Médicos assinam manifesto em apoio ao programa
federal que tem a desaprovação dos conselhos de medicina; documento reforça
necessidade da vinda dos médicos estrangeiros para o país; "nós temos
convicção de que progressivamente esse programa irá se consolidar e terá na
população seu sustentáculo. A própria categoria médica, ao não se sentir
prejudicada pelos colegas que ingressam no sistema, adotará uma postura mais
racional e amistosa, e nossas entidades terão que realisticamente atualizar
suas posições", afirmam manifesto, assinado por 20 profissionais com longa
carreira na medicina.
Via 247 – Um grupo de
médicos (a maioria com mais de 45 anos de profissão e com passagens em postos
de gestão ao longo da carreira) divulgou nesta terça-feira (24) um manifesto assinado
em apoio ao programa do governo federal “Mais Médicos”. O documento traça um
panorama da medicina no país, realçando os problemas da falta de profissionais
para atuar em áreas mais periféricas. Os médicos também citam as manifestações
que ocorreram no país em julho e parte em defesa da vinda dos médicos
estrangeiros para o país.
“Por isso, o grupo de médicos que assina
o presente documento, afirma o programa Mais Médicos vem, de imediato,
satisfazer a necessidade de populações carentes e deprimidas socialmente,
colaborando para o seu acesso a melhores condições de cidadania. Nós temos
convicção de que progressivamente esse programa irá se consolidar e terá na
população seu sustentáculo. A própria categoria médica, ao não se sentir
prejudicada pelos colegas que ingressam no sistema, adotará uma postura mais
racional e amistosa, e nossas entidades terão que realisticamente atualizar
suas posições”, afirmam.
Confira o texto na íntegra:
PROGRAMA MAIS MÉDICOS. OPINIÃO DE MÉDICOS
Há muitos anos existe um consenso mundial
de que a ocorrência de doenças está basicamente associada aos estilos de vida.
A medicina geral, praticada com recursos adequados, leva em conta a situação
sócio-ambiental, para a elaboração correta do diagnóstico clínico, etapa
primordial da legítima arte médica.
Até há cerca de quarenta anos essa
prática era exercida no Brasil pelos médicos imediatamente após a graduação,
principalmente pelos que se instalavam nas cidades do interior de seus Estados
– e geralmente de lá oriundos – ou nos bairros periféricos das capitais e
grandes cidades. Apoiados por um currículo escolar de grande riqueza prática,
esses médicos atendiam e resolviam com a maior qualificação a mais de 80% dos
casos, incluídos aí o tratamento e controle das doenças mais freqüentes
de todas as especialidades, inúmeras cirurgias, partos, fraturas, qualquer tipo
de infecções e ainda situações de urgência e emergência. Eram chamados de
médicos de família, clínicos gerais ou – simplesmente- MÉDICOS.
Além de conhecer seus pacientes pelo
nome, manter com os mesmos uma relação humanizada e morar muito próximo a eles,
ainda realizavam, através de diversos meios, intensa atividade na prevenção de
doenças e na promoção da saúde. Já tinham perfeita noção de que essa prática
era muito menos custosa do que a assistência médico-hospitalar, com
resultados efetivos para a melhoria da qualidade de vida da população.
Esta prática foi mundialmente reconhecida
em 1978 na 1ª Conferência Internacional sobre Atenção Primária à Saúde,
promovida pela Organização Mundial de Saúde e pela UNICEF, do que resultou a
Declaração de Alma-Ata.
Com o passar dos anos muita coisa
aconteceu que ocasionou a deficiência na saúde do país. Não se levou em conta o
problema da imensidão do país; a população cresceu; o ensino foi se modificando
para dar ênfase nos exames complementares e o quase descaso para história
clínica e o exame físico dos pacientes, além de investir muito mais tempo ao
ensino teórico do que à prática; o custo aumentou em razão dos excessos na
investigação, da ausência de prontuário médico, do pagamento por procedimentos
e até por mau uso de recursos; o aporte financeiro não acompanhou a evolução
das necessidades crescentes do setor. As causas são inúmeras e os agentes causadores
também. Nós médicos temos parte da responsabilidade. O povo foi às ruas e
manifestou sua indignação e provocou uma reação dos governantes de todos os
partidos.
