Jornalista e titular do Observatório da Imprensa,
Alberto Dines diz que matéria de capa que aponta regalias a José Dirceu na
prisão não é reportagem, "é pura cascata", que mistura "altas
doses de rancor" com "velhacaria em oito páginas artificialmente
esticadas e marombadas"; segundo ele, a revista cometeu "abuso de
poder, invasão da privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à
ética jornalística"; para ele, jogada invadiu a seara da "formação de
quadrilha, ao confirmar-se que o autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não
entrou na penitenciária e que alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas
fotos e as, digamos, 'informações'".
Via 247 - A capa da última edição da
revista Veja foi alvo de mais uma crítica, desta vez por parte do renomado
jornalista Alberto Dines. Em artigo publicado no Observatório da Imprensa,
ele diz que a publicação da Abril cometeu "abuso de poder, invasão da
privacidade e, principalmente, um torpe atentado ao pudor e à ética
jornalística" no texto que aponta regalias a José Dirceu na prisão.
Matéria tem "altas doses de rancor", acrescenta. Leia abaixo:
Novo surto de
vale-tudo
Por Alberto Dines
em 18/03/2014 na edição 790
Na tarde de 12 de abril de 2011, em aula da
primeira edição do Curso de Pós-Graduação em Jornalismo, da ESPM-SP, Eurípedes
Alcântara, diretor de Redação da Veja, na condição de professor-convidado,
declarou, para espanto dos 35 alunos presentes: "Tratamos o governo Lula
como um governo de exceção". Na capa da última edição do semanário (nº
2365, de 19/3/2014), o jornalista ofereceu trepidante exemplo da sua doutrina.
Para comprovar a ilegalidade das regalias que
gozaria o ex-ministro José Dirceu no Complexo da Papuda, Veja cometeu
ilegalidade ainda maior. Detentos não podem ser fotografados ou constrangidos,
o ato configura abuso de poder, invasão da privacidade e, principalmente, um
torpe atentado ao pudor e à ética jornalística. Um bom advogado poderia até
incriminar os responsáveis por formação de quadrilha ao confirmar-se que o
autor da peça (o editor Rodrigo Rangel) não entrou na penitenciária e que
alguém pagou uma boa grana aos funcionários pelas fotos e as, digamos,
"informações".
"Exclusivo – José Dirceu, a Vida na
Cadeia" não é reportagem, é pura cascata: altas doses de rancor combinadas
a igual quantidade de velhacaria em oito páginas artificialmente esticadas e
marombadas. As duas únicas fotos de Dirceu (na capa e na abertura), feitas
certamente com microcâmera, não comprovam regalia alguma.
Ao contrário: magro, rosto vincado, fortes
olheiras, cabelo aparado, de branco como exige o regulamento carcerário, não
parece um privilegiado. Se as picanhas, peixadas e hambúrgueres do McDonald's
supostamente servidos ao detento foram reais, Dirceu estaria reluzente,
redondo, corado. Um preso em regime semiaberto pode frequentar a biblioteca do
presídio, não há crime algum.
Agentes provocadores
A grande imprensa desta vez não deu cobertura ao
semanário como era habitual. Constrangido, o Estado de S.Paulo foi na direção
contrária e já no domingo (16/3) relatava, com chamada na primeira página, as
providências das autoridades brasilienses para descobrir os cúmplices do
vazamento (ver "Dirceu teria mais regalias na cadeia; DF nega"). Na
segunda-feira, na Folha de S.Paulo, Ricardo Melo lavou a alma dos jornalistas
que repudiam este jornalismo marrom-escuro (ver "O linchamento de José
Dirceu").
O objetivo da cascata não era linchar Dirceu, o que
se pretendia era acirrar os ânimos, insuflar indignações contra uma suposta
impunidade, alimentar a agenda dos black-blocks (ou green-blocks?).
Os agitadores e agentes provocadores estão
excitadíssimos às vésperas dos 50 anos do golpe militar. O violento
quebra-quebra na sexta-feira (14/3), na Companhia de Entrepostos e Armazéns
Gerais de São Paulo (Ceagesp) – o maior do gênero na América Latina – não foi
provocado pelos caminhoneiros que passariam a pagar pelo estacionamento. Foi
obra de profissionais do ramo da agitação política com a inestimável ajuda da
PM, que demorou três horas para chegar ao campo de batalha.
As convocações para atos e passeatas destinadas a
homenagear o golpe de 1964 não falam na derrubada de Jango, falam em derrotar o
PT. Convém lembrar que a rede Ceagesp é, desde 1997, federalizada, ligada ao
Ministério da Agricultura.
Num governo de exceção vale tudo. Também no
jornalismo de exceção.
***
Depois de três edições e três turmas de valentes
profissionais, o Curso de Pós-Graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção
Editorial, parceria da Editora Abril com a ESPM, foi suspenso. Na véspera do
primeiro aniversário da morte de Roberto Civita, está desativada uma de suas
mais lindas façanhas no campo da formação profissional. Não merecia.
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Marcos Imperial