POR JEFERSON MIOLA Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
Lula é a única
saída por dentro do sistema político e partidário vigente. O ex-presidente é o
único personagem do sistema em condições de oferecer uma agenda de reconstrução
do Brasil depois da destruição aterradora promovida pelo golpe.
Dificilmente
outro candidato ou candidata à eleição presidencial – seja num pleito
antecipado pela queda do Temer, seja no calendário de 2018, se a eleição não
for cancelada pelos golpistas – terá a mesma legitimidade popular e a
autoridade moral do Lula para pacificar o país em torno a um projeto de
reconstrução nacional e de restauração democrática.
Lula é um mito
vivo. A transposição das águas do São Francisco freqüenta o imaginário do povo
nordestino como um acontecimento de significado bíblico. Pode-se concordar ou
discordar com esta analogia popular, mas a verdade é que somente alguém da
estatura histórica dele tem o poder de produzir tal associação simbólica na
subjetividade do seu povo.
Em todas as
pesquisas de todos os institutos Lula é apontado com maiores chances de vencer
a eleição. A cada nova pesquisa, esta tendência inclusive aparece mais forte.
Os índices dele disparam na medida direta da desmoralização e deslegitimação do
bloco golpista e da cleptocracia que assaltou o poder.
Lula pertence ao
Partido mais preferido na sociedade, a despeito da estigmatização jurídico-midiática
da qual é o PT é vítima. O desejo de “exterminar a raça dos petistas” e de
liquidar com o PT não só não se efetivou, como parece ter se voltado contra a
oligarquia fascista.
O PT tem 15% da
preferência das pessoas pesquisadas. Esta preferência, que até recentemente era
de quase 30%, diminuiu com a crise de todo sistema político, mas mesmo assim o
PT continua sendo, de longe, o Partido preferido. Marcos Coimbra, do Vox
Populi, explica que os 15% “significam uma coisa simples: que algo como 22
milhões de pessoas [eleitores] identificam-se com o partido; significa que há
milhões de petistas distribuídos em todas as faixas e regiões brasileiras,
apesar da campanha arrasadora e cotidiana que o partido sofre”.
Depois do PT
aparece o PSDB, com 5%; seguido pelo PMDB, com 2%. Ou seja, o PT detém, na
média do país, mais que o dobro das preferências somadas dos partidos pilares
do bloco golpista, sendo 3 vezes mais preferido que o PSDB e 7 vezes mais que o
PMDB.
Não é disparate
prognosticar o crescimento, na próxima eleição, das bancadas de deputados e
senadores, bem como do número de governadores eleitos pelo PT e pela esquerda,
catapultados pela candidatura Lula. O contexto da eleição geral será muito
distinto daquele da municipal de 2014, a começar pela presença do Lula na urna
eletrônica e pela centralidade do debate sobre a reconstrução econômica, o
resgate de direitos e a restauração democrática.
Em vista destes
dilemas, a oligarquia testa novas e velhas estratégias. Uma delas seria a
condenação arbitrária do Lula e a implosão da sua candidatura. O arbítrio,
todavia, poderá deflagrar um enfrentamento violento, de proporção imponderável.
A simpatia, o encanto e a empolgação das classes médias com o golpe e com a
seletividade da Lava Jato diminuiu muito.
Outra
alternativa seria o cancelamento da eleição de 2018 para evitar a vitória do
Lula, evento que significaria o encerramento do golpe e o fim do regime de
exceção. Com este novo golpe, a oligarquia arrisca gerar conflitos sociais de
enorme magnitude.
A terceira
alternativa, que está sendo testada, é a fabricação de um candidato por fora do
sistema político e partidário convencional; um candidato competitivo para
duelar com Lula. A inviabilidade do Aécio, Alckmin e de outros candidatos da
direita não deriva somente do baixo potencial eleitoral e da identificação
deles com os retrocessos do golpe, mas, também, da revelação do envolvimento
deles em esquemas monumentais de corrupção.
O prefeito
paulistano João Dória, do PSDB, é o corpo que veste o disfarce do
“anti-sistema”, de um outsider. Ele faz uma manipulação explícita da própria
condição de político tradicional para, assim, simular a imagem de gestor, de
alguém de fora da política, de uma pessoa feita por si mesmo; um batalhador, um
empreendedor.
Esta empulhação,
porém, também tem seus limites. A construção da imagem deste candidato a
Berlusconi brasileiro foi financiada por anúncios publicitários da alta
burguesia paulista e por generosas verbas públicas dos governos tucanos. Dória
não é um anti-político, é o pior dos políticos; é um fascista que faz do
combate à política e à corrupção um instrumento de poder e de dominação da
oligarquia.
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Marcos Imperial