Coautor com Aldir Blanc da canção O Bêbado e a Equilibrista, lançada em 1979 no contexto da repressão da ditadura militar no Brasil, o cantor e compositor João Bosco protestou contra o uso da música na Operação Esperança Equilibrista, que a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagaram nesta quarta-feira (6), na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em nota divulgada nas redes sociais, o cantor e compositor explicou que a música foi feita por ele e por Aldir Blanc em honra a todos que lutaram contra a ditadura militar no país e que, portanto, não autoriza, politicamente, "o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental".
As declarações de João Bosco se somam a de intelectuais, acadêmicos e movimentos políticos de esquerda que criticaram o que classificaram como ilegalidades e abuso de poder cometidos pela Polícia Federal.
Veja, na íntegra, a nota de João Bosco:
Recebi com indignação a notícia de que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania.
Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental.
Resta ainda um ponto. Há indícios que me levam a ver nessas medidas violentas um ato de ataque à universidade pública. Isso, num momento em que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estado onde moro, definha por conta de crimes cometidos por gestores públicos, e o ensino superior gratuito sofre ataques de grandes instituições (alinhadas a uma visão mais plutocrata do que democrática). Fica aqui portanto também a minha defesa veemente da universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que continuar.
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Marcos Imperial