sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Atirador dos EUA diz ter matado 255 pessoas: "adorei o que fiz"

Atirador dos EUA matou 255 pessoas: "adorei o que fiz"

Ele diz ter matado 255 pessoas no Iraque e garante que não se arrepende. "A lenda", "o exterminador" e "o diabo de Ramadi" são apenas algumas alcunhas pelas quais o atirador de elite reformado Chris Kyle ficou conhecido entre os colegas.


Entre 1999 e 2009, o então oficial do pelotão Charlie, terceiro grupo da força Seal da Marinha norte-americana, construiu para si uma temida reputação como o atirador mais letal da história da corporação.

Oficialmente, o Pentágono registra 150 mortes no seu nome – o que em si já representa um recorde em relação ao anterior, de 109, até então mantido por um atirador durante a Guerra do Vietnã.

Entretanto, Kyle afirma que sua contagem é maior. Só na segunda batalha de Fallujah, no fim de 2004, diz, tirou a vida de 40 inimigos.

Em um livro da editora HarperCollins que chega às livrarias dos Estados Unidos, American Sniper ("Atirador de elite norte-americano", em uma tradução livre e literal) ele relata com detalhes o seu trabalho em quatro viagens de combate ao Iraque.

"Adorei o que fiz. Ainda adoro. Se as circunstâncias fossem diferentes – se minha família não precisasse de mim – eu voltaria em um piscar de olhos", escreve o atirador. "Não estou mentindo nem exagerando quando digo que foi divertido."

"Consciência  limpa"

A narrativa é clara – "crua", até, como definiu um crítico literário norte-americano – e deixa entrever a complexa e tensa psicologia da guerra. Kyle relata como ao longo da carreira deixou de hesitar ao mirar nas suas vítimas e passou a desempenhar melhor suas funções sob fogo cruzado.

Sua companhia Charlie foi uma das primeiras a desembarcar na Península de al-Faw no início da chamada Operação Liberdade, iniciada em 20 de março de 2003 pelo então presidente dos EUA, George W. Bush.

No fim daquele mês, na área de Nasiyria, os oficiais Seal aguardavam em um povoado iraquiano a chegada dos marines, fuzileiros navais estadunidenses, que se aproximavam.

No topo de um edifício, Kyle conta que ele e outros integrantes de seu pelotão tinham como objetivo oferecer cobertura aos fuzileiros.

Quase todos os moradores se trancaram em suas casas, de onde assistiam a tudo por detrás das cortinas. Apenas uma mulher e uma ou outra criança se movimentavam na rua.

Quando os marines se encontravam a certa distância, a mulher tirou um objeto amarelado de sua bolsa e caminhou em direção aos militares. "É uma granada! Uma granada chinesa", disse o chefe de Kyle. "Atire." Ao vê-lo hesitar, o chefe repetiu: "Atire!"

Kyle puxou o gatilho duas vezes, a "primeira e única vez" em que matou uma pessoa no Iraque que não fosse homem e combatente.

"Era meu dever. Não me arrependo", escreve. "Meus tiros salvaram vários norte-americanos cujas vidas claramente valiam mais que o daquela mulher de alma distorcida. Posso me colocar diante de Deus com uma consciência limpa em relação ao meu trabalho."

Ódio

O norte-americano do Texas, que aprendeu com o pai a atirar ainda na juventude e virou um boiadeiro de destaque, se converteu em mestre em uma das funções mais controversas em conflitos armados.

Na 2ª Guerra Mundial, atiradores de elite eram considerados assassinos em série. O recordista mundial de mortes é um atirador finlandês que naquele conflito tirou 475 vidas russas durante a invasão da Finlândia pela então União Soviética.

Na guerra contemporânea, onde a precisão é valiosa, esses ases da mira ganharam status especial. Kyle se orgulha de ter matado um homem a uma distância de 2.100 metros no subúrbio xiita de Sadr City, nos arredores de Bagdá, em 2008. "Deus soprou aquela bala que o atingiu", escreve.

O recorde mundial nesse quesito é mantido por um atirador britânico que alvejou um inimigo a quase 2,5 quilômetros no Afeganistão em 2009.

Assassinatos a tiro cometidos por sociopatas e psicopatas – como o de Washington, em 2002, ou da ilha de Utoeya, na Noruega, no ano passado – reforçam uma imagem de frieza desses profissionais.

Entretanto, o que as páginas de American Sniper revelam com candura é um ódio profundo que Kyle nutriu pelo Iraque ("o lugar fedia como um esgoto – o fedor do Iraque é algo a que nunca me acostumei") e por seus inimigos.

"Verdadeiramente, profundamente odeio o mal que aquela mulher (sua primeira vítima) possuía. Odeio até hoje", escreve o militar. "Mal selvagem, desprezível. É isso que estávamos combatendo no Iraque. É por isso que muitas pessoas, incluindo eu, chamavam os inimigos de 'selvagens'."

'Diabo'

As quatro participações de Kyle em combates lhe renderam prestígio e fama. Os insurgentes iraquianos o batizaram de "al-Shaitan" ("o diabo") e colocaram, em um sentido inclusive literal, a sua cabeça a prêmio.

O militar diz que sua fama de matador mais eficiente da história das Forças não é de grande importância. "O número não é importante para mim. Apenas queria ter matado mais gente. Não para poder me gabar, mas porque acho que o mundo é um lugar melhor sem selvagens à solta tirando vidas norte-americanas."

Reformado de sua função em 2009, ele hoje vive no Texas, onde é diretor de uma empresa que presta serviços para as Forças Armadas dos EUA, treinando atiradores de elite. É este tipo de pessoa que a política belicista dos Estados Unidos criou. Com BBC


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Marcos Imperial

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