Luis
Nassif em seu blog
Como
ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto [o ex-Carlim do PT] acabou com a Lei
de Imprensa e não cuidou de preservar o direito de resposta. Deixou ao
desamparo centenas de vítimas dos crimes da imprensa.
Logo
que assumiu a presidência do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
anunciou a criação de um grupo visando coibir abusos de juízes de primeira
instância contra a imprensa. Em seguida, uma série imensa de entrevistas onde
tratava a liberdade de imprensa como valor absoluto – não o direito à
informação e a liberdade de expressão, mas objetivamente a liberdade de
imprensa.
Aqui
mesmo enderecei-lhe carta aberta questionando
sua falta de sensibilidade para com as vítimas de assassinatos de reputação da
mídia. Mostrei-lhe que o problema maior era o contrário, a dificuldade das
vítimas em recorrer ao Judiciário, mercê de uma visão distorcida sobre a
natureza das empresas jornalísticas e sobre sua relação com o direito à
informação.
A
imprensa é um instrumento do direito à informação – este, sim, um direito
absoluto. Por ser responsável pelo cumprimento de um dos direitos fundamentais
da sociedade democrática, sua responsabilidade deve ser redobrada.
Há
momentos em que a imprensa cumpre com essa responsabilidade. Em outros momentos
extrapola, muitas vezes colocando interesses comerciais à frente da
responsabilidade perante a informação. O papel do Judiciário é justamente o de
permitir às vítimas defenderem-se, zelar por sua reputação e por sua
privacidade, estabelecer um mínimo de equilíbrio entre o imenso poder de um
órgão de mídia e a vulnerabilidade do cidadão atingido por seus ataques.
Depois
da carta fui convidado para um almoço com Ayres Britto. Iniciou o almoço
apresentando-se como poeta, para ganhar a simpatia do interlocutor. Cobrei dele
afirmações sobre a liberdade de imprensa como direito absoluto. Qualquer forma
de direito tem que vir acompanhado de responsabilidades proporcionais. Mas em
suas entrevistas, só lia sobre os direitos. Com ar inocente, disse que sempre
falava em direitos e obrigações, mas os jornais só publicavam a parte dos
direitos.
Ministro
– argumentei –, tudo bem essa manipulação na primeira entrevista. Mas o senhor
permitiu que se repetisse na segunda, na terceira, na quarta. E a palavra que
vai para todo o país é aquela transmitida pelos meios de comunicação. Disse que
não podia fazer nada.
Solicitei
que permitisse, ao menos, que houvesse um debate plural no CNJ, sobre os
limites à ação da imprensa, sobre a importância do direito de resposta, sobre a
proteção ao direito difuso da população, das vítimas da imprudência
jornalística. Prometeu que abriria essas discussões. Que
nada! Levou algum tempo para entender o que movia Ayres Britto.
No
dia 2 de outubro de 2010, a Folha trouxe matéria sobre o seu
genro (clique aqui). Ele se apresentava como advogado de políticos
que seriam julgados pela Lei da Ficha Limpa no Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) e no STF. Vendia o peixe de que, sendo advogado, o sogro teria de se
declarar impedido de votar, dificultando a condenação do político. O genro
tentou vender os serviços para Joaquim Roriz.
O
argumento central do genro, segundo a reportagem, era de que esse mesmo esquema
tinha sido montado com o senador Expedito Júnior, de Rondônia.
Diz
a reportagem:
“No
caso de Expedito Júnior, Britto alegou impedimento duas vezes: no STF e no TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
No
ano passado, Britto foi sorteado relator de um inquérito no Supremo que
investiga Expedito. Uma semana depois, Borges entrou na causa e obrigou o
ministro a se declarar impedido.
Para
atuar na Justiça Eleitoral, Borges foi contratado em 2006, quando o tucano foi
acusado de comprar votos para se eleger senador em Rondônia. No ano passado,
ele foi cassado pelo TSE em julgamento que não contou com a presença Ayres
Britto, impedido de votar.
Na
tentativa de estipular um preço para defender Roriz, Borges afirma ter cobrado
R$4,5 milhões do cliente de Rondônia. “Eu estou trabalhando [para] o Expedito
Júnior, o pró-labore foi cobrado um milhão e meio e três no êxito, né”, disse.
Ontem,
Borges e Expedito, por meio de suas assessorias, negaram o pagamento de R$4,5
milhões. Alegando confidencialidade, não revelaram o preço pago. O genro do
ministro do STF também é um dos advogados de Expedito no caso da Ficha Limpa”.
Desde
que essa reportagem foi anunciada, mudou completamente o comportamento de Ayres
Britto. Tornou-se o mais intimorato defensor da liberdade de imprensa, como
valor absoluto, e nunca mais foi incomodado por denúncias. Muito provavelmente
foi vítima da armação do genro, mas pouco importa.
Antes
de se aposentar, cria a tal brigada com integrantes das principais associações
de mídia, para defendê-los de quem ousar buscar reparação na Justiça contra as
injustiças de que tenha sido vítima.
Ayres
Britto resolveu seus problemas com a imprensa, à custa do comprometimento dos
direitos de centenas de vítimas dos assassinatos de reputação.
***
Fernando
Rodrigues
Fórum
Nacional do Poder Judiciário e Liberdade de Imprensa vai agregar dados sobre
todos os processos. Ideia é melhorar o padrão de decisões do Judiciário em
casos que a liberdade de expressão esteja em jogo.
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ayres Britto conseguiu aprovar hoje
[13/11], seu último dia útil como integrante da Corte, uma proposta para
que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) monitore ações judiciais que envolvem
a imprensa.
Britto
é presidente do STF e do CNJ. Completará 70 anos no domingo, dia 18, e terá de
se aposentar compulsoriamente.
A
proposta, apresentada por Britto e aprovada pelo CNJ, estabelece a criação do
“Fórum Nacional do Poder Judiciário e Liberdade de Imprensa”. O órgão deverá
levantar o número de ações judiciais que tratam das relações de imprensa e
estudar os “modelos de atuação da magistratura em países democráticos”, segundo
texto divulgado pelo site do CNJ. Na prática, o Fórum vai elaborar um banco de
dados que permitirá saber os casos em que jornalistas são punidos pela Justiça.
Trata-se
de medida relevante para tentar criar um padrão para que os juízes em todas as
instâncias possam tomar decisões mais ponderadas quando a ação julgada contenha
algum aspecto relacionado à liberdade de imprensa.
Em
maio, Britto falou sobre a criação do Fórum durante o Seminário Internacional
de Liberdade de Expressão, do Instituto Internacional de Ciências Sociais
(IICS). Na ocasião, ele disse que a medida ajudaria a acompanhar o cumprimento
da decisão do STF que julgou inconstitucional a Lei de Imprensa, criada ainda
no governo militar.
O
presidente do Fórum sempre será um dos conselheiros do CNJ. Os outros
integrantes serão: dois conselheiros e um juiz auxiliar do CNJ, 1 integrante da
OAB, 1 integrante da Associação Nacional de Jornais (ANJ), 1 integrante da
Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), 1 integrante
da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e 2 magistrados (um da magistratura
estadual e um da justiça federal). Todos precisarão ser indicados pelo
presidente do CNJ e aprovados pelo plenário.
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Marcos Imperial