Por Tereza Cruvinel colonista do 274 é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País.
Até a política
externa e a diplomacia ingressaram ontem na crise política interna. O
documento oficial criticando a “falta de estratégia” na política externa foi
bombardeado por críticas e renegado pelo próprio governo, enquanto diplomatas
lançavam manifesto defendendo a retomada do diálogo, do pacto democrático e das
eleições no pais.
O manifesto,
subscrito inicialmente por 115 diplomatas, externa preocupação com os
'prejuízos que a persistência da instabilidade política traz aos interesses
nacionais de longo prazo', e conclama as forças políticas do pais a
restabelecerem o diálogo e o pacto democrático, em busca de um novo ciclo de
desenvolvimento, “legitimado pelo voto popular e em consonância com os ideais
de justiça socioambiental e de respeito aos direitos humanos.” O documento
continuava circulando ontem à noite por embaixadas e consulados mundo afora,
aberto a novas subscrições.
À noite, após
uma torrente de criticas demolidoras, o Planalto divulgou nota negando
paternidade governamental ao documento “Brasil, “Brasil, um país em busca
de uma grande estratégia”, assinado pelo por Hussein Kalout, Secretário de
Assuntos Estratégicos, e por seu adjunto, Marcos Degaut. Segundo a
nota, o texto “não reflete princípios, posições ou prioridades da política
externa do governo do presidente Michel Temer. Tampouco orienta ou subsidia sua
ação diplomática. O governo reitera que se trata de produção de cunho
estritamente acadêmico e pessoal, tal como mencionado na apresentação do
estudo.”
O documento,
entretanto, é assinado por autoridades governamentais e o texto é
precedido da apresentação de um ministro de Estado, Moreira Franco, titular da
Secretaria Geral da Presidência da República. Nele os autores afirmam que
ao Brasil, nos governos Lula e Dilma e também no atual, uma estratégia coerente
de inserção internacional, como se toda a atuação internacional brasileira
tivesse sido errática e improvisada.
A reação mais
contundente veio do ex-chanceler Celso Amorim, que ficou no cargo por oito
anos, ao longo do governo Lula, período em que o Brasil conseguiu uma
indiscutível e inédita projeção no cenário internacional, que lhe valeu até
mesmo o epíteto de “melhor chanceler do mundo”. Pode-se discordar da
estratégia, disse Amorim à Folha de São Paulo, mas dizer que ela não existiu
revela má fé ou ignorância. Em sua gestão o Brasil tornou-se um “player”
importante no multilateralismo global e teve papel ativo na construção de novas
instituições, como o G-20 comercial. Ele recordou também que os BRICS nasceram
do interesse de Rússia e da China pelo IBAS, o grupo formado por India, Brasil
e África do Sul, com decidido empenho do Brasil. E recordou que, pela primeira
vez, num mesmo período, o Brasil conseguiu emplacar os dirigentes de dois
organismos importantes como a OMC (Roberto Azevedo) e a FAO (Jose
Graziano). As críticas ao documento partiram também de diplomatas e
estudiosos de relações internacionais. O atual chanceler, Aloysio Nunes
Ferreira, classificou-o como “bobagem”.
Leia a íntegra
do manifesto dos diplomatas:
DIPLOMACIA E DEMOCRACIA
Nós, servidoras e servidores do Ministério das
Relações Exteriores, decidimos nos manifestar publicamente em razão do
acirramento da crise social, política e institucional que assola o Brasil.
Preocupados com seus impactos sobre o futuro do país e reconhecendo a política
como o meio adequado para o tratamento das grandes questões nacionais, fazemos
um chamado pela reafirmação dos princípios democráticos e republicanos.
2. Ciosos de
nossas responsabilidades e obrigações como integrantes de carreiras de Estado e
como cidadãs e cidadãos, não podemos ignorar os prejuízos que a persistência da
instabilidade política traz aos interesses nacionais de longo prazo. Nesse
contexto, defendemos a retomada do diálogo e de consensos mínimos na sociedade
brasileira, fundamentais para a superação do impasse.
3. Desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988, a consolidação do estado
democrático de direito permitiu significativas conquistas, com reflexos
inequívocos na inserção internacional do Brasil. Atualmente, contudo, esses
avanços estão ameaçados. Diante do agravamento da crise, consideramos
fundamental que as forças políticas do país, organizadas em partidos ou não,
exercitem o diálogo, que deve considerar concepções dissonantes e refletir a
diversidade de interesses da população brasileira.
4. Para que
esse diálogo possa florescer, todos os setores da sociedade devem ter assegurado
seu direito à expressão. Nesse sentido, rejeitamos qualquer restrição ao livre
exercício do direito de manifestação pacífica e democrática. Repudiamos o uso
da força para reprimir ou inibir manifestações. Cabe ao Estado garantir a
segurança dos manifestantes, assim como a integridade do patrimônio público,
levando em consideração a proporcionalidade no emprego de forças policiais e o
respeito aos direitos e garantias constitucionais.
5. Conclamamos
a sociedade brasileira, em especial suas lideranças, a renovar o compromisso
com o diálogo construtivo e responsável, apelando a todos para que abram mão de
tentações autoritárias, conveniências e apegos pessoais ou partidários em prol
do restabelecimento do pacto democrático no país. Somente assim será possível a
retomada de um novo ciclo de desenvolvimento, legitimado pelo voto popular e em
consonância com os ideais de justiça socioambiental e de respeito aos direitos
humanos.
