"O Brasil é reconhecido principalmente porque é
hoje uma nação mais justa. Porque tirou da extrema pobreza 28 milhões de
brasileiros e promoveu a ascensão de quase 40 milhões de pobres à classe
média", afirmou o ex-presidente durante discurso.
O ex-presidente Lula recebeu na noite
desta quinta-feira (13) em Barcelona o 24º Prêmio Internacional Catalunha. A
premiação, que foi entregue pelo presidente do governo autônomo da Catalunha,
Artur Mas, é destinada a pessoas que tenham contribuído com o desenvolvimento
de valores culturais, científicos ou humanos.
Durante sua fala, Artur Mas disse que,
apesar de a Catalunha ter conquistado há algumas décadas o estado de bem estar
social que o Brasil almeja, agora o Brasil toma esse caminho de forma bem decidida
e “muitas das coisas feitas no Brasil podem servir de exemplo”.
O ex-presidente fez um discurso de
agradecimento em que destacou que o Brasil não se projetou no cenário
internacional somente porque se tornou a sexta maior economia do mundo, com a
perspectiva de tornar-se a quinta nos próximos anos. “O Brasil é reconhecido
principalmente porque é hoje uma nação mais justa. Porque tirou da extrema
pobreza 28 milhões de brasileiros e promoveu a ascensão de quase 40 milhões de
pobres à classe média”.
Lula se disse ainda orgulhoso por receber
o mesmo prêmio que foi conferido, em 2006, ao brasileiro-catalão Dom Pedro
Casaldáliga, em reconhecimento à luta por ele travada em defesa da dignidade do
povo pobre da Amazônia. “Casaldáliga levou ao meu país a força espiritual da
Catalunha. Nosso bispo, forjado na tradição libertária catalã, é uma referência
moral e política para todos os democratas brasileiros”.
Lula venceu por unanimidade uma eleição
que contou com 177 nomes, de 57 países. Durante o anúncio do prêmio, em abril
deste ano, Artur Mas já havia destacado o caráter do ex-presidente brasileiro,
“que o permitiu enfrentar, com criatividade e coragem, a pobreza e a
desigualdade”. O catalão disse ainda que a escolha de Lula foi motivada pela
luta que travou durante seus dois mandatos pelo crescimento econômico do Brasil
e para “erradicar a pobreza e a miséria”.
O júri, presidido pelo escritor e filósofo
Xavier Rubert de Ventós, elogiou a política adotada por Lula “a serviço de um
crescimento econômico justo, que colocou seu país à frente da globalização e
favoreceu uma divisão mais justa da riqueza e das oportunidades”.
Sobre o Prêmio
O Premi Internacional Catalunya é
concedido anualmente desde 1989 a personalidades internacionais dos meios
político, econômico e cultural. Homenageados anteriores incluem os
ex-presidentes ou primeiros-ministros Jimmy Carter (EUA, 2010), Vaclav Havel e
Richard von Weizsacker (Rep. Tcheca e Alemanha, compartido em 1995), Jacques
Delors (França e União Européia, 1998); os intelectuais Edgar Morin (1994),
Karl Popper (1989) e Claude Lévi-Strauss (2005); e os ganhadores do Prêmio
Nobel Aung San Suu Kyi (Myanmar, 2008) e Amartya Sen (Índia, 1997). Também
recebeu o prêmio o brasileiro de origem catalã Pedro Casaldáliga, ex-Bispo de
Conceição do Araguaia (2006).
Discurso lido (não inclui improvisações):
Queridos amigos e queridas amigas,
Ao longo da vida, enfrentei duras
batalhas.
Primeiro, como líder sindical, durante a
ditadura militar, lutando pelos direitos dos trabalhadores e pela conquista da
democracia.
Depois, como líder partidário, para fazer
chegar ao poder, pelo voto democrático, um projeto político que fizesse o país
retomar o crescimento econômico, gerar empregos, promover a inclusão e reduzir
a desigualdade social. O que, felizmente, fomos capazes de realizar nos oito
anos em que presidi o meu país.
Quando soube que havia sido agraciado com
o importante Prêmio Internacional da Catalunha, em abril deste ano, tinha
acabado de enfrentar a mais desafiadora de todas as batalhas, a luta pela minha
própria vida.
Eu tinha concluído o tratamento contra um
câncer de laringe que fora diagnosticado seis meses antes.
Venci, mas demorei muitos meses para me
recuperar dos efeitos colaterais da quimioterapia e da radioterapia.
Agora, já recuperado e pronto para novos
embates, venho receber e agradecer de todo o coração a generosidade da
Catalunha.
Dessa Catalunha democrática e progressista,
que desde a sua heroica resistência ao fascismo, nos anos 30 do século passado,
é um símbolo internacional da luta pela liberdade e justiça social.
Minhas senhoras e meus senhores,
É com grande emoção que chego a Barcelona
para receber esse prêmio, do qual me orgulho duplamente.
