
Alex Solnik é
jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor,
Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais
"Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A
guerra do apagão" e "O domador de sonhos".
Os
historiadores do futuro vão ficar na dúvida a respeito de qual epíteto é o mais
adequado para definir Michel Temer.
Mordomo de
filme de terror? Vice decorativo? Traidor? Golpista? Corrupto?
Tomo a
liberdade de sugerir que o chamem de "coveiro da Nova República".
Traidor de Ulysses Guimarães.
Acho que é a
definição mais adequada porque tudo o que ele e o bando que trouxe para o
Planalto fizeram até agora, em um ano de mandato ilegítimo, foi anular o que a
constituição de 1988 introduziu em matéria de direitos civis e econômicos com o
objetivo de diminuir a monumental desigualdade social que vigora no Brasil.
Valendo-se de
uma maioria na Câmara e no Senado que tem o mesmo perfil do governo, composto
por investigados e suspeitos de corrupção, que são protegidos por Temer até
mesmo com a criação de ministérios especiais, como no caso de Moreira Franco.
Eles não
derrubaram a presidente eleita para colocarem o país nos trilhos e sim para
enterrarem a Nova República.
Temer é o
coveiro-mor.
Aqueles que
achavam exagero chamar de golpe o que aconteceu no ano passado, podem constatar
agora que foi golpe, sim, e a prova é que Temer e seus subalternos não fizeram
outra coisa nesses quase 400 dias de governo a não ser mudar a constituição.
Que é a
primeira medida de todos os golpistas quando chegam ao poder.
E mudar para
pior. Para retroceder aos tempos pré-ditadura Vargas.
A
constituição-cidadã está virando uma constituição-cortesã.
Ainda não
está claro o que virá depois da Nova República. O que é certo é que ela está
morta e o estágio atual se assemelha a uma ditadura.
Não é uma
ditadura clássica, civil, como a de Vargas ou militar, como a de 64.
É uma
ditadura nova, fruto dos tempos atuais: a ditadura dos corruptos.
Eles mandam
no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.
Todos
chefiados por Temer.
E não
precisam do aplauso das ruas. Preferem o cheiro dos cavalos.
Tanto é uma
ditadura que o principal movimento de oposição a ela clama por Diretas Já.
Não estamos
mais naqueles tempos românticos da caixinha do Adhemar.
Não estamos
mais no tempo em que o sobrenome de outro corrupto notório deu origem a um novo
verbo: malufar.
Não estamos
mais no tempo de Collor.
Todos
amadores perto dos que agora ocupam os postos-chave da República.
A corrupção
se tornou tão corriqueira nas relações entre políticos e empresários e cresceu
tanto que os corruptos, agora, são maioria.
Agem, agora,
como organização criminosa tipificada na Lei 12.850 promulgada pela presidente
Dilma em 2013, que regulamentou a "colaboração premiada" dos delatores
e a "ação controlada" da Polícia Federal, na qual o próprio Temer
está incurso:
§ 1o
Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Nessa
organização temos um brilhante fabricante de medidas provisórias, chamado
Eduardo Cunha, preso em Curitiba; um carregador de mala milionária, preso em
Brasília, chamado Rodrigo Rocha Loures; um coronel aposentado que recebe 1
milhão por ordem de Temer e paga as reformas das suas filhas; um turista
eventual chamado Henrique Eduardo Alves, também preso; uma "mula" do
ministro Padilha, chamado José Yunes; um resoluto defensor dos interesses
particulares em detrimento dos públicos, Geddel Vieira Lima, prestes a ser
preso. Falta alguma coisa para tipificar uma organização criminosa?
Ah, e todos
comandados por uma pessoa que entra num jato particular sem saber de quem é,
recebe visitas clandestinas no porão do palácio, recomenda manter a compra do
silêncio de um corrupto notório, pede e recebe dinheiro de Marcelo Odebrecht,
concorda em subornar juízes
A noção de
vergonha também se esvaziou com o passar dos anos. Quando ficou patente que
Collor comandava uma organização criminosa na qual era representado por PC
Farias, sua base de apoio se desmilinguiu.
Agora, não;
os fatos desabonadores que saem todos os dias em desfavor de Temer não provocam
a debandada que se espera de políticos que juraram cumprir a constituição e dos
quais se espera serem no mínimo honestos.
Nem ratos nem
tucanos abandonam o navio pirata.
Em vez de
repúdio, Temer recebe apoio.
E os tucanos
ainda dizem que com isso estão ajudando o país.
Resta saber
qual.
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Marcos Imperial