Adquiriu realce o fato de que em mais de
700 municípios não há médico, e que em mais de 1.500 municípios há deficiência
de médicos no Programa de Saúde da Família.
Em resposta ao clamor o governo, por
intermédio do Ministério da Saúde, lançou o programa “Mais Médicos”, dando
prioridade aos médicos brasileiros, e, numa segunda etapa, na existência de
vagas, a médicos estrangeiros, de preferência com experiência em Medicina de
Família. A exigência de que os estrangeiros deveriam ser obrigados a fazer o
exame de revalidação do diploma não cabe, pois os médicos ficarão
provisoriamente no país, apenas nos municípios para onde foram designados, na
área de Atenção Primária em Saúde. Ademais, pelo parágrafo 2º do artigo 48 da
lei 9.394, de Diretrizes e Bases da Educação, são permitidas reciprocidades
internacionais.
Houve evidente boicote ao programa, além
de dezenas de ações na Justiça contra o mesmo, o que significaria, caso
acolhidas, continuar a manter milhões de brasileiros sem qualquer assistência
médica em suas comunidades, o que poderia implicar omissão de socorro.
Felizmente, os juízes têm sistematicamente
negado as liminares ou ações, como no caso da sentença do Desembargador Federal
Luis Alberto Aurvalle, que entendeu “ser de maior gravidade o perigo inverso,
visto que mais nocivo ao interesse público vem a ser a falta total de
assistência médica da população do que a assistência prestada por médicos
estrangeiros”; este despacho foi em razão da tentativa de desqualificação dos
médicos cubanos.
Por isso, o grupo de médicos que assina o
presente documento, afirma:
1 – a assistência médica é um direito
inalienável da cidadania e um dever do Estado como consta na Carta de Direitos
Humanos e na Constituição da República Federativa do Brasil;
2 – o “Programa MAIS MÉDICOS” vem, de
imediato, satisfazer a necessidade de populações carentes e deprimidas socialmente,
colaborando para o seu acesso a melhores condições de cidadania;
3 - o tipo de atendimento, baseado
principalmente na Atenção Primária à Saúde, mas também com o incremento
financeiro para a medicina secundária e terciária em centros regionais é o passo
para a interiorização futura permanente;
4- estatísticas demonstram que mais de
74% da população brasileira apóia o Programa e agradece o apoio dos médicos
estrangeiros aos cidadãos brasileiros desassistidos;
5- a categoria médica é composta
por várias classes e há dezenas de milhares de médicos que batalham
diuturnamente em pequenos postos de saúde, em serviços de urgência/emergência,
em plantões de unidades de pronto atendimento ou de tratamento intensivo, em
bairros periféricos e outras atividades, cujo comportamento é o da mais plena
dedicação aos necessitados e sem fazer da medicina um comércio ou uma tentativa
de alcançar status social ou econômico. Mas – infelizmente – são esses que
correm o risco de serem desprezados pela população que não entende porque é
divulgado na imprensa que os médicos em geral não aceitam o Programa. A esses
colegas, sem voz na mídia, nossa homenagem e apoio;
6- nós temos convicção de que
progressivamente esse programa irá se consolidar e terá na população seu
sustentáculo. A própria categoria médica, ao não se sentir prejudicada pelos
colegas que ingressam no sistema, adotará uma postura mais racional e amistosa,
e nossas entidades terão que realisticamente atualizar suas posições.
SIGNATÁRIOS.
