Desta vez, oito mulheres estão no primeiro escalão do governo – o dobro da primeira gestão de Fátima. Uma dessas mulheres é Socorro Batista, recém-nomeada secretária de Educação do RN. A nova titular da pasta terá uma das missões mais difíceis no segundo mandato petista, pois a Educação foi uma das secretarias mais criticadas ao longo dos últimos quatro anos.
Entrevistada pelo Novo, Socorro Batista se apresentou, explicou qual será o plano de atuação para recuperar a Educação potiguar neste primeiro ano de gestão, detalhou que o orçamento previsto para a pasta em 2023 é de pouco mais de R$ 2 bilhões e garantiu a realização de novos concursos com lançamento de edital previsto para março.
NOVO – Quem é Socorro Batista?
Socorro Batista – Sou uma mossoroense por adoção, nascida em Frutuoso Gomes. Filha de um agricultor e uma costureira. Conheci de perto os impactos da seca no início dos anos de 1970, o que obrigou minha família a migrar para Mossoró. Minha mãe continuou costureira e meu pai se tornou padeiro. Foi nesse percurso que minha família (éramos quatro filhos), como tantas outras, escapou da fome. Sou uma militante das lutas sociais desde a minha adolescência quando integrei a Pastoral de Juventude do Meio Popular (PJMP) da Igreja Católica. Fui militante do movimento estudantil, do movimento sindical docente. Sou uma mãe, avó que acredita na possibilidade de construirmos uma sociedade mais justa, menos desigual e, por consequência, uma escola pública que atenda as expectativas dos filhos e filhas da classe trabalhadora.
NOVO – Qual a sua história com a educação?
SB – A educação me salvou, me deu possibilidades de conquistar um lugar na sociedade. Devo isso aos meus pais, especialmente, à minha mãe que nunca mediu esforços para que os filhos frequentassem a escola. Fui alfabetizada por minha prima Hilda a quem sou muito grata, em uma classe multisseriada na zona rural de Frutuoso Gomes. Conclui minha graduação em Pedagogia em 1985. Logo em seguida fui aprovada em concurso da rede estadual de ensino para o cargo de supervisora educacional, função que exerci até ser aprovada em concurso para docente da UERN em 1988. Ao ingressar na UERN, minha carreira profissional deslanchou, pois consegui cursar minha especialização em Educação de Jovens e Adultos, Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Em 2015, me aposentei da UERN e, em 2017, ingressei na Universidade Federal Rural do Semiárido por meio de concurso público para docente, onde mantenho vínculo atual. Essa é minha história na educação. Importante ressaltar que minhas atividades acadêmicas no âmbito da Universidade sempre tiveram uma participação ativa na extensão com desenvolvimento de importantes projetos no campo das escolas públicas.
NOVO – O que a nova secretária vai agregar para a SEEC?
SB – Minha experiência de professora, meu compromisso com a escola pública, integração com os demais entes federativos (municípios e governo federal), celeridade e diálogo sincero e permanente com todos os segmentos da Educação serão as bases de nossa gestão. A história me conduz ao cargo de secretária de Educação atendendo ao chamado de outra professora, a governadora Fátima Bezerra, cujo compromisso com a Educação todos nós conhecemos. Soma-se a isso o fato de que o Brasil inicia seu processo de reconstrução com a eleição e posse do presidente Lula na presidência da República. Como tem afirmado o presidente Lula, a Educação, que foi uma das áreas mais afetadas pelo desmonte das políticas públicas no governo Bolsonaro, será, a partir de agora, prioridade para o novo governo. E, obviamente, o Rio Grande do Norte, através de sua Secretaria de Educação e iniciativa permanente da nossa governadora, trabalhará para ser inserido em todas as políticas, programas e projetos a serem implementados pelo Ministério da Educação. Também quero destacar que diversidade, inclusão e direitos humanos estarão no centro de nossa gestão por meio de políticas e programas que colaborem com a dívida histórica que temos com determinados segmentos sociais, dentre outros, os negros, os indígenas, pessoas com deficiência e a população LGBTQIA+. Porém, tudo isto só será possível com unidade da equipe gestora e demais servidores da SEEC, bem como, com diálogo permanente com os profissionais da educação por meio de sua legitima representação. É esse o caminho que pretendo trilhar e espero que este seja o percurso escolhido por todos nós que estamos comprometidos com a educação potiguar.
