terça-feira, 4 de abril de 2023

Com novo Bolsa Família, mãe troca ovo por peixe e carne e compra fraldas

Márcia com quatro de seus seis filhos na Vila Emater, em Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL

No almoço de ontem, Márcia Maria da Silva, 31, e seus seis filhos tinham dois tipos de peixe para escolher em sua pequena casa na Vila Emater, uma favela que fica ao lado de um antigo lixão de Maceió. A melhora no consumo de proteína nas refeições da família veio desde o final de março, quando ela recebeu R$ 1.200 do novo Bolsa Família, o dobro do valor do mês anterior. É essa a única renda da casa.

Por que isso ocorreu? 

O governo começou a pagar, na folha de março, um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos no Bolsa Família. Ao todo, 8,9 milhões de crianças foram beneficiadas. Com o aumento, o valor médio do Bolsa Família subiu para R$ 669,93 (era de R$ 606,91 em fevereiro). 

Um novo adicional de R$ 50 será pago a partir de junho a crianças e adolescentes entre sete e 18 anos e para gestantes. 

Com o dinheiro, além da feira de sempre, comprei carnes, leite, material escolar e fralda para os meus outros filhos --antes, o dinheiro dava só fralda para o bebê. E a mistura [proteína das refeições] era quase só ovo, agora dá para ter peixe, carne de boi ou porco todo dia.

Márcia mostra os dois tipos de peixe para o almoço da segunda-feira Imagem: Carlos Madeiro/UOL 

Os filhos de Márcia têm entre 9 meses e 11 anos, são todos são de pais diferentes e moram com ela. Apenas um dos genitores paga pensão mensal, de R$ 180. "Outros dois morreram e um outro nos ajuda com R$ 100, mas só paga quando quer. Os outros não ajudam", diz. 

Dos seus filhos, quatro têm de até seis anos e tiveram direito ao benefício. 

Segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), o estado de Alagoas é onde mais se passa fome no país, com 36,7% da população sem alimentos em quantidade suficiente. Márcia carrega nos braços cicatrizes de queimaduras de um incêndio no barraco onde morava, quando era criança. 

Hoje, a casa de Márcia é "híbrida": metade de tijolo, metade de tábua. 

Nasci aqui na vila, catava lixo e hoje vivo cuidando dos meus filhos. Espero dar a eles uma casa e uma vida melhor."


Casa de Márcia, na Vila Emater, em Maceió, fica em rua de terra sem saneamento Imagem: Carlos Madeiro/UOL 

Ao receber a visita da coluna nesta segunda-feira, ela contou que pretende terminar de construir sua casa, mas antes quer solucionar um problema mais urgente: ela não tem geladeira e precisa cozinhar todos os dias. 

"Deixo a mistura [algum tipo de carne ou outra proteína] na casa do meu pai, mas agora vou juntar um dinheiro para comprar uma geladeira", diz. 

Além do Bolsa Família, Márcia e as famílias do local recebem ajuda também de um centro espírita, que doa mensalmente uma cesta básica às pessoas da região. 

Dinheiro extra para pagar as contas Perto da casa dela, Maria Luana Souza de Almeida, 29, tem cinco filhos, de dois meses a 12 anos, mas recebeu benefício apenas de um. "Só recebi do meu filho de 5 anos. 

O bebê ainda não está cadastrado, vou lá incluir ele na próxima quarta [5]. 

Os demais têm mais de seis anos, tenho de esperar a vez deles em junho", explica. Com os R$ 150, ela diz que a vida melhorou "um pouco". Além do Bolsa, a família tem a renda do trabalho informal do marido. 

Ele faz bico, e eu cuido das crianças. A gente precisou gastar para aumentar a casa porque a família foi crescendo. Com esse dinheiro a mais neste mês, apenas paguei contas."

Luana tem cinco filhos em Maceió, mas só um recebeu valor adicional de R$ 150 em março Imagem: Carlos Madeiro/UOL 

"De que adianta aumentar o Bolsa Família?" Apesar do aumento, instituições como a Associação Beneficente Casa Tuca, que ajuda pessoas na Vila Emater, afirma que a situação de vulnerabilidade segue e o problema não se resolve apenas com o benefício. O que adianta aumentar o Bolsa Família, se a cesta básica triplicou [de preço]? As ruas estão cada dia mais cheias! Vamos às ruas todas às terças, e sempre tem mais gente, muitos morando na rua, pessoas dormindo nas calçadas, na praia. Está bem complicado." Via UOL

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Marcos Imperial

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