Segundo Tacla Duran, Carlos Zucolotto teria oferecido redução de 15 milhões para 5 milhões de dólares na multa que lhe seria imposta. Mas, outros 5 milhões de dólares teriam de ser pagos “por fora”
O ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran prestou depoimento, nesta quinta-feira (30), aos parlamentares da CPMI da JBS e, dentre as acusações por ele feitas, afirmou ter sido procurado por procuradores da operação Lava Jato com intuito de fechar acordo de delação premiada reconhecendo crimes que afirma não ter cometido para incriminar autoridades e políticos do País.
Ele afirmou ter negociado com procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato acordo de delação premiada ainda durante a gestão do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Participaram das tratativas o coordenador da força-tarefa na PGR, Sérgio Bruno e o ex-procurador Marcelo Miller. O último acusado de ter se valido de seu cargo para auxiliar os donos da JBS a fechar um acordo de colaboração favorável aos donos da empresa.
Duran ainda citou como membros do Ministério Público Federal participantes das negociações os procuradores Deltan Dallagnol, Carlos Fernando Santos Lima, Roberson Pozzobon e Júlio Noronha.
“Percebi que havia uma ansiedade do Ministério Público em obter a confirmação de fatos alegados contra mim para que eu confirmasse, para que se fechassem casos apenas com delação premiada, sem comprovação dos fatos, sem investigar, sem inquéritos. Esse é o sentido da ‘indústria de delação. Indústria da delação porque estão fechando processos penais batendo carimbo, sem investigar”, relatou Tacla Duran.
Duran também contou aos parlamentares que Marcelo Miller, ainda na condição de procurador da República, tentou negociar o acordo de delação premiada incitando-o a dizer quais políticos e autoridades públicas poderia entregar.
“Quando esteve comigo, Marcello Miller começou a listar parlamentares. Ele começava a falar nomes de políticos, autoridades estatais: ‘Qual deles o senhor conhece? Qual o senhor pode entregar?’”, relatou.
O advogado entregou a CPMI o email enviado pelos procuradores e a minuta do acordo de delação que, anteriormente, havia sido contestada pelo procurador Carlos Fernando Santos Lima.
Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht entre 2011 e 2016, também contestou os documentos apresentados pela empreiteira nos acordos de delação que contam como provas extratos obtidos pelos sistemas MyWebDay e Drousys.
Perícia encomendada por ele junto a profissionais da Espanha (Associação Espanhola de Peritos) comprovam que documentos do sistema de e-mails internos da Odebrecht foram alterados antes e depois de o sistema ter sido bloqueado pelo Ministério Público Federal. Nesse caso, ele também encaminhou documentos e e-mails trocados com seus advogados à CPMI.
“Os extratos aportados demonstram que o sistema [Drousys] foi manipulado. A partir do momento que o sistema foi manipulado antes, durante e depois do bloqueio [judicial], as provas são viciadas. “Não falo por todos, mas aponto vários extratos como adulterados e acredito, como advogado, que isso constitui vício para todos os documentos”, argumenta.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) lembrou o fato de a Odebrecht ter alugado um hotel em Brasília onde se hospedaram por vários dias diversos executivos da empreiteira com objetivo de construir uma versão da delação.
“Desta reunião, aderiram ao plano 77 executivos. E esses executivos receberão da Odebrecht salários durante 15 anos por terem feito esse acordo, inaugurando a delação assalariada. Toda vida ouvi dizer que combinar depoimento com alguém é crime. Imagine montar 77 delações, uma sustentando a outra”, destacou.
Rodrigo Tacla Duran também admitiu ter contratado o escritório paranaense do advogado Carlos Zucolotto para negociar os termos de um acordo de delação premiada com o MPF por ter sido aconselhado a contar com o auxílio de um escritório de advocacia que fizesse parte da “panela de Curitiba”. Zucolotto é padrinho de casamento do juiz Sérgio Moro.
Segundo Duran, Zucolotto teria oferecido redução de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões na multa que lhe seria imposta. Mas, outros US$ 5 milhões teriam de ser pagos a título de honorários “por fora”.
O deputado Federal Wadih Damous (PT-RS) disse ter estranhado, no momento da divulgação da informação por parte da imprensa, em agosto deste ano, o juiz tenha saído em defesa do advogado Carlos Zucolotto.
“Me chamou a atenção na época o juiz Sérgio Moro ter vindo a público defender o advogado. O advogado não foi ouvido na matéria [do Estadão], quem foi ouvido foi o juiz Moro”, questionou.
Diante dos fatos apresentados até o momento na CPMI da JBS, o deputado Paulo Pimenta afirmou ser um “imperativo moral” do colegiado trazer o advogado Carlos Zucolotto a prestar esclarecimentos por, possivelmente, “ser o elo que explique suas relações subterrâneas com a Lava Jato, o Ministério Público e o Poder Judiciário. Isso que acostumamos chamar de indústria das delações”.
A expectativa é que o requerimento seja analisado na próxima terça-feira (5).
O senador Paulo Rocha (PT-PA), que presidiu a reunião da CPMI, informou ao depoente, Rodrigo Tacla Duran, da necessidade de ele permanecer a disposição do colegiado para que preste esclarecimentos adicionais a partir dos documentos fornecidos pelo depoente no dia de hoje.
“Esse depoimento com certeza ajudou a CPI a avançar na sua investigação”, disse o senador.
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Marcos Imperial