NOVO – Segundo o IDEB, o Ensino Médio público do RN é o pior de todo o Brasil. O que deu errado? Qual vai ser o plano de atuação para melhorar/recuperar esse cenário nesse primeiro ano de gestão?
SB – Primeiro, nós precisamos reconhecer essa deficiência e procurar entender as suas causas. Mas essa realidade não é novidade, tampouco surgiu no nosso governo. Trata-se de um processo histórico em que o Ensino Médio tem sido identificado sem muita definição, ainda em busca de sua identidade e, em nosso Estado, tratado em segundo plano pelas elites que o governaram. Soma-se a isso o fato inegável de que a pandemia também está entre as causas dos resultados obtidos. Mas eu não gosto de trabalhar apenas olhando pelo retrovisor, pois a história deve servir de elemento norteador do presente para projetarmos o futuro. Uma das minhas prioridades é o foco no Ensino Médio e profissionalizante, sem descuidarmos do Ensino Fundamental, especialmente no que se refere ao processo de alfabetização de nossas crianças. Primeiro, nós precisamos entender os motivos que têm levado o ensino médio aos baixos índices de aprendizagem e altos índices de evasão. O que tem causado tal realidade? Onde estão nossos jovens? O que fazem? O que fazer para superar essa problemática? Isso exige pesquisa séria, aprofundada. Não podemos trabalhar baseados no achismo. Para isso, vou dialogar com as instituições de Ensino que fazem pesquisa como as Universidades e os Institutos Federais. Inclusive já iniciei esse diálogo com a reitora da UERN e vamos aprofundá-lo. Já iniciei diálogo com a PAFERN no sentido de construirmos uma parceria permanente. Mas nossas equipes da SEEC não vão ficar paradas esperando os resultados da pesquisa. Precisamos colocar os pés no chão da escola, da comunidade. Ouvir os professores, os gestores, os alunos e suas famílias. Estabelecer as parceiras mais diversas possíveis para tornar a escola de ensino médio um lugar agradável onde os jovens gostem de estar e consigam aprender.
NOVO – A ampliação dos Institutos Estaduais de Ensino é suficiente para recuperar o setor?
SB – Sem dúvida cumprirão um papel fundamental no tocante ao processo de profissionalização e formação geral, especialmente no interior do Estado. Com os IERNs, somando-se aos CEEPs possibilitaremos o acesso da juventude a uma educação profissional de qualidade. Será um grande passo. Porém, nós temos uma rede com mais de 600 escolas, sobre as quais precisamos nos debruçar olhando de modo especial para sua estrutura e infraestrutura, seu projeto pedagógico e as condições de trabalho de todos que compõem essa rede.
NOVO – Qual o orçamento da pasta para 2023? É o suficiente para garantir investimentos?
SB – O orçamento previsto para 2023 é de aproximadamente R$ 2,2 bilhões. Eu diria que é o orçamento possível para a realidade do RN. Entretanto, não nos acomodaremos ao possível. Queremos mais. Investimento e manutenção nunca é suficiente, quando falamos em políticas públicas de educação, especialmente quando se tem o compromisso de avançar, qualificar, tornar a educação pública digna para todos que a procuram. É por isso que tenho ressaltado a importância das parcerias e o fortalecimento do pacto federativo no âmbito da educação para que possamos somar esforços e celebrar resultados positivos.
NOVO – Há previsão de concursos?
SB – Sim. Realizaremos novo concurso para todas as áreas de conhecimento. Estamos fazendo o levantamento das demandas junto às regionais de Educação e trabalharemos para que até a primeira quinzena de março possamos lançar o edital.
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Marcos Imperial