
Dez anos depois, Guaribas deixa para trás o título de cidade mais pobre do país e a população faz planos para o futuro.
Lucas Rodrigues
Enviado Especial da EBC.
Guaribas (PI) - Lançado no dia 3 de fevereiro de 2003, no
município com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, o
Programa Fome Zero foi criado com o objetivo de erradicar a miséria, com a
transferência de renda e garantindo o alimento para as famílias que viviam na
extrema pobreza. Hoje, o Brasil ainda tem pelo menos 5,3 milhões de pessoas
sobrevivendo com menos de R$ 70 por mês, diferentemente do início dos anos
2000, quando eram 28 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
Nos últimos dez anos, esse número vem diminuindo. Em parte, por
causa de políticas públicas de ampliação do trabalho formal, do apoio à
agricultura e da transferência de renda. Hoje, a iniciativa, que ganhou o nome
de Bolsa Família, chega a quase 14 milhões de lares. Ela nasceu do Programa
Fome Zero, criado para garantir no mínimo três refeições por dia a todos os
brasileiros. E foi do interior do Nordeste que essa iniciativa partiu para o
restante do país.
Depois de dez anos, a Agência Brasil voltou a Guaribas, no sul do
Piauí, escolhida como a primeira beneficiária do programa de transferência de
renda. Localizada a 600 quilômetros ao sul da capital, Teresina, Guaribas não
oferecia condições básicas para uma vida digna de sua população: faltava comida
no prato das famílias, que, na maioria das vezes, só tinham feijão para comer.
Não havia rede elétrica e poucas casas tinham fogão a gás.
Mulheres e crianças andavam quilômetros
para conseguir um pouco de água e essa busca, às vezes, durava o dia
inteiro. A dona de casa Gilsa Alves lembra que, naquela época, “era
difícil encontrar água para lavar roupa”, no período de seca. “Às vezes, até
para tomar banho era com dificuldade".
O aposentado Eurípedes Correa da Silva não
se esquece daquele tempo, quando chegou a trabalhar até de vigia das poucas
fontes que eram verdadeiros tesouros durante os longos períodos de seca, com
água racionada. Hoje, a água chega, encanada, à casa dele.
Pai de sete filhos, Eurípedes tem televisão
e geladeira. Além do dinheiro da lavoura e da aposentadoria, ele recebia o
benefício do Fome Zero e agora conta com o Bolsa Família. O benefício chega a
1,5 mil lares e a meta é alcançar 2 mil neste ano, o que representa oito em
cada dez moradores da cidade. A coordenadora do programa em Guaribas, Raimunda
Correia Maia, diz que “o dinheiro que gira no município, das compras, da
sustentação dos filhos, gera desenvolvimento".
A energia
elétrica também chegou a Guaribas e trouxe com ela internet e os telefones
celulares. No centro da cidade, há uma praça com ruas calçadas e uma
delegacia, além de agências bancárias, dos Correios e escolas. A frota de
veículos cresceu e, hoje, o que se vê são motos, em vez de jegues.
O município conquistou o principal
objetivo: acabar com a miséria. Mesmo assim, ainda está entre os mais pobres do
país e enfrenta o êxodo dos jovens em busca de emprego em grandes cidades.
Segundo o IBGE, entre 2000 e 2007, quase 10% dos moradores deixaram Guaribas.
Alan e Rosângela podem ser os próximos. O
Bolsa Família e as melhorias na cidade não foram suficientes para manter o
casal no município, já que ali os dois não encontram trabalho. Os irmãos já
foram para São Paulo e é impossível sustentar a família de oito pessoas com um
cartão (do Bolsa Família) de R$ 130.
Quem escolheu ficar na cidade sabe quemuita
coisa tem que melhorar. O esgoto ainda não é tratado; algumas obras não saíram
do lugar, como a do mercado municipal. Até o memorial erguido em homenagem
ao Fome Zero está abandonado há anos. Longe de Teresina, os moradores se sentem
isolados, principalmente por causa da dificuldade de chegar à cidade mais
próxima: são 54 quilômetros de estrada de terra, em péssimo estado, até
Caracol.
Isso torna difícil escoar a produção de
feijão e milho e faz com que todos os produtos cheguem mais caros. A
dificuldade de acesso também prejudica uma das conquistas da região: a unidade
de saúde.A doméstica Betânia Andrade Dias Silva levou o filho de 5 anos para
uma consulta e não encontrou médico. Ela desabafa: “É ruim né?!
Principalmente numa cidade pequena, na qual você precisa de um atendimento
melhor, tem que sair para ir para outra cidade, Caracol, São Raimundo, que fica
longe daqui. Por exemplo, caso de urgência, se você estiver à beira da morte,
acaba morrendo na estrada… Então, é difícil".
Há mais de um mês, o atendimento é feito
apenas por enfermeiras e por um dentista. Mesmo oferecendo um salário que
chega a R$ 20 mil, a prefeitura diz que não consegue contratar médicos. O
jeito é mandar os pacientes mais graves para as cidades vizinhas.
Mas essa situação pode começar a mudar
ainda neste ano. Segundo informou a Secretaria de Transportes do Piauí, o
trecho da BR-235 que liga Guaribas a Caracol deve começar a ser asfaltado em
outubro. Por enquanto, está sendo asfaltado outro trecho da rodovia, entre
Gilbués e Santa Filomena.
O casal Irineu e Eldiene saiu de Guaribas
para procurar trabalho em outras cidades, mas voltou. Agora eles levantam,
pouco a pouco, uma pousada no centro da cidade. Irineu diz que a obra que está
fazendo não é “nem tanto pensando no agora”, é para o futuro. “Estou vendo
que a cada ano que está passando, Guaribas está desenvolvendo mais”.
A expectativa de Irineu e Edilene é
resultado da mudança dessa que já foi a cidade mais pobre do país. Mesmo com
dificuldades, os moradores de Guaribas, agora, olham para o futuro com mais
esperança e otimismo. Eldiene garante que vai ficar e ver a pousada cheia
de clientes.
Veja aqui galeria de fotos de Guaribas na
época do lançamento do Fome Zero.
Edição: Tereza Barbosa. Agência
Brasil. Postado por Marcos Imperial.
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