Do jornalista e escritor Paulo Moreira Leite é diretor do 247 em Brasília.
O esforço de Michel Temer e seus
aliados para impedir o avanço do julgamento no TSE se explica por um cálculo
evidente. Em posição insustentável, a cassação dos direitos políticos de Temer
abre o debate sobre a escolha do novo presidente, aquele que irá governar o
país até 2018.
Em condições normais, não haveria
o que discutir fora da regra constitucional, que determina a escolha pelo
Congresso, em voto indireto, no prazo de 90 dias.
Mas o país não vive um período de
normalidade desde o afastamento de Dilma sem crime de responsabilidade
configurado. Desde o 15 de março de
2017, os brasileiros e brasileiras demonstraram, na rua, que estão mobilizados
para defender seus direitos.
Apresenta-se, então, a situação
que os aliados de Temer temem, mas que a população deseja com clareza e
simplicidade: a brecha política que pode abrir caminho para um movimento por
diretas agora, contra um golpe dentro do
golpe.
É esta a possibilidade aberta pelo
julgamento no TSE.
Caso o julgamento determine o
afastamento de Temer, será o início do desmonte da articulação que produziu o
golpe parlamentar e, sem consultar ninguém a não ser seus próprios patrões
ideológicos, deu início a uma ofensiva contra direitos e conquistas que a
maioria condena sem rodeios.
A coalizão golpista, que já
perdeu vários alicerces desde a posse, estará esfrangalhada -- antes que o novo
presidente venha ser escolhido.
Cientes do risco a ser enfrentado
quando o povo se coloca na rua -- é bom não esquecer da greve geral marcada
para 28 de abril, numa mobilização que está longe dos protestos importantes,
mas sem maiores consequências políticas, de nosso passado -- os aliados de
Temer tudo farão para embaralhar o julgamento, atrasar uma decisão e ganhar
tempo. O esforço será concentrado nos pedidos de vista, destinados a fugir da
discussão e evitar um debate sobre o mérito das denúncias contra Temer.
É sua maior esperança -- mesmo
assim, um esforço precário, que irá corroer a credibilidade que Temer ainda
desfruta junto a seus aliados mais fiéis, socialmente insignificantes, mas
poderosos do ponto de vista econômico e político.
A manobra infantil de tentar
separar a chapa, iniciativa escabrosa, quando se recorda a jurisprudência
firmada em casos semelhantes, confirmada na ação que pediu a impugnação da
chapa Dilma-Temer em dezembro de 2014 e a posse de Aécio Neves, perde
credibilidade mesmo entre aliados do governo na mídia amiga.
Compreende-se.
Depois de denunciar "doações
feitas em decorrência de benesses ou de abstenção de criar entraves por parte
dos agentes da empresa estatal," o advogado do PSDB, Eduardo Alckmin,
escreveu que a "eleição presidencial de 2014, das mais acirradas de todos
os tempos, revelou-se manchada de forma indelével pelo abuso de poder, tanto
político quanto econômico, praticado em proveito de Dilma e Michel." Está
lá, para não haver dúvidas -- que também foram dissipadas pelos depoimentos e
delações recentes.
A mesma corte que encaminha a
convicção para condenar Dilma -- como se todos as acusações estivessem
comprovadas acima de qualquer dúvida -- não pode alterar suas convicções e
mudar de caminho no caso de Temer. Recorde seletivo, nem o mensalão PSDB-MG
chegou a tamanho disparate.
Apenas profissionais
cotidianamente empenhados em procurar opções favoráveis a Temer conseguem
cogitar uma acrobacia especial. Ser cassado no TSE, preservar os direitos
políticos -- como aconteceu com Dilma no Senado -- e ele poderia ser eleito
como presidente pelo Congresso. Fácil de imaginar, difícil de fazer -- em
qualquer circunstância. Ainda mais com o povo na rua e reprovação recorde.
Imagine o que iria acontecer no país.
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Marcos Imperial