Eu me orgulho porque, como presidente do
Brasil, busquei um caminho que unisse crescimento econômico e distribuição de
renda. Naquele momento, grande parte do mundo considerava como verdades os
dogmas do chamado Consenso de Washington, que davam garantias ao capital
especulativo e relegavam a segundo plano o bem-estar dos seres humanos.
Adotamos outro modelo de desenvolvimento, privilegiando a economia real. Esse
novo paradigma mudou para melhor a situação do meu país e, sobretudo, as
condições de vida da população brasileira.
O Brasil não se projetou no cenário
internacional somente porque se tornou a sexta maior economia do mundo, com a
perspectiva de tornar-se a quinta nos próximos anos.
O Brasil é reconhecido principalmente porque
é hoje uma nação mais justa. Porque tirou da extrema pobreza 28 milhões de
brasileiros e promoveu a ascensão de quase 40 milhões de pobres à classe média.
Também me orgulho por receber o mesmo
prêmio que foi conferido, em 2006, ao brasileiro-catalão Dom Pedro Casaldáliga,
em reconhecimento à luta por ele travada em defesa da dignidade do povo pobre
da Amazônia brasileira.
A bíblia diz que todos os homens foram
feitos à imagem e semelhança de Deus.
Dom Pedro levou esse ensinamento ao limite
e sempre viu a face de Deus no rosto de cada um dos desprotegidos daquela
região do Araguaia, onde se fixou, e a qual dedicou a sua vida.
Casaldáliga levou ao meu país a força
espiritual da Catalunha. Nosso bispo, forjado na tradição libertária catalã, é
uma referência moral e política para todos os democratas brasileiros.
Além do mais, como o excelente poeta que
é, ele encarna no Brasil, o talento notório dessa terra que nos deu Gaudí, Miró
e inúmeros outros magníficos artistas.
Amigos e amigas,
Recebo essa homenagem em nome de todo o
povo brasileiro, que foi o grande responsável pelas conquistas do meu país nos
últimos dez anos.
Nos oito anos do meu governo, e nos dois
da querida presidenta Dilma Rousseff, demostramos que o acesso do pobre aos
direitos de cidadania, e ao consumo, é capaz de estimular toda a economia.
O Brasil não distribuiu renda porque
cresceu, mas cresceu porque distribuiu renda.
Em 2003, quando assumimos o governo,
lançamos o Programa Fome Zero, com o objetivo de alimentar os que não tinham o
que comer. Em outubro daquele ano, lançamos o Programa Bolsa Família, já
orientado para garantir uma renda mínima mensal aos brasileiros mais pobres.
Vocês, que vivem num continente em que
esses problemas foram em grande parte superados há décadas, podem se espantar,
mas a garantia de uma renda mínima aos pobres brasileiros revolucionou a
economia do meu país.
Os benefícios do Bolsa Família, dados
através de um cartao magnetico, impulsionaram fortemente o nosso mercado
interno.
O consumo da população pobre fez prosperar
o comércio; o setor de serviços passou a ser uma fonte de renda para aquela
população que vivia à margem da sociedade de consumo.
A política de transferência de renda, a
ampliação do crédito, a elevação do salário mínimo, entre outras medidas, aumentaram
o poder de compra das classes populares e possibilitaram a ascensão social de
grandes parcelas da população.
Todos os setores da economia se
beneficiaram: alimentos, vestuário, eletrodomésticos, automóveis e construção
civil. Foram criados, em 10 anos, 18 milhões de empregos formais.
Foi esse aumento do poder de compra dos
brasileiros pobres que deu ao meu país condições de enfrentar as crises
financeiras de 2008 e 2009.
Mais investimentos públicos e privados
geraram mais emprego e mais renda.
Estes foram os antídotos que nós usamos
contra a crise financeira que abalava o mundo, na contramão dos países que
exigiam das nações credoras uma política restritiva, que resultava em menos
oportunidades, menos renda e no sacrifício de parcelas já desprotegidas da
população.
Caros amigos,
Existem várias formas de fazer política.
Até dois anos atrás, fiz política através de processos eleitorais democráticos.
Foram os votos dos meus conterrâneos que me deram legitimidade para defender,
nos fóruns internacionais, uma ordem internacional mais equilibrada e justa.
Encerrados dois mandatos eletivos de
presidente, continuo a fazer política porque tenho uma crença profunda na
humanidade. Na capacidade dos homens de lutar pela justiça.
Meu papel político, agora, é pregar que o
desenvolvimento de um país deve representar a prosperidade de todos os seus
cidadãos.
E é pregar que o desenvolvimento global,
da mesma forma, deve ser o resultado do progresso de todos os continentes e de
todos os países.
Este é o momento da inclusão dos pobres na
economia dos seus países, e dos países pobres na economia mundial.
E gostaria de dedicar esse prêmio, que
tanto me emociona, a todas as pessoas que acreditam e lutam por um mundo menos
desigual.
Muito obrigado.
(Assessoria de Comunicação/Instituto
Lula).
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Marcos Imperial