SIGNATÁRIAS/OS:
Adriana Telles Ribeiro
Adriano Botelho
Alexey Van der
Broocke
Alfonso Lages Besada
Álvaro Alberto
de Sá Fagundes
Alvaro Augusto
Guedes Galvani
Amintas Angel
Cardoso Santos Silva
Ana
Claudia Milhomem Freitas Figueira Neves
André Pinto
Pacheco
André Souza
Machado Cortez
Andréia Cristina Nogueira Rigueira
Antonio Cottas
de Jesus Freitas
Bianca Xavier
de Abreu
Bruno d'Abreu e
Souza
Bruno de
Toledo de Almeida
Bruno Rizzi Razente
Candice
Sakamoto Souza Vianna
Carlos Augusto
Carvalho Dias
Carlos
Henrique Pissardo
Carlos Kessel
Carlos Sousa
de Jesus Junior
Catarina
da Mota Brandão de Araújo
Celeste
Cristina Machado Badaró
Celia del Bubba
Chateaubriand Chapot Xavier
Bezerra Neto
Claudia Assaf Bastos Rebello
Cláudia Maria
de Liz Köche
Claudio
Roberto Herzfeld de Castro
Cristiano José
de Carvalho Rabelo
Daniel Machado
da Fonseca
Davi de
Oliveira Paiva Bonavides
Delma Nogueira da Mota
Eden Clabuchar Marting
Érika Vanessa
Silva Souza
Ernesto
Batista Mané Júnior
Fabianne Corrêa
Dias de Jesus
Fabricio Araújo
Prado
Felipe Afonso
Ortega
Felipe Antunes de
Oliveira
Felipe Dutra
de Carvalho Heimburger
Felipe Pinchemel Cotrim dos
Santos
Fernanda
Mansur Tansini
Francisco Figueiredo de
Souza
Gabriela Guimarães Gazzinelli
Gianina Müller Pozzebon
Gustavo da
Cunha Westmann
Gustavo
de Britto Freire Pacheco
Gustavo Meira Carneiro
Hamad Mota Kalaf
Helder Fernandes Dantas
Helen Roberta
de Souza da Conceição de Almeida
Helena Lobato
da Jornada
Hélio Forjaz Rodrigues
Caldas
Hugo
Lorenzetti Neto
Ilka Hitomi Joko Veltman
Isabela D’Ávila Vieira
Jackson Luiz
Lima Oliveira
João André Silva
de Oliveira
João
Paulo Marão
José Joaquim
Gomes da Costa Filho
José Roberto
Rocha Filho
José Vicente
Moreira Mello
Juliana
Cardoso Benedetti
Julio de
Oliveira Silva
Krishna Mendes
Monteiro
Lara Lobo
Monteiro
Larissa Maria
Lima Costa
Laura Berdine Santos Delamonica
Leonardo
Augusto Balthar de Souza Santos
Leonardo
Carvalho Collares
Ligia Rissato Garofalo
Lilian
Cristina Nascimento Pinho
Livia
Oliveira Sobota
Luana Alves
de Melo
Luis Gustavo
Castro Ribeiro Marques
Luis Gustavo
de Seixas Buttes
Luiz Fellipe Flores
Schmidt
Luiz Guilherme
Costa Koury
Luiza Maria de
Lima Horta Barbosa
Luzia Cristina
Lopes Cattini
Marcelo
Almeida Cunha Costa
Marcelo Moraes Caetano
Márcia Fernanda
Tavares Weigert
Márcio Gustavo
Medeiros Barbosa
Marco Sparano
Marcus Vinicius Moreira Marinho
Maria Carolina
Gomes de Azeredo Souza
Maria Clara
Tavares Cerqueira
Maria
das Dores da Silva Lima Filha
Maria
Lima Kallás
Maria Luiza
de França Coelho de Souza
Mariana Flores
da Cunha Bierrenbach Benevides
Mariana
Lobato Benvenuti
Mario
Augusto Morato Pinto de Almeida
Marizete Gouveia Damasceno Scott
Mateus
Cacique Moraes
Mateus Drumond Caiado
Matheus
Machado de Carvalho
Maurício Martins
do Carmo
Mayra Tiemi Yonashiro Saito
Mozart Grisi Correia Pontes
Nássara Azeredo Souza Thomé
Patricia da
Rocha Canuto
Paula Rassi Brasil
Pedro
Henrique Bandeira Brancante Machado
Pedro
Ivo Ferraz da Silva
Pedro
Vieira Veiga
Rafael Caminha de
Carvalho Beltrami
Rafael Lourenço Beleboni
Rafael
Prince Carneiro
Ramiro dos
Santos Breitbach
Raul Torres
Branco
Reinaldo
Freitas Cortez
Renata Angélica Rossi
Renata Maria
Braga Santos
Renata Negrelly Nogueira
Renato
José Stancato de Souza
Ricardo Kato
de Campos Mendes
Ricardo
Martins Rizzo
Roberta Maria
Lima Ferreira
Rodrigo Sergio
de Medeiros
Rodrigo Ponciano Guedes
Bastos dos Santos
Rodrigo Valle
da Fonseca
Rômulo Milhomem Freitas Figueira Neves
Rosa Maria
de Vassimon Brandão
Rui Santos
Rocha Camargo
Sandra Maria
Nepomuceno Malta dos Santos
Saulo Arantes Ceolin
Sérgio Carvalho
de Toledo Barros
Sydma Aguiar Damasceno
Thiago
Carvalho de Medeiros
Thiago Melamed de
Menezes
Thomaz Alexandre
Mayer Napoleão
Túlio César Mourthé de Alvim Andrae
Vivian Alves
Rodrigues da Silva
Viviane
Ferreira Lopes Diniz
Wellington
Muller Bujokas
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