e teria recebido dinheiro
de caixa 2 da Odebrecht.
O
ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV), é um dos investigados pelo
Ministério Público por usar passagens áreas para voar ao exterior com a
família. Para o MP, esse e outros casos indicam “sérias irregularidades
cometidas na emissão de passagens aéreas pagas com recursos da Câmara dos
Deputados”.
PMDB
denunciado
O
ex-ministro do governo Lula e novo secretário de Governo de Temer, Geddel
Vieira Lima (PMDB), é citado na Operação Lava Jato sob suspeita de ter
negociado propina com uma empreiteira. Ex-presidente da Câmara dos Deputados,
Henrique Eduardo Alves (PMDB), também foi ministro em gestões petistas e é alvo
da mesma operação.
Companheiro
de partido de Geddel e Alves, o presidente do PMDB, Romero Jucá está na mira
das operações Lava Jato e Zelotes. Ele, que foi líder dos governos FHC, Lula e
Dilma no Congresso, é acusado de receber propina e integrar um esquema de caixa
2.
O
ministro do Esporte, Leonardo Picciani (PMDB), foi denunciado pela Procuradoria
Regional Eleitoral (PRE) do Rio de Janeiro, junto com outros sete deputados,
por fazerem material gráfico da campanha de 2014 “por fora” do que consta das
notas fiscais, segundo os procuradores, caracterizando caixa 2.
Indicado
para o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PMDB)
foi investigado por suposta lavagem de dinheiro e corrupção. A apuração foi
iniciada a partir de denúncia de que uma instituição financeira atuava sem
autorização do Banco Central e servia de fachada para a lavagem. A acusação foi
arquivada pelo STF neste mês, por considerar que não havia “indícios
suficientes” de crime.
O
deputado Eliseu Padilha (PMDB), novo ministro-chefe da Casa Civil, foi acusado
de fraude no pagamento de dívidas judiciais do Dnit (Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes) quando era ministro dos Transportes do governo
FHC. No escândalo, advogados e procuradores foram acusados de furar a fila das
indenizações e elevar os valores devidos pela União.
Escolhas
polêmicas
Mesmo
sem denúncias contra si, a escolha do general Sérgio Etchegoyen como
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional é polêmica. Ele acusou de
“leviano” o relatório da Comissão Nacional da Verdade que incluiu seu pai, o
também general Leo Guedes Etchegoyen, na lista de 377 responsáveis por
torturas, assassinatos e desaparecimentos de presos políticos e ocultação de
cadáveres durante a ditadura militar.
O
ministro da Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, conhecido por defender a
repressão aos movimentos sociais quando secretário de Segurança do Estado de
São Paulo, defendeu uma empresa de transportes ligada à organização criminosa
PCC em mais de 100 ações, e ainda defendeu Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente
da Câmara dos Deputados, em uma ação sobre uso de documento falso em que conseguiu
a absolvição do peemedebista.
Ligado
à Igreja Universal e presidente nacional do PRB, o Pastor Marcos Pereira foi
indicado como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio após ter seu
nome rejeitado para o Ministério da Ciência e Tecnologia. Sua indicação foi
duramente criticada pela comunidade acadêmica, especialmente depois de ter dito
que o evolucionismo seria uma “opinião a ser respeitada”.
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