Por Emir Sader um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros.
O fim da ditadura foi possível quando a grande maioria do povo se
convenceu que a ditadura tinha levado o Brasil a um beco sem saída. Nao havia
democracia e nem sequer crescimento econômico. A campanha das direitas teve
força suficiente para gerar esse consenso, embora não suficiente para aprovar a
emenda das diretas no Congresso.
O fracasso do governo Sarney
esgotou o impulso democrático gerado na resistência contra a ditadura e abriu
espaço para outros consensos. Collor e FHC representaram a vitória do consenso
contra o Estado, responsabilizado por eles pela crise econômica e abriram no
Brasil a era neoliberal.
Quando o governo FHC se esgotou,
nem conseguiu controlar de vez a inflação, nem retomar o crescimento econômico
e, ao contrário, intensificando a desigualdade e a exclusão social, o tema
social foi projetado como o maior consenso nacional. Lula soube encarnar essa
prioridade e os governos do PT reduziram, como nunca na história do Brasil, a
pobreza e a miséria, a desigualdade e a exclusão social.
A direita conseguiu romper esse
consenso, promovendo o de que o país padeceria essencialmente de corrupção e
que a situação econômica teria desembocado num fracasso, devido ao uso
excessivo do Estado e dos gastos públicos por parte dos governos do PT. A democracia
política, o papel positivo do Estado, as políticas de distribuição de renda,
foram desaparecendo da agenda pública, substituídas pelas denúncias de
corrupção do PT e do seu uso do Estado, pelas visões do suposto fracasso
econômico das políticas dos governos petistas.
O pacote de medidas antipopulares
do governo Temer representou, ao mesmo tempo, o deslocamento da agenda nacional
para o tema da contraposição entre o que esse governo representa para o país e
para o povo e o que o governo Lula representou. Daí o ínfimo apoio que esse
governo tem e a subida irresistível do apoio ao Lula.
Simultaneamente, as novas
denúncias sobre corrupção de MT provocam sua iminente queda e colocam a questão
da sua sucessão. Volta com força o apelo às eleições diretas, enquanto a
direita busca, sofregamente, uma alternativa viável institucional e
politicamente dentro do golpe.
A força da esquerda virá da
capacidade de associar o caráter antipopular do governo golpista a seu caráter
corrupto, associando a luta pelas eleições diretas tanto à necessidade de
recuperação de um governo legítimo, quanto de um governo com sensibilidade para
resgatar o crescimento econômico junto com o respeito aos direitos da
população. A luta pela democracia tem que se articular com a luta pela recuperação
econômica do país, pelo resguardo dos interesses do povo, pela retomada da
redistribuição de renda.
O retorno da democracia será
possível quando a massa da população sair de novo às ruas pedindo não apenas
pelo direito de eleger o presidente, mas também pelo fim do pacote retrogrado
do governo e por medidas de emergência que superem a crise na perspectiva da
extensão dos direitos da cidadania. Quando sentir que o golpe significa fome,
desemprego, recessão.a
A oposição democrática está
conseguindo reduzir o governo à passividade. Qualquer movimento seu é pior para
ele. Abandonou a votação do pacote de projetos no Congresso, só se defende, tem
o tempo de vida daquele necessário para a definição do seu sucessor. É preciso
manter o cerco sobre o governo e o Congresso, impedindo que este, agora ou
depois que inventem outro presidente, tente retomar as medidas regressivas que
iam votar.
As forças democráticas recuperam a
iniciativa, as diretas-já são seu objetivo, assim como derrotar as tentativas
de repressão a Lula. Ao Fora Temer se somam o Diretas-Já e o Lula-lá.
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Marcos Imperial