quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Temer ignora violência e caos no Espírito Santo

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
Beto Barata / Tânia Rego
O que ocorre há seis dias nas ruas das cidades do Espírito Santo é o retrato fiel do vale-tudo em que se transformou o Brasil.
Policiais militares resolveram desafiar a lei, que proíbe suas greves e instruíram suas famílias para obstruírem a saída das viaturas dos quartéis como forma de pressionar por aumento de salários.
É um reflexo preciso da política econômica do governo Temer, que adotou como diretriz a contenção de despesas para tirar o país da crise.
No momento em que a ausência dos policiais das ruas começou a provocar uma onda de crimes sem precedentes de toda espécie, as autoridades estaduais deveriam ter agido com pulso firme, ou seja, deveriam ter retirado as mulheres dos policiais da frente dos quartéis.
No entanto, não o fizeram. Pediram ajuda ao governo federal, o que não seria nem necessário se o presidente do Brasil, Michel Temer assistisse aos telejornais.
Enquanto assaltos, saques e assassinatos manchavam as ruas do Espírito Santo de medo, violência e sangue, Temer estava alheio à tragédia, criando um ministério para Moreira Franco, preocupado com a indicação do novo ministro do STF ou recepcionando o presidente da Argentina.
Cabia a ele, se fosse o presidente do país de fato tomar providências imediatas para proteger os cidadãos brasileiros, acionar os ministérios responsáveis e, inclusive, viajar ao Espírito Santo, para mostrar que a autoridade máxima da nação está atenta aos acontecimentos e empenhada em restabelecer a ordem.
Temer não saiu do seu gabinete, mostrando mais uma vez que não tem vocação para o cargo para o qual foi empurrado pelos acontecimentos. Ele sempre foi, é e será o homem dos conchavos, o presidente do PMDB e não do Brasil. Dilma estava certa em mantê-lo como vice decorativo.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que se mostrou tão ativo encenando a erradicação da maconha no Paraguai também se omitiu, optando por comemorar a sua indicação ao STF e conchavar os senadores para cabalar votos e saiu de licença, em vez de cumprir sua missão.
As omissões, estadual e federal, acarretaram dezenas de mortes, paralisação do comércio, dos transportes, das escolas, um verdadeiro festival macabro de incompetência e de irresponsabilidade.
Quando, finalmente, foram enviadas tropas militares ao estado elas foram instruídas a vigiar terminais de ônibus em vez de serem incumbidas da tarefa mais urgente: tirar as mulheres dos policiais da frente dos quartéis, nem que seja à força, para estancar a sangria nas ruas do Espírito Santo.
Os telespectadores de todo o Brasil assistem, impotentes e chocados, todas as noites, cenas de estarrecer que reviram seus estômagos na hora do jantar.

Temer, no entanto, ou não assiste nem ao Jornal Nacional ou não se comove e acha que não é com ele.

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Marcos Imperial

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