sexta-feira, 2 de junho de 2017

REBU NA DIPLOMACIA: TEMER RENEGA DOCUMENTO OFICIAL E DIPLOMATAS PEDEM DIRETAS

Por Tereza Cruvinel colonista do 274 é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País.

Até a política externa e a diplomacia ingressaram ontem na crise política interna.  O documento oficial criticando a “falta de estratégia” na política externa foi bombardeado por críticas e renegado pelo próprio governo, enquanto diplomatas lançavam manifesto defendendo a retomada do diálogo, do pacto democrático e das eleições no pais.

O manifesto, subscrito inicialmente por 115 diplomatas, externa preocupação com os 'prejuízos que a persistência da instabilidade política traz aos interesses nacionais de longo prazo', e conclama as forças políticas do pais a restabelecerem o diálogo e o pacto democrático, em busca de um novo ciclo de desenvolvimento, “legitimado pelo voto popular e em consonância com os ideais de justiça socioambiental e de respeito aos direitos humanos.” O documento continuava circulando ontem à noite por embaixadas e consulados mundo afora, aberto a novas subscrições.

À noite, após uma  torrente de criticas demolidoras, o Planalto divulgou nota negando paternidade governamental ao documento  “Brasil, “Brasil, um país em busca de uma grande estratégia”, assinado pelo por Hussein Kalout, Secretário de Assuntos Estratégicos, e por  seu adjunto, Marcos Degaut.  Segundo a nota, o texto “não reflete princípios, posições ou prioridades da política externa do governo do presidente Michel Temer. Tampouco orienta ou subsidia sua ação diplomática. O governo reitera que se trata de produção de cunho estritamente acadêmico e pessoal, tal como mencionado na apresentação do estudo.”

O documento, entretanto, é assinado por autoridades governamentais  e o texto é precedido da apresentação de um ministro de Estado, Moreira Franco, titular da Secretaria Geral da Presidência da República.  Nele os autores afirmam que ao Brasil, nos governos Lula e Dilma e também no atual, uma estratégia coerente de inserção internacional, como se toda a atuação internacional brasileira tivesse sido errática e improvisada.

A reação mais contundente veio do ex-chanceler Celso Amorim, que ficou no cargo por oito anos, ao longo do governo Lula, período em que o Brasil conseguiu uma indiscutível e inédita projeção no cenário internacional, que lhe valeu até mesmo o epíteto de “melhor chanceler do mundo”. Pode-se discordar da estratégia, disse Amorim à Folha de São Paulo, mas dizer que ela não existiu revela má fé ou ignorância. Em sua gestão o Brasil tornou-se um “player” importante no multilateralismo global e teve papel ativo na construção de novas instituições, como o G-20 comercial. Ele recordou também que os BRICS nasceram do interesse de Rússia e da China pelo IBAS, o grupo formado por India, Brasil e África do Sul, com decidido empenho do Brasil. E recordou que, pela primeira vez, num mesmo período, o Brasil conseguiu emplacar os dirigentes de dois organismos importantes como a OMC (Roberto Azevedo) e a FAO (Jose Graziano).  As críticas ao documento partiram também de diplomatas e estudiosos de relações internacionais.  O atual chanceler, Aloysio Nunes Ferreira, classificou-o como “bobagem”.  

Leia a íntegra do manifesto dos diplomatas:

DIPLOMACIA E DEMOCRACIA

Nós, servidoras e servidores do Ministério das Relações Exteriores, decidimos nos manifestar publicamente em razão do acirramento da crise social, política e institucional que assola o Brasil. Preocupados com seus impactos sobre o futuro do país e reconhecendo a política como o meio adequado para o tratamento das grandes questões nacionais, fazemos um chamado pela reafirmação dos princípios democráticos e republicanos. 

2. Ciosos de nossas responsabilidades e obrigações como integrantes de carreiras de Estado e como cidadãs e cidadãos, não podemos ignorar os prejuízos que a persistência da instabilidade política traz aos interesses nacionais de longo prazo. Nesse contexto, defendemos a retomada do diálogo e de consensos mínimos na sociedade brasileira, fundamentais para a superação do impasse.
3. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a consolidação do estado democrático de direito permitiu significativas conquistas, com reflexos inequívocos na inserção internacional do Brasil. Atualmente, contudo, esses avanços estão ameaçados. Diante do agravamento da crise, consideramos fundamental que as forças políticas do país, organizadas em partidos ou não, exercitem o diálogo, que deve considerar concepções dissonantes e refletir a diversidade de interesses da população brasileira.

4. Para que esse diálogo possa florescer, todos os setores da sociedade devem ter assegurado seu direito à expressão. Nesse sentido, rejeitamos qualquer restrição ao livre exercício do direito de manifestação pacífica e democrática. Repudiamos o uso da força para reprimir ou inibir manifestações. Cabe ao Estado garantir a segurança dos manifestantes, assim como a integridade do patrimônio público, levando em consideração a proporcionalidade no emprego de forças policiais e o respeito aos direitos e garantias constitucionais.

5. Conclamamos a sociedade brasileira, em especial suas lideranças, a renovar o compromisso com o diálogo construtivo e responsável, apelando a todos para que abram mão de tentações autoritárias, conveniências e apegos pessoais ou partidários em prol do restabelecimento do pacto democrático no país. Somente assim será possível a retomada de um novo ciclo de desenvolvimento, legitimado pelo voto popular e em consonância com os ideais de justiça socioambiental e de respeito aos direitos humanos.

