Helena Sthephanowitz, viaRede Brasil Atual.
Quem estava imaginando que o Judiciário
brasileiro havia entrado em uma era de “tolerância zero” com escândalos de
corrupção, após o julgamento do chamado “mensalão” – uma vez que até deduções
valeram para substituir provas –, acorda na quarta-feira, dia 21, diante da
velha impunidade, quando o escândalo envolve um governador tucano.
O bicheiro Carlinhos Cachoeira estava em
prisão temporária. Recebeu a primeira condenação devido à Operação Saint
Michel, por tráfico de influência e formação de quadrilha. Uma pena de cinco
anos de prisão em regime semiaberto (dormiria na cadeia e sairia durante o dia
para trabalhar). Como ainda pode recorrer a instâncias superiores, ficará em
liberdade até todos os recursos possíveis serem julgados, o que pode levar
anos.
Ah… a pena inclui também multa de cerca de
R$3 mil. Para quem acumula mansões, fazendas, apartamentos de luxo no Rio de
Janeiro, iates e imóvel em Miami, segundo as investigações, convenhamos, é bem
pouco.
É curioso comparar a punição dada ao
bicheiro com a dosimetria aplicada ao chamado “mensalão” – lembremos que as
investigações apontam envolvimento do governador tucano Marconi Perillo (GO) em
contravenções. Além de condenação sem provas em alguns casos, todas as penas
foram muito maiores, tanto no tempo de reclusão como no valor da multa.
Cachoeira ainda responde outros processos,
decorrentes das Operações Vegas e Monte Carlo, portanto é provável que esta
primeira condenação esteja tecnicamente correta, e apenas a multa esteja baixa,
pois a sentença é referente a uma tentativa de fraudar a licitação de
bilhetagem eletrônica no sistema de transportes do Distrito Federal. O que soa
estranho é haver dois pesos e duas medidas, quando comparado às sentenças do
“mensalão”. Isso só reforça a percepção de que este último foi um julgamento
político, de exceção à regra.
Outra estranheza é que a razão para
Cachoeira ser mantido em prisão temporária era ele ser visto como ameaça para
corromper e intimidar terceiros, inclusive altas autoridades, de ser capaz de
interferir no curso do processo. Um agente da Polícia Federal que investigou o
caso foi executado, em um assassinato ainda não esclarecido. Um juiz federal
afastou-se do processo alegando insegurança diante de ameaças. Outro juiz foi
alvo da tentativa de intimidação pela mulher do bicheiro, quando o ameaçou com
a publicação de um dossiê contra ele na revista Veja, chegando a dizer que o
diretor da revista, Policarpo Jr., era “empregado” de Cachoeira.
À exceção desta última ameaça não há provas
do bicheiro estar ligado aos outros fatos, afinal há muita gente envolvida. Mas
as coincidências inspirariam cautela, pelo menos até os processos das operações
Monte Carlo e Vegas estarem encaminhados, a salvo de maiores interferências.
Por ironia do destino, Cachoeira ganhou a
liberdade na véspera da leitura do relatório da CPMI que o investigou.
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Marcos Imperial