Por Emir Sader é um dos principais sociólogos e
cientistas políticos brasileiros, colunista do 274.
A
mídia faz como se não acontecesse nada de importante no Nordeste. Haveria
apenas as viagens do ex-presidente Lula e do prefeito João Doria à região,
quase equiparados no mesmo nível.
A
incomodidade da dimensão da caravana de Lula ao Nordeste é de uma proporção tal
que só mesmo não falando dela. "Do que não se pode falar, se deve
calar", dizia Wittgenstein. É o que fazem a direita e os que,
localizando-se no campo popular, não conseguem explicar o fenômeno Lula e preferem
tentar evitá-lo, como se fosse possível.
É
impossível entender o Brasil e entender o PT, sem Lula. Pelo que o governo Lula
significou e pela forma como isso marcou a todo o campo político e a memória do
povo. Um vereador tucano, numa crise de sinceridade, disse que só mesmo matando
Lula. Com o que não se pode entender, melhor tentar sua eliminação mágica.
E,
no entanto, a caravana expressa o Brasil real escondido pela mídia. Se alguém
tinha dúvidas das relações de Lula com o povo brasileiro, tem aí cenas
escancaradas, explícitas, de amor plenamente correspondido. E não se trata
apenas de cenas românticas, porque elas estão alicerçadas em transformação da
vida de milhões de pessoas, que querem agradecer ao Lula por isso, protegê-lo
dos seus inimigos e mostrar toda sua disposição de apoia-lo para que ele volte
a presidir o Brasil e dar continuidade às políticas que tão bem fizeram às suas
vidas.
Por
outro lado, quem tentava analisar o PT separado do Lula, como se fosse
possível, tinha uma visão redutiva, internista, organizativa, e não política do
partido. O PT é o partido de Lula, é o partido que protagonizou, com Lula na
cabeça, os mais importantes processos de transformação econômica, social,
política e ideológica do país. O PT e Lula são indissociáveis, desse ponto de
vista, com suas particularidades, seus avanços e seus tropeços.
O
fato de que Lula seja o grande líder político nacional faz com que ele
obrigatoriamente transcenda o PT, seja maior que o partido. Mas isso acontece
com todos os grandes líderes populares. Eles nascem de um partido, se associam
estreitamente a esse partido, mas se projetam como líderes nacionais.
Não
é possível entender o PT sem o Lula, como não é possível entender Lula sem o
PT. Eles estão tão imbricados, que um só existe com o outro, com suas
particularidades.
A
ofensiva da direita afetou a ambos: a Lula e ao PT. Agora, quando Lula se lança
a caravanas por todo o Brasil, o PT como que se revigora nessa onda, no ritmo
dos percursos de Lula, retoma seus vínculos estreitos com as bases populares
que levaram o partido às quatro vitórias nas eleições presidenciais.
No
Nordeste, é uma massa lulista, beneficiária das políticas dos governos do PT,
que se reconhece em Lula e o projeta como seu grande líder popular. Uma massa
que, ao mesmo tempo, na maioria dos estados elegeu e reelegeu governadores de
esquerda e bancadas progressistas.
O
PT tem agora a possibilidade de se rejuvenescer, ganhar para suas filas a
amplos setores de massa que se mobilizam ao compasso da viagem de Lula. O
discurso de Lula é o grande maestro desse compasso. O discurso que ataca
duramente o desmonte de tudo o que o Brasil construiu de melhor neste século,
que ao mesmo tempo compara com as conquistas de que todos foram beneficiários
nos governos do PT. Que paralelamente aponta para os caminhos da retomada do
crescimento, da distribuição de renda e a inclusão social, o caminho da
esperança.
Porque
Lula representa a esperança concreta de que esse caminho pode ser retomado.
Lula não está lutando pela sua candidatura, pela demonstração da sua inocência
diante de acusações sem fundamento. Lula está lutando pelo resgate da
democracia no Brasil, resgate que passa pelo seu direito a se candidatar de
novo à presidência do país e a desmistificar as acusações que lhe são feitas
sem nenhuma prova.
O
PT tem uma nova oportunidade de se reconstruir como partido, depois de ter
sofrido os mais duros e continuados ataques que um partido jamais sofreu na
história política do Brasil. Pode recompor suas filas, com o ingresso de novas
gerações de militantes, de mulheres, de jovens, de negros, de trabalhadores dos
mais diferentes setores da muito diversificada economia brasileira.
Já
no começo da caravana é possível ver o vigor que o PT revela, seja pela
reincorporação de militantes que haviam tomado distancia do partido, seja pela
ingresso de simpatizantes para dentro das suas filas, seja pela adesão dos que
se dão conta de que se trata da única alternativa política para superar a
gigantesca crise em que o governo golpista lança o Brasil. Se dão conta que o
PT é o partido de Lula, é o partido que representa os interesses das grandes
massas populares do Brasil.
A
renovação da direção do PT, com a eleição da senadora Gleisi Hoffmann para sua
presidência, é a outra cara dessa renovação. Ela se projetou, rapidamente, como
uma grande líder política nacional, somando à atuação firme que tinha no
Parlamento, a atuação como dirigente partilharia, que encarna a nova fase do
PT, sempre junto a Lula, de estreito dialogo com todos os movimentos o campo
popular e com toda a militância petista.
O
PT recupera seu vigor no compasso das caravanas de Lula. Logo depois de
terminada essa primeira, é necessário que o partido adapte suas formas de
funcionamento a essa torrente de novos membros. Precisa avançar na reformulação
da sua estratégia, porque o Brasil já não será o mesmo depois da mais profunda
e prolongada crise da sua vida política. Mas o Brasil e o PT tampouco serão os
mesmos depois das caravanas, que se incorporarão à pratica política do PT e do
campo popular, como instrumento indispensável de mobilização, de formulação
política e de construção da hegemonia popular, democrática e nacional da
esquerda. Já não se pode seguir discutindo projetos fechado entre quatro
paredes, fora dessa dinâmica indispensável de falar ao povo e de ouvir ao povo,
em que Lula é o nosso maestro soberano no falar e no ouvir. O PT tem que estar
à altura de ser a orquestra que o acompanha, para que o povo brasileiro possa
dançar de alegria pelo seu reencontro consigo mesmo, que só pode se dar no
exercício pleno da democracia.
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Marcos Imperial