SIGNATÁRIAS/OS:
Adriana Telles Ribeiro
Adriano Botelho
Alexey Van der Broocke
Alfonso Lages Besada
Álvaro Alberto de Sá Fagundes
Alvaro Augusto Guedes Galvani
Amintas Angel Cardoso Santos Silva
Ana Claudia Milhomem Freitas Figueira Neves
André Pinto Pacheco
André Souza Machado Cortez
Andréia Cristina Nogueira Rigueira
Antonio Cottas de Jesus Freitas
Bianca Xavier de Abreu
Bruno d'Abreu e Souza
Bruno de Toledo de Almeida
Bruno Rizzi Razente
Candice Sakamoto Souza Vianna
Carlos Augusto Carvalho Dias
Carlos Henrique Pissardo
Carlos Kessel
Carlos Sousa de Jesus Junior
Catarina da Mota Brandão de Araújo
Celeste Cristina Machado Badaró
Celia del Bubba
Chateaubriand Chapot Xavier Bezerra Neto
Claudia Assaf Bastos Rebello
Cláudia Maria de Liz Köche
Claudio Roberto Herzfeld de Castro
Cristiano José de Carvalho Rabelo
Daniel Machado da Fonseca
Davi de Oliveira Paiva Bonavides
Delma Nogueira da Mota
Eden Clabuchar Marting
Érika Vanessa Silva Souza
Ernesto Batista Mané Júnior
Fabianne Corrêa Dias de Jesus
Fabricio Araújo Prado
Felipe Afonso Ortega
Felipe Antunes de Oliveira
Felipe Dutra de Carvalho Heimburger
Felipe Pinchemel Cotrim dos Santos
Fernanda Mansur Tansini
Francisco Figueiredo de Souza
Gabriela Guimarães Gazzinelli
Gianina Müller Pozzebon
Gustavo da Cunha Westmann
Gustavo de Britto Freire Pacheco
Gustavo Meira Carneiro
Hamad Mota Kalaf
Helder Fernandes Dantas
Helen Roberta de Souza da Conceição de Almeida
Helena Lobato da Jornada
Hélio Forjaz Rodrigues Caldas
Hugo Lorenzetti Neto
Ilka Hitomi Joko Veltman
Isabela D’Ávila Vieira
Jackson Luiz Lima Oliveira
João André Silva de Oliveira
João Paulo Marão
José Joaquim Gomes da Costa Filho
José Roberto Rocha Filho
José Vicente Moreira Mello
Juliana Cardoso Benedetti
Julio de Oliveira Silva
Krishna Mendes Monteiro
Lara Lobo Monteiro
Larissa Maria Lima Costa
Laura Berdine Santos Delamonica
Leonardo Augusto Balthar de Souza Santos
Leonardo Carvalho Collares
Ligia Rissato Garofalo
Lilian Cristina Nascimento Pinho
Livia Oliveira Sobota
Luana Alves de Melo
Luis Gustavo Castro Ribeiro Marques
Luis Gustavo de Seixas Buttes
Luiz Fellipe Flores Schmidt
Luiz Guilherme Costa Koury
Luiza Maria de Lima Horta Barbosa
Luzia Cristina Lopes Cattini
Marcelo Almeida Cunha Costa
Marcelo Moraes Caetano
Márcia Fernanda Tavares Weigert
Márcio Gustavo Medeiros Barbosa
Marco Sparano
Marcus Vinicius Moreira Marinho
Maria Carolina Gomes de Azeredo Souza
Maria Clara Tavares Cerqueira
Maria das Dores da Silva Lima Filha
Maria Lima Kallás
Maria Luiza de França Coelho de Souza
Mariana Flores da Cunha Bierrenbach Benevides
Mariana Lobato Benvenuti
Mario Augusto Morato Pinto de Almeida
Marizete Gouveia Damasceno Scott
Mateus Cacique Moraes
Mateus Drumond Caiado
Matheus Machado de Carvalho
Maurício Martins do Carmo
Mayra Tiemi Yonashiro Saito
Mozart Grisi Correia Pontes
Nássara Azeredo Souza Thomé
Patricia da Rocha Canuto
Paula Rassi Brasil
Pedro Henrique Bandeira Brancante Machado
Pedro Ivo Ferraz da Silva
Pedro Vieira Veiga
Rafael Caminha de Carvalho Beltrami
Rafael Lourenço Beleboni
Rafael Prince Carneiro
Ramiro dos Santos Breitbach
Raul Torres Branco
Reinaldo Freitas Cortez
Renata Angélica Rossi
Renata Maria Braga Santos
Renata Negrelly Nogueira
Renato José Stancato de Souza
Ricardo Kato de Campos Mendes
Ricardo Martins Rizzo
Roberta Maria Lima Ferreira
Rodrigo Sergio de Medeiros
Rodrigo Ponciano Guedes Bastos dos Santos
Rodrigo Valle da Fonseca
Rômulo Milhomem Freitas Figueira Neves
Rosa Maria de Vassimon Brandão
Rui Santos Rocha Camargo
Sandra Maria Nepomuceno Malta dos Santos
Saulo Arantes Ceolin
Sérgio Carvalho de Toledo Barros
Sydma Aguiar Damasceno
Thiago Carvalho de Medeiros
Thiago Melamed de Menezes
Thomaz Alexandre Mayer Napoleão
Túlio César Mourthé de Alvim Andrae
Vivian Alves Rodrigues da Silva
Viviane Ferreira Lopes Diniz

Wellington Muller Bujokas

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Marcos Imperial

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