Em sua coluna de estreia na revista Istoé, Paulo
Moreira Leite questiona por que as denúncias contra o deputado Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), parlamentar há 41 anos, surgem logo quando ele se candidata à
presidência da Câmara.
Via 247 - Para Paulo Moreira Leita, agora diretor da ISTOÉ em Brasília, as
denúncias contra o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que concorre à
presidência da Câmara, "podem ser as mais importantes deste século, mas
ocorrem numa hora curiosa". Leia o artigo do ex-colunista da revista
Época, que passa a publicar pela Istoé:
Um bode no
Congresso
As denúncias contra
o deputado Henrique Alves podem ser as mais importantes deste século, mas
ocorrem numa hora curiosa
Com 41 anos de
Congresso, Henrique Alves parece enquadrar-se na categoria de parlamentar
típico, que habita a fronteira daquela zona cinzenta das finanças políticas,
onde nem sempre é possível separar o legal do ilegal – mas é sempre possível
dizer que é tudo imoral e quase tudo é suspeito.
Nada se provou
contra o parlamentar até agora, embora ele já tenha sido denunciado há mais de
uma década. Em 2002, sua ex-mulher denunciou que Henrique Alves possuía
um cartão de crédito milionário, que não poderia ser quitado com o salário de
deputado. Henrique Alves fora escolhido para ser companheiro de José Serra na
campanha presidencial daquele ano, mas perdeu a vaga.
A mais nova
denuncia envolve uma possível empresa fantasma de um assessor, e tem até um
bode na sede, no Rio Grande do Norte, chamado Galeguinho. Também se informa que
Henrique Alves recebeu uma verba de campanha de R$ 10 000 do dono de um posto
de gasolina onde gastou R$ 50 000 para abastecer o carro oficial.
Tudo isso deve ser
apurado e investigado.
Mas é sempre bom
perguntar se não há um bode político nesta discussão. As denuncias contra
Henrique Alves não caíram do céu. Têm a impressão digital de seus adversários
internos no PMDB, que gostariam de ocupar sua vaga.
Convém advertir:
são flores que exalam o mesmo perfume. Freqüentam os mesmos ambientes e os
mesmos coquetéis.
Candidato a
presidente da Câmara de Deputados, até agora sem adversário real, Henrique
Alves tomou uma posição política importante, a respeito de um fato decisivo da
legislatura que se inicia em fevereiro.
Procurado para
dizer o que pensava da ideia da Câmara decretar a perda de mandato dos quatro
parlamentares condenados pelo mensalão, sem passar pelo ritual definido pelo
artigo 55 da Constituição, Henrique Alves disse que em sua opinião o Congresso
não deveria abrir mão de suas prerrogativas.
Ou seja: os
deputados até poderiam perder o mandato, mas a Câmara não deveria deixar de
cumprir aquilo que define a Lei Maior. Isto quer dizer: levar o debate para
plenário e submeter a decisão a voto direto e secreto. A perda do mandato, diz
a Constituição, será definida por maioria absoluta. E quem tem a palavra final
são os parlamentares.
Pode até ser um
"vexame," como diz o professor Oscar Vilhena, da FGV, mas a
Constituição definiu assim.
Não conheço a
biografia de Henrique Alves para fazer um balanço de suas atitudes políticas.
Tenho certeza, no entanto, que poucas vezes ele teve a oportunidade de
manifestar-se sobre um assunto tão relevante.
Do ponto de vista
da separação de poderes e da preservação das garantias democráticas, o deputado
com o assessor do bode Galeguinho fez a coisa certa.
E por isso eu acho
justo perguntar por que só agora, quando ele completa 40 anos de Congresso, é
que todos se lembram de investigar o que se sabe e o que se assopra a seu
respeito.
Deve ser tudo
coincidência, vamos combinar. O Galeguinho deve estar rindo de tudo, concorda?
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Marcos Imperial