Os psicanalistas falam do território do indizível.
Há muito dele no momento.
Ainda assim, é preciso buscar o recurso da palavra.
Ela deve ser, talvez a única neste instante, deve ser a faca
amolada a denunciar o crime contra dona Marisa Letícia, a serena,
extraordinária companheira de Lula.
Quiseram matar Lula - se não podiam fazê-lo com um tiro, com uma
faca, queriam, e querem, destruir tudo que ele construiu, todas as políticas
reveladoras de seu amor profundo pelo povo, queriam, e querem, destruir toda a
simbologia da ascensão de um trabalhador ao posto máximo do País, depois de
termos vivido quinhentos anos governados por homens das classes dominantes,
mesmo que entre eles, raros, tenham existido dois ou três preocupados com o
povo.
Lula, único.
Ele era, e é, o alvo.
Acertaram dona Marisa.
Seu estado se agravou nas últimas horas.
Não suportou o massacre contra seu companheiro, seu marido, seu
amor.
Não suportou a devassa contra ela própria, sua casa, sua vida, os
filhos nascidos de suas entranhas, a devassa de territórios para ela sagrados.
Que mãe, que mulher suportaria?
Eu não sei rezar.
Não sou homem de fé.
Sou da esperança.
Meu coração pede que ela se recupere.
Chora, pedindo.
Mas, minha alma não pode deixar de proclamar que os adversários de
Lula são os algozes de dona Marisa, os que a levaram ao estado de saúde em que
se encontra, os mesmos que fizeram a escravidão, que fizeram a República Velha,
que fizeram a ditadura de 1964, o latifúndio, as cidades empobrecidas, são os
que deram o golpe de 2016, os que nunca se conformaram com a ascensão de uma
família Silva nordestina à presidência da República.
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Marcos Imperial