
Separação entre trabalho e horas livres ficou
muito mais difusa
"Você está de férias, mas checa os
e-mails do trabalho assim que acorda. E fica preocupado se o hotel não tiver um
bom wi-fi ou se seu celular ficar sem sinal.
Matthew Wall, BBC Brasil
Esses são típicos indícios de que você pode
sofrer do estresse conhecido como "sempre ligado", que afeta pessoas
que não conseguem largar de seus smartphones.
Para alguns, os aparelhos os liberaram
de uma rotina rígida no escritório. As horas de trabalho ficaram mais flexíveis,
dando mais autonomia ao funcionário. Para outros, no entanto, os smartphones se
transformaram em verdadeiros tiranos dentro do bolso, impedindo que seus
usuários se desconectem do trabalho.
E essa dependência torna-se cada vez mais
preocupante, segundo observadores.
O americano Kevin Holesh estava tão preocupado
com o fato de ignorar cada vez mais parentes e amigos por conta de seu iPhone
que criou um aplicativo - Moment - para monitorar seu próprio uso.
O aplicativo lhe permite contar a quantidade de
tempo gasta no smartphone e adverte se esse uso ultrapassar limites que Holesh
se autoimpôs.
"O objetivo é promover o equilíbrio na
vida", diz seu site. "(Passar) um tempo no telefone e um tempo sem
ele, aproveitando sua família e seus amigos."
Desligar
E alguns empregadores estão percebendo que não é
muito fácil manter esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Alguns precisam de ajuda externa.
A montadora alemã Daimler, por exemplo,
recentemente passou a oferecer um "apagador" automático de e-mails
para funcionários em férias, reconhecendo que muitos têm dificuldade em se
desligar do trabalho.
"Os impactos negativos dessa cultura do
'sempre ligado' são que a sua mente nunca descansa, você não dá ao
seu corpo o tempo para se recuperar e fica sempre estressado",
disse à BBC a psicóloga ocupacional Christine Grant, do centro de pesquisas em
psicologia e comportamento da Universidade Coventry (Grã-Bretanha).
"E, quanto mais cansaço e estresse, mais
erros cometemos. A saúde mental e física pode sofrer."
O fato de podermos estar conectados ao trabalho
em qualquer lugar do mundo está fomentando inseguranças, prossegue Grant.
"Há uma enorme ansiedade quanto a
delegar", diz. "Na minha pesquisa, encontrei diversas pessoas
exaustas porque viajavam conectadas o tempo todo, independentemente do fuso
horário em que estivessem."
As mulheres causam preocupação
em especial: muitas passam o dia trabalhando, voltam para casa para cuidar
dos filhos e ainda fazem uma jornada extra no computador antes de dormir.
"Essa jornada tripla pode ter um grande
impacto na saúde", opina Grant.
Adoecendo
O presidente da Sociedade Britânica de Medicina
Ocupacional, Alastair Emslie, concorda, alegando que centenas de milhares de
britânicos relatam anualmente sofrer de estresse no trabalho - a ponto de
adoecerem.
"As mudanças tecnológicas contribuem para
isso, sobretudo se fizerem os funcionários se sentirem incapazes de lidar com
as crescentes demandas ou perderem o controle sobre sua carga de
trabalho."
Dados indicam que os britânicos passam até 11
horas diárias consumindo mídias; e o Brasil tem um dos maiores índices globais
de uso diário de smartphones (cerca de uma hora e meia).
E, com o crescimento no número de smartphones,
cresce também a quantidade de dados à nossa disposição - o que pode levar a uma
espécie de paralisia, argumenta Michael Rendell, que trabalha com a consultoria
PwC.
"Isso cria mais estresse no ambiente de
trabalho porque as pessoas estão tendo de englobar uma quantidade maior de
informações e meios de comunicação, e é difícil gerenciar tudo. Torna-se mais
difícil tomar decisões, e muitos perdem produtividade por estarem
sobrecarregados e sentirem que nunca escapam do trabalho."
"Achamos que ficar checando e-mails é
trabalhar, mas muitas vezes não é algo produtivo", argumenta o advogado
britânico Tim Forer.
Ele explica que a checagem constante de e-mails
fora do escritório pode, em alguns casos, desrespeitar legislações
trabalhistas. "Isso coloca em risco o dever da empresa em zelar por seus
empregados", diz.
Disponíveis
Uma pesquisa da empresa de TI SolarWinds diz que
mais da metade dos trabalhadores entrevistados sente que é esperado que eles
trabalhem mais rápido e cumpram prazos menores por estarem mais conectados.
Quase a metade deles acha que seus empregadores esperam que eles estejam
disponíveis a qualquer hora ou lugar.
Claro que nem tudo é negativo. Chris Kozup,
diretor da empresa de telecom Aruba Networks, diz que um estudo conduzido pela
própria empresa "mostra que essa ideia de estar 'sempre ligado' está, na
verdade, ajudando os trabalhadores a gerenciarem o equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal".
A chave é fazer com que essa flexibilidade aja em
seu favor e ser disciplinado quanto ao uso de smartphones.
Ou seja, se você vai sair de férias, lembre-se de
ativar os alertas que avisarão que você estará "fora do escritório",
de desligar seu telefone e mantê-lo longe do alcance quando for dormir. E o
conselho de Christine Grant é: lembre-se de que "raramente você é o único
capaz de resolver um problema" no escritório."
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Marcos Imperial