É fato que as eleições municipais
deste domingo tiveram bons e maus momentos para quase todos os partidos. Para o
professor Fabiano Guilherme Santos, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a correlação de forças não
mudou de forma significativa.
Segundo
ele, no campo conservador, o que surpreendeu foi o crescimento vertiginoso do
PSD de Kassab, enquanto o PSDB encolheu e o DEM caminha para a extinção. Já no
campo progressista, o fator de destaque ainda é o vigor do “efeito Lula”: o
ex-presidente emplacou Haddad no segundo turno da principal cidade brasileira,
ajudou a manter o fôlego do PT nas disputas das grandes cidades e a garantir a
tendência de crescimento nas pequenas.
Em entrevista à Carta Maior, ele
também avalia o efeito nulo do julgamento do “mensalão” nas eleições,
especialmente nos municípios do ABC paulista, mais propensos a serem afetados
pela pauta. E comenta, ainda, a vitória do PT em dois dos principais redutos da
quadrilha do contraventor Carlinhos Cachoeira: Goiânia e Anápolis.
Carta Maior: As eleições deste domingo mudaram a correlação de forças dos
partidos brasileiros?
Fabiano Guilherme
Santos: Não houve
grandes alterações, não. Uma coisa que surpreendeu foi o PSD, que teve um
desempenho muito bom, se colocando como o quarto no ranking geral de controle
de prefeituras. Substitui o DEM, que foi lá para baixo, e que, se não ganhar
Salvador, estará no caminho da extinção.
Então o PSD se consolida como a nova oposição conservadora?
O DEM está
se tornando um pequeno partido, um partido nanico mesmo. O PSD teve um
desempenho avassalador [sai das eleições com 493 prefeitos]. Depois do PMDB em
primeiro, o PSDB em segundo e o PT em terceiro, já vem o PSD. Ultrapassou PDT,
PTB, PSB, que são partidos que têm legenda, que continuam crescendo. Esse é o
primeiro dado interessante. O PSD realmente se colocou como alternativa de
centro-direita ao DEM.
Mas entre os três principais partidos, a correlação de forças se manteve?
O PMDB
perdeu um pouquinho de força [200 prefeituras a menos do que nas eleições
passadas]. O PSDB, também [96 a menos]. Não de forma significativa, mas ambos
caíram. O PSDB já vem de uma tendência de queda, embora não muito
significativa, do número de prefeituras. Já o PT cresceu. Não de uma maneira
avassaladora, mas cresceu [fez 67 prefeituras a mais do que em 2008].
O PT se fortaleceu nas pequenas cidades, mas manteve a postura histórica
de liderança das grandes?
O PT manteve
sua trajetória de se inserir no poder local das pequenas cidades, uma
trajetória que já vem de algum tempo, e esse pleito confirmou isso. Agora, em
relação às grandes cidades, o resultado ainda depende em muito do segundo
turno. E o PT está competindo em muitas delas [22 capitais e cidades com mais
de 200 mil habitantes]. Então, é preciso um olhar do segundo turno para se ter
uma análise mais clara. É possível que o PT ainda se saia melhor. Mas o PSDB
também, porque está competindo, principalmente em capitais [ 16 cidades polos].
Entretanto, mesmo que ele ganhe todas nas quais está competindo não terá o
mesmo desempenho que nas eleições passadas.
Então, para os partidos de oposição ao governo federal, o quadro piorou:
o PSDB diminuiu um pouquinho e o DEM, bastante?
É, bastante.
Pode se dizer isso. Agora o PSD do Kassab foi muito bem sucedido ao capitalizar
os votos de centro-direita.
No campo da esquerda, merece destaque o desempenho do PSB, que fez 120
prefeituras a mais do que nas eleições passadas?
Sim, o PSB
cresceu muito. Teve um desempenho muito bom.
Você tinha avaliado, em entrevista anterior, que o
julgamento do “mensalão” não afetaria de forma significativa estas eleições,
análise esta que se confirmou, não é?
Só
para se ter uma ideia, em Osasco (SP), onde o João Paulo Cunha [condenado pelo
“mensalão”] teve que retirar sua candidatura, o candidato do PT que o
substituiu ganhou com mais de 60% dos votos. O PT tirou o primeiro lugar ou
está no segundo turno em todas as cidades do ABC. E isso no interior de São
Paulo, onde apontavam que o “mensalão” poderia fazer um estrago maior.
Portanto, a alegada influência do “mensalão” não é verdadeira. O PT está muito
competitivo, inclusive nestas regiões que seriam teoricamente as mais
afetadas.
Agora, uma outra coisa intrigante foi o bom
desempenho do PT no curral do contraventor Carlinhos Cachoeira. O PT reelegeu o
prefeito de Goiânia, elegeu o prefeito de Anápolis... Isso pode ser influência
da CPMI do Cachoeira, da cassação do mandato do ex-senador Demóstenes Torres
(ex-DEM)?
O
governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) ficou muito combalido com todas essas
denúncias. E o governador do Estado tem uma ação importante nas eleições para
as prefeituras. O Marconi Perillo tá muito fragilizado, e isso pode ter
contado. Então, seria não tanto uma influência direta da CPMI do Cachoeira, mas
sim o atar de mãos do governador.
E o ex-presidente Lula, sai fortalecido?
Os
comentaristas e cientistas políticos têm que tirar o chapéu para o Lula.
E melhorar as análises também...
Isso,
melhorar as análises, porque todo mundo falou que Lula errou ao escolher o
Haddad, ao insistir no Haddad, ao lutar pelo Haddad. As pessoas têm que
respeitar o faro político dele. De todas as análises políticas, a melhor foi a
de Lula. O Lula dá de dez em todos eles.
E os institutos de pesquisas?
O Ibope foi
bem, mas o Datafolha teve um comportamento muito estranho. Por Najla Passos, na Carta Maior.
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Marcos Imperial