O cantor e
compositor pernambucano Alceu
Valença se pronunciou sobre a questão das biografias em sua conta no Facebook,
em linha oposta àquela encampada pelo grupo Procure Saber, dos colegas Chico Buarque, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Erasmo Carlos e Djavan.
“A ideia de royalties para os biografados
ou herdeiros me parece imoral”, afirmou Alceu, sem meias-palavras. “Falem mal,
mas me paguem…(?) é essa a premissa??? Nem tudo pode se resumir ao vil metal!”,
completou, ecoando verso de “Como Nossos Pais” (1976), interpretada pela
colega morta Elis
Regina e composta pelo hoje sumido Belchior.
Abaixo, o pronunciamento de Alceu, na íntegra:
“Pare, repare, respire, reveja, revise
sua direção… Eu compus essa letra para o disco Maracatus,
Batuques e Ladeiras, que lancei em 1994. Desde ontem, um assunto
tomou conta dos meus pensamentos. No fim da manhã, recebi um telefonema de uma
jornalista que solicitava minha posição acerca da polêmica que vem acontecendo
em torno da autorização ou não de biografias. Como já estava na hora de buscar
meu filho no colégio, pedi para ela me ligar à tarde. Dali em diante, fiquei
remoendo o assunto e aguardando seu novo contato, o que não veio a acontecer.
“A questão não é simples. Pesei costumes e comportamentos.
Refleti sobre o tempo e a história. Considerei valores e conceitos. Cheguei a
uma conclusão que envolve 4 pontos essenciais:
“Ética. O
assunto até parece démodé, mas deveria estar intrinsecamente no centro de
diversas situações que vivemos hoje em dia. Inclusive, neste caso. Óbvio que o
conceito é subjetivo e, até, utópico. No entanto, sem a sua prática, o
desequilíbrio é evidente. Fala-se
muito em biografias oportunistas, difamatórias, mas acredito que a grande
maioria dos nossos autores estão bem distantes desse tipo de comportamento. Arrisco
em dizer que cerceá-los
seria uma equivocada tentativa de tapar, calar, esconder e camuflar a história
no nosso tempo e espaço. Imaginem a necessidade de uma
nova Comissão da Verdade daqui a uns 20 anos…
“Assim entramos em outro conceito,
igualmente amplo, delicado e precioso:liberdade
de expressão. Aliás, tão grandioso que deveria estar na frente
de qualquer questão. O
que é pior: a mordaça genérica ou a suposta difamação?
“Eficiência e celeridade processual são
princípios que devemos reivindicar para garantia dos nossos direitos. Evitar a prática de livros
ofensivos e meramente oportunistas através do Poder Judiciário é uma saída
muito mais eficaz e coerente com os fundamentos democráticos.
“Definitivamente,
a questão não é financeira. A ideia de royalties para os biografados ou
herdeiros me parece imoral. Falem mal, mas me paguem…(?) é essa a premissa???
Nem tudo pode se resumir ao vil metal!
“Com todo o respeito pelas opiniões
contrárias, este é o meu posicionamento.Viva
a democracia!
Alceu Valença”. Via Carta Capital.
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Marcos Imperial