A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira 5 o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o diretor-geral do Comitê Organizador Rio 2016, Leonardo Gryner, na segunda fase da Operação Unfair Play. Os dois são investigados por envolvimento em um suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional (COI) para a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
O que a Operação Unfair Play investiga?
Com a colaboração de autoridades francesas, o Ministério Público Federal investiga se Nuzman, auxiliado por Gryner, intermediou o pagamento de propina de ao menos 2 milhões de dólares para o presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack, em troca do apoio à candidatura carioca.
O esquema investigado pelo MPF contaria com a participação de um agente público: o ex-governador fluminense Sérgio Cabral, que recentemente foi condenado a 45 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa no âmbito da Operação Lava Jato.
Segundo os procuradores da Unfair Play, Nuzman seria o elo entre corruptos e corruptores. De um lado, estariam Cabral e o empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, dono de multimilionários contratos de prestação de serviços com o estado do Rio.
A mando do ex-governador, Soares teria repassado 2 milhões de dólares ao senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, em setembro de 2009, um mês antes de o COI escolher o Rio como sede olímpica. Os depósitos foram feitos pela Matlock Capital Group, offshore nas Ilhas Virgens Britânicas controlada por Soares.
Por que Nuzman e Gryner foram presos?
De acordo com o Ministério Público Federal, a prisão temporária de Nuzman e Gryner (por cinco dias) é importante para permitir que o patrimônio dos dois seja bloqueado e para impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória.
Nuzman foi preso em casa, no Alto Leblon, zona sul do Rio. Além dos mandados de prisão, foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nas casas e empresas de Nuzman e Gryner e a quebra de sigilo telemático.
Segundo o MPF, nos últimos 10 dos 22 anos de presidência do COB, Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%, sem indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça. Neste patrimônio estariam 16 quilos de ouro.
E qual é a suspeita sobre Gryner?
Gryner é considerado o braço direito do presidente do COB. Segundo o MPF, ele também seria uma figura central no esquema, já que teria sido responsável, assim como Nuzman, por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI.
A quais crimes eles devem responder?
Eles serão indiciados pela Polícia Federal por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em razão das proporções mundiais do fato, o MPF requer, ainda, pelos danos morais causados, o bloqueio do patrimônio de Nuzman e Gryner em até 1 bilhão de reais.
Qual foi o papel das autoridades da França na investigação?
A Operação Unfair Play foi resultado do trabalho conjunto de cooperação internacional entre os órgãos de investigação de Brasil, França, Antígua e Barbuda, Estados Unidos e Reino Unido.
O Ministério Público francês descobriu os depósitos de “Rei Arthur” por acaso, ao investigar um suposto esquema de propinas no COI para abafar casos de doping. As autoridades da França solicitaram, então, a cooperação dos procuradores brasileiros.
O que diz a defesa de Nuzman?
O advogado Nélio Machado questionou a legalidade prisão: "É uma medida dura e não é usual dentro do devido processo legal". Após a primeira fase da Unfair Play, a defesa do cartola afirmou que "toda a jornada da Olimpíada do Rio, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei". https://www.cartacapital.com.br/politica/entenda-a-acao-que-levou-nuzman-presidente-do-cob-para-a-prisao
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Marcos Imperial