·
Franklin Cunha – CREMERS 3254 – Jubilado: Ex-Diretor da AMRIGS;
Ex-Conselheiro do SIMERS; Ex-Instrutor Chefe do Serviço de Ginecologia e
Obstetrícia do HMIPV
·
Airton Fischmann – CREMERS 3519 – Jubilado: Ex-Consultor da ORGANIZAÇÃO
PANAMERICANA DE SAÚDE
·
Mareu dos Santos Soares – CREMERS 3581 – Jubilado: Ex-Secretário de Serviços
Previdenciários do INPS; Ex-Chefe de Gabinete do INAMPS; Ex-Diretor do
Instituto Médico Legal
·
Ruy Germano Nedel – CREMERS 3546 – Jubilado: Deputado Federal Constituinte;
Ex-Superintendente Regional do INAMPS; Ex-Coordenador do Conselho Nacional de
Saúde; Ex-Membro Titular da Comissão Nacional de Residência Médica
·
Nelson Carvalho de Nonohay – CREMERS 3092 – Jubilado: Diretor- Secretário da
Fundação Universitária de Cardiologia; Ex-Secretário Estadual de Saúde do
Estado do Rio Grande do Sul
·
Júlio Hocsman – CREMERS 4410: Ex-Secretário Estadual de Saúde do Estado do Rio
Grande do Sul
·
Eduardo de Azeredo Costa – CREMERJ 13993 : Ex-Secretário Estadual de Saúde do
Estado do Rio de Janeiro/Gestão Leonel Brizola; Diretor da FUNDACENTRO
·
Celso Perez Melgaré – CREMERS 3501 - Jubilado: Médico Psicanalista; Membro do
Corpo Clínico Do Hospital N S Conceição
·
Luiz Carlos Lantieri – CREMERS 3314 – Jubilado: Cardiologista; Ex-Coordenador
do Exame AMRIGS
·
Flávio Pinto – CREMERS 3505 – Jubilado: Psiquiatra; Ex-Professor da
Faculdade de Medicina da UFCSPA
·
Humberto Scorza – CREMERS 3236 – Jubilado: Pediatra; Servidor Público
·
Lúcio Barcelos – CREMERS 6520: Ex-Secretário de Saúde dos municípios de
Cachoeirinha, Gravataí e Porto Alegre; Ex-Diretor do Hosp. Psiquiátrico São
Pedro; Ex-Presidente do Conselho Estadual de Saúde
·
Oswaldo Petracco da Cunha – CREMERS 1146 – Jubilado: Ex-Diretor da AMRIGS;
Ex-Diretor da Secretaria Estadual de Saúde do Rio grande do Sul/Gestão Alceu
Collares
·
Álvaro Petracco da Cunha – CREMERS 1571 – Jubilado: Ex-Deputado Estadual;
Ex-Diretor da CORAG/Gestão Alceu Collares
·
Arnaldo da Costa Filho- CREMERS 378 – Jubilado: Ex-Professor de Ensino Superior
da UFRGS; Ex-Superintendente de Ed. Física da Secretaria Estadual de Saúde
·
Sergio Alexandre Goldani – CREMERS 5564 –Jubilado: Médico Psiquiatra;
Ex-Professor do DMI, aposentado da Faculdade de Medicina da UFRGS
·
Luiz Octavio Vieira – CREMERS 4549 – Jubilado: Fellow em Pneumologia do
Hospital Monte Sinai, de Nova Iorque; Ex-Auxiliar de Ensino em Medicina Interna
na UFRJ e na Escola de Medicina e Cirurgia; Ex-Conselheiro do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. Ex-Presidente da FIERGS
·
Claunara Schilling Mendonça – CREMERS 20714: Médica de Família e Comunidade;
Mestre (e Doutoranda) em Epidemiologia na UFRGS; Professora de Medicina de
Família do Departamento de Medicina Social da UFRGS; Gerente do Serviço de
Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição.
·
Heloisa Helena Rousselet de Alencar – CREMERS 10635
·
Herberto Edson Maia – CREMERS 3579 – Jubilado: Psiquiatra; Professor da Fac. de
Medicina da Univ. Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; Prof. Do Curso
de Pós-Graduação em Psiquiatria José de Barros Falcão com sede na Clínica São
José e Hosp. Divina Providência
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Marcos Imperial