15 a 19 de março de 1971 – o suplício de Joel Vasconcelos Santos, aluno da Escola Técnica do Rio de Janeiro e um dos principais organizadores da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (AMES) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).
Negro, de familia simples, em 15 de março de 1971, ele e um colega foram presos próximo ao morro do Borel, onde realizavam um trabalho político. Carregavam documentos das organizações clandestinas onde militavam: a União da Juventude Patriótica (UJP) e o PCdoB. Ali mesmo começaram as torturas para que revelassem a origem dos documentos. Foram levados então ao 6º Batalhão do PM e depois encaminhados à Polícia do Exército, onde Joel permaneceu até o seu desaparecimento, sendo ininterruptamente torturado. Morreu destroçado nas garras dos seus algozes sem dizer uma palavra. Nunca se soube o dia exato de sua morte.
Em 2014, pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade (CNV) descobriram que as digitais de Joel coincidiam com as de um indigente que deu entrada no IML no dia 19 de março. Seus familiares souberam da descoberta de uma maneira distante e dolorosa, pelo Jornal Nacional. A CNV não considerou o direito indisponível dos familiares de acompanharem diretamente as investigações ou pelo menos de saberem previamente, de maneira pessoal, notícias dessa relevância.
A revelação da verdade a “conta gotas” e sem cuidados para com as famílias é uma forma adicional de tortura aos familiares das vítimas da ditadura. Segundo a irmã de Joel relatou à CEMDP, a notícia da certeza da morte de Joel na prisão, que poderia ser um conforto, foi um sofrimento imenso para a família, em razão da maneira abrupta que a receberam e porque se lembraram de que, exatamente naquele dia 19 de março de 1971, sua mãe, dona Elza Joana, se disse sufocada, passando mal, sentindo que o filho tinha morrido.
O laudo encontrado pela CNV indicou que o “desconhecido” morrera por “contusão de tórax e abdómen com fratura de costelas, ruptura de pulmão esquerdo e fígado, hemorragia interna e anemia aguda”. Esse “desconhecido” foi enterrado, como já comprovado pelo menos em relação a outros 14 desaparecidos políticos, no Cemitério de Ricardo Albuquerque, onde também foi cavada uma vala clandestina, seguindo o mesmo ‘modus operandi’ utilizado no Cemitério de Perus, em São Paulo, em meados dos anos 70. Os enterros e a vala descobertos anteriormente às investigações da CNV foram muito bem registrados pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, em 2011, num belo Memorial edificado naquele Cemitério.
Com base nos documentos que seus pesquisadores localizaram, a CNV concluiu que Joel Vasconcelos dos Santos foi submetido à prisão, tortura e desaparecimento nas dependências do DOI-CODI, no Rio de Janeiro, tendo falecido em razão de graves violações perpetradas por agentes da ditadura.
Contribuição de Aluizio Ferreira Palmar.
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Marcos Imperial