Imagine um palco. Você está no centro, sozinho, iluminado por um facho de luz. Todos os olhos estão voltados para você. Até que, de repente, pessoas vão surgindo em cena e outras luzes começam a iluminar cada uma delas. Você se sente inseguro, se dá conta de que os olhares do público não são só seus. Percebe que tem gente mais bonita, mais envolvente que você. Das duas, uma: ou você sai de cena, ou fica, e encara o espetáculo. Você resolve ficar e se sobressair, mas na dúvida não sabe se apaga as luzes dos outros ou se encontra uma maneira de fazer brilhar a sua própria luz. Eu não sei você, mas a grande maioria opta pela primeira opção.
A verdade é que a vida sempre foi um espetáculo. Ainda que, algumas vezes, não seja lá um grande espetáculo viver, a vida moderna mascara a mesmice e transforma a rotina numa suntuosa produção hollywoodiana. A realidade maquiada em alta definição esconde o cansaço das vidas monótonas, das eternas prestações, da falta de amor, de tempo, de dinheiro, de algo ou alguém que, por um milagre, faça encher o poço fundo dos desejos.
É tanta amargura que dá até pena. Ninguém quer admitir fraqueza, demonstrar pobreza, nem assumir a normalidade. As pessoas precisam sentir que são extraordinárias, e, para isso, preferem mostrar a feiura do outro do que ressaltar a própria beleza. Como o macaco, que esconde o rabo, e ri do rabo do outro. Apagar as luzes é mais fácil do que fazer brilhar a própria luz.
As pessoas estão cada dia mais competitivas, concorrendo incessantemente umas com as outras, disputando postos ilusórios e fugazes de quem é o mais bonito, o mais inteligente, rico, influente. Como se o mundo fosse um palco de apenas um artista, a última mesa de um único restaurante, um trono a ser disputado por um rei. Como se não houvesse diversidade, como se existisse uma regra de padronização de ser. Elas têm uma necessidade absurda em ser a número um em tudo. É uma disputa de poderes onde, muitas vocês, guerreiam com elas mesmas.
Por que precisam apagar a luz do outro para que possam brilhar? É como se não tivessem capacidade de se sobressaírem com suas próprias qualidades e feitos. Se julgam incapazes de alcançar o que quer que seja pelo seu merecimento, e por isso, precisam de subterfúgios para se destacarem denegrindo o seu “concorrente”.
Tem gente que só consegue ser feliz quando o outro está triste, ainda que diga o quanto torce pela felicidade e sucesso vizinho. Tudo mentira. Bom, talvez nem mesmo consiga controlar esse ímpeto de se sobressair diante do infortúnio alheio, talvez nem mesmo tenha se dado conta do quando torce contra ao invés de a favor. Pior ainda. Talvez tenha essa noção e faça, propositalmente, com que a estrela do outro se apague para que a sua possa brilhar. Tem gente que é assim mesmo.
E nós? Nós continuamos no espetáculo, improvisando a cena, soltando o riso, segurando o choro. Sem pensar no público, sem esperar aplausos.
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Marcos Imperial