Quanta saudade de Djalma Maranhão! Se vivo estivesse,
estaria completando 97 anos de idade neste 27 de novembro. Administrador
competente e hábil homem público. Representou o Rio Grande do Norte como
deputado estadual e federal com responsabilidade, ética e zelo pelo interesse
público. Como prefeito da cidade do Natal implantou um vasto plano de obras
atendendo as reivindicações da coletividade.
Homem de múltiplos talentos: professor de Educação
Física do Colégio Ateneu; desportista; lutador de boxe; profundo conhecedor das
tradições folclóricas e culturais do Brasil; jornalista, repórter e escritor;
liderança hegemônica da esquerda política potiguar e excelente articulador com
os grupos sociais de sua época.
Durante sua vida pública jamais foi encontrado
qualquer indício de desvio de conduta, nenhum escândalo administrativo ou
político. Nenhuma obra inacabada foi deixada enquanto esteve à frente da
prefeitura (1956-1959 e 1960-1964), a não ser a extraordinária Campanha de Pé
no Chão Também se Aprende a Ler, deflagrada em 23 de fevereiro de 1961 e
interrompida drasticamente pela repressão do golpe militar de 1964.
Na sua época como gestor, a população de Natal deixou
de ser objeto, para ser sujeito ativo e participativo da administração
municipal. Havia um franco e sincero diálogo entre o prefeito e os moradores da
cidade. Um respeito mútuo, uma parceria até hoje nunca vista na política local.
Djalma Maranhão era um nacionalista de esquerda, um político popular, que não
praticava a política populista, nem demagógica e muito menos assistencialista
ou fisiológica.
Mesmo enfrentando problemas de déficit financeiro na
prefeitura, ele conseguiu transformar a cidade de ruas de areia e argila em
espaços asfaltados. Através da educação e a democratização da cultura modificou
a vida dos moradores, principalmente dos mais pobres, com acesso à escola, ao
esporte e o lazer. Não havia lugar para lamentações ou desculpas por conta da
carência financeira. Havia compromisso, honestidade e vontade política de
atender as necessidades da população.
O Rio Grande do Norte tem sido injusto com a figura
histórica desse bravo e destemido homem público. Ele não recebeu as devidas
homenagens que merece receber do povo que ele tanto amou e defendeu. A cidade
do Natal que foi tão bem cuidada pelo então “prefeito do subúrbio”, hoje se
encontra abandonada, maltratada e esquecida pela atual gestão municipal. É
urgente que a nossa cidade se revista do espírito público de Djalma Maranhão
para que possa sair do atual caos político e administrativo.
Djalma Maranhão rompeu com as práticas e técnicas
atrasadas, tradicionais e conservadoras da classe política da época. Os
orçamentos de 1961 e 1962 são dois bons exemplos: apresentavam cifras bastante
deficitárias. Os déficits, entretanto, foram superados no decorrer dos
exercícios, em consequência da implantação de uma política tributária
inovadora, acompanhada de medidas concretas que possibilitaram sua efetivação.
O Código Tributário do município, a organização do Cadastro Fiscal da
prefeitura e o aumento da alíquota do Imposto de Indústrias e profissões
impulsionaram o aumento de arrecadação do erário.
A cidade estava em constante transformação. Vários
empreendimentos da prefeitura modificavam a paisagem local, o funcionalismo
municipal sendo contemplado com até 60% de reajuste nos salários. A capacidade
administrativa de Djalma Maranhão já o credenciava a ser o candidato da
esquerda potiguar, ao governo do Estado.
Vivia-se o período compreendido entre os anos de 1960
a 1964, que fora marcado pelo processo de mobilização, reivindicação e
participação popular e sindical. Esse crescimento político das forças
populares, fez com que a burguesia nacional, se sentisse ameaçada. Temendo
perder o controle do processo das reformas de base do presidente João Goulart,
que estava em curso, instaurou com o apoio do governo e do imperialismo norte
americano, junto com os militares em março de 1964, um regime excessivamente
autoritário e repressivo. Retirando então, do cenário político as massas
trabalhadoras e seus principais líderes e defensores.
No dia 2 de abril daquele ano, Djalma Maranhão foi
deposto do cargo de prefeito e recolhido ao cárcere do 16º Regimento de
Infantaria do Exército. A carreira brilhante e exemplar desse gestor
público chegava ao seu final.
Alexandre de Albuquerque Maranhão
Historiador.
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