
“Em artigo, compositor defende a preservação da
privacidade contra a publicação de biografias não autorizadas: "Nos anos
70 a TV Globo me proibiu. Foi além da Censura, proibiu por conta
própria imagens minhas e qualquer menção ao meu nome. Amanhã a TV
Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as minhas imagens mais
bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas músicas. Vai
precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor"
Via Brasil 247.
Chico Buarque sai em defesa da preservação da privacidade contra a
publicação de biografias não autorizadas e ironiza críticas de que seria
censor. Leia o artigo publicado no Globo:
Penso eu
Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida
pessoal. Parece que não
Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida
pessoal.
Parece que não. Também me disseram que sua biografia é a sincera
homenagem de um fã. Lamento pelo autor, que diz ter empenhado 15 anos de sua
vida em pesquisas e entrevistas com não sei quantas pessoas, inclusive eu. Só
que ele nunca me entrevistou.
O texto de Mário Magalhães sobre o assunto das biografias me
sensibilizou. Penso apenas que ele forçou a mão ao sugerir que a lei vigente
protege torturadores, assassinos e bandidos em geral. Ele dá como exemplo o
Cabo Anselmo, de quem no entanto já foi publicada uma biografia. A história de
Consuelo, mulher e vítima do Cabo Anselmo, também está
num livro escrito pelo próprio irmão.
Por outro lado, graças à lei que a associação de editores quer
modificar, Gloria Perez conseguiu recolher das livrarias rapidamente o livro do
assassino de sua filha. Da excelente biografia de Carlos Marighella, por Mário
Magalhães, ninguém pode dizer que é chapa-branca. Se fosse infamante ou
mentirosa, ou mesmo se trouxesse na capa uma imagem degradante do
Marighella, poderia ser igualmente embargada, como aliás acontece em qualquer
lugar do mundo.
Como Mário Magalhães, sou autor da Companhia das Letras e ainda me
considero amigo do seu editor Luiz Schwarcz. Mas também estive perto do
Garrincha, conheci algumas de suas filhas em Roma. Li que os herdeiros do
Garrincha conseguiram uma alta indenização da Companhia das Letras. Não sei
quanto foi, mas acho justo.
O biógrafo de Roberto Carlos escreveu anteriormente um livro chamado “Eu
não sou cachorro não”. A fim de divulgar seu lançamento, um repórter do “Jornal
do Brasil” me procurou para repercutir, como se diz, uma declaração a mim
atribuída. Eu teria criticado Caetano e Gil, então no exílio, por denegrirem a
imagem do país no exterior. Era impossível eu ter feito tal declaração. O
repórter do “JB”, que era também prefaciador do livro, disse que a matéria fora
colhida no jornal “Última Hora”, numa edição de 1971. Procurei saber, e a
declaração tinha sido de fato publicada numa coluna chamada Escrache. As fontes
do biógrafo e pesquisador eram a “Última Hora”, na época ligada aos porões da
ditadura, e uma coluna cafajeste chamada Escrache. Que eu fizesse tal
declaração, em pleno governo Médici, em entrevista exclusiva para tal coluna de
tal jornal, talvez merecesse ser visto com alguma reserva pelo biógrafo e
pesquisador. Talvez ele pudesse me consultar a respeito previamente e tirar
suas conclusões. Mas só me procuraram quando o livro estava lançado. Se eu
processasse o autor e mandasse recolher o livro, diriam que minha honra tem um
preço e que virei censor.
Nos anos 70 a TV Globo me proibiu. Foi além da
Censura, proibiu por conta própria imagens minhas e qualquer menção ao meu
nome. Amanhã a TV Globo pode querer me homenagear. Buscará nos arquivos as
minhas imagens mais bonitas. Escolherá as melhores cantoras para cantar minhas
músicas. Vai precisar da minha autorização. Se eu não der, serei eu o censor.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá queridos leitores, bem vindo a pagina do Blog Imperial. Seu comentário é de extrema importância para nosso crescimento.
Marcos Imperial