"Um
diálogo com um menino da sexta série trouxe à baila o lado da maternidade que
ainda não estamos preparadas para discutir. Está na hora de começar
a falar sobre nossa luta para que nossos filhos entendam o que
estamos enfrentando, nossos maridos entendam por que estamos cansadas o tempo
todo e, como mulheres, possamos ter mais empatia umas pelas outras e comecemos
a nos concentrar em soluções que tragam alívio a nossas vidas.
Traci
Bild*, Huffington Post. Tradução: Brasil Post
Ao entrar
em uma sala de aula da sexta série para dar uma palestra de cunho social,
percebi um lindo menino de cabelo louro tão claro que era quase branco. Ele
tinha olhos azuis brilhantes e a pele imaculada. Olhando para ele, pensei no
meu próprio filho e em como ele havia crescido depressa – num dia era um bebê e
no outro estava praticamente adulto (pelo menos é o que parece).
Eu estava programada para
falar para seis classes sobre editoração de livros, e esta era minha última
palestra do dia. Acreditem, eu estava bem aquecida! Comecei mostrando dois
livros de negócios que já havia publicado, e depois meu atualprojeto e obra
da vida inteira, Get Your Girl Back [Recupere a sua menina].
Um dos garotos levantou a
mão e disse: “sobre o que é esse livro, ‘Recupere a sua menina’?”
Puxa vida…
como eu poderia explicar isso em termos que crianças da sexta série
compreendessem? Comecei delicadamente, tateando com as palavras…
“Você sabe quando sua mãe o
deixa no ponto de ônibus ou na escola e então vai para o trabalho?”
A maioria
das crianças balançou a cabeça e disse “sim…”
“Ela pode trabalhar das 9
às 17h ou até 18h, depois volta para casa, certo? Mas então ela começa a
trabalhar de novo. Faz o jantar, limpa a cozinha, talvez lave um monte de
roupas e o ajude com a lição de casa.”
Fiquei
surpresa – as crianças estavam na beirada das cadeiras, atentas a cada palavra
minha.
Então
continuei: “Sem querer, sua mãe pode ficar meio chata, talvez gritar com você,
sem intenção – porque ela está realmente cansada e, mesmo sem perceber, perde a
paciência.”
As
crianças balançavam as cabeças e algumas diziam “sim” em voz alta.
“Bem, meu
livro é para ajudar sua mãe, porque ela não quer ser assim. Ela não quer ficar
cansada, ela quer brincar e conversar com você. Acredite ou não, ela quer se
divertir e fazer as coisas que fazia quando era menina, na sua idade, antes que
a vida a obrigasse a crescer. O problema é que sua mãe não tem certeza de como
fazer isso, na verdade, porque ela tem tanta coisa para fazer em um dia que
tudo o que ela realmente quer é dormir!”
Eu
continuei muito suavemente e expliquei que já tinha sido essa mãe, mas tinha encontrado
uma maneira de sair da opressão diária. Minha paixão, meu livro, pretendia
ajudar suas mães a fazer a mesma coisa.
Como tenho dois filhos,
fiquei arrasada ao ver como esses garotos estavam interessados. Todos os
olhares estavam fixos em mim – os meninos, as meninas e até a professora
escutavam atentamente cada palavra que eu dizia. Era como se eles
compreendessem exatamente o que eu estava falando (na verdade, eu
pensava que esse assunto não interessaria aos garotos).
Eu tenho uma pergunta…
Então o
menino louro que vi quando entrei levantou a mão para fazer uma pergunta. “Eu
não tenho uma pergunta, mas sabe as mães de que você estava falando, as que
trabalham o dia inteiro?”
“Sim”,
respondi.
“Bem,
minha mãe é assim. Ela trabalha das 9 até as 18h e então volta para casa e pega
seu laptop e trabalha por mais algumas horas… ela é como essa mãe de que você
falou.”
Não foi
exatamente o que ele disse, mas o modo como disse que partiu meu coração. Havia
tristeza. Ele tinha acabado de perceber pelo que sua mãe estava passando. Eu
pude ver um despertar em sua expressão… não apenas como “mãe dele”, mas como
mulher. Pela primeira vez em sua vida, ele estava do lado de fora olhando para
dentro e viu sua mãe de modo diferente.
Mãe e
filho tentando encontrar um caminho no mundo, com esperanças, sonhos e o desejo
de criar uma boa vida.
Fiquei
arrepiada.
Olhei para
o menino diretamente nos olhos e disse: sSua mãe o ama mais que a própria
vida”.
Ele
parecia tão triste e arrasado… tive de me esforçar para não chorar. Continuei:
“Sua mãe provavelmente sofre tamanha pressão, que nem percebe que não está
dedicando tempo a você. Ela quer brincar e rir com você, simplesmente não sabe
como fazer isso”.
Na minha mente, eu estava
revendo os milhares de conversas que tive com mães trabalhadoras nos últimos 20
anos, enquanto dava consultoria a empresas, como palestrante e coach
profissional. Suas barreiras raramente eram relacionadas ao trabalho, e sim
pessoais, e quando não eram resolvidas se refletiam na queda do desempenho no
trabalho.
Olhei ao
redor da sala… ainda não podia acreditar no modo como aquele menino estava se
expondo na frente de toda a classe. Mas a verdade era que éramos apenas ele e
eu conversando sobre a mãe dele. Ele não se importava com o que os outros
pensassem ou pudessem dizer, ele estava processando o que era a vida da mãe
dele, não em relação a si mesmo e suas necessidades, mas à vida e às
necessidades dela, o que ela suporta, e vendo-a sob uma luz diferente.
De maneira
surpreendente, as outras crianças continuavam me ouvindo, e no centro dessa
conversa tão inesperada elas entenderam: a mãe delas deveria ter tudo
resolvido, quer trabalhasse fora de casa quer não, mas na verdade não tinha.
Fui para a
escola ensinar às crianças sobre editoração e saí tendo aprendido que as
crianças são muito mais intuitivas do que pensamos – e que precisamos falar com
elas sobre as realidades de ser uma trabalhadora no século 21. A verdade é que
a maioria de nossas avós não trabalhava fora de casa, mas hoje 40% das mulheres
são as provedoras da família. Nesse período de tempo, ninguém deu às mães um
manual de instruções sobre como lidar com tudo isso, e por mais que nos
esforcemos para esconder ainda não estamos fazendo um trabalho muito bom.
Apesar de termos “mais”, as mulheres são menos felizes hoje do que em qualquer
outro momento da história.
Em vez de
agir como se tivéssemos resolvido tudo, está na hora de começar a falar sobre
nossa luta para que nossos filhos entendam o que estamos enfrentando, nossos
maridos entendam por que estamos cansadas o tempo todo e, como mulheres,
possamos ter mais empatia umas pelas outras e comecemos a nos concentrar em
soluções que tragam alívio a nossas vidas.
Também
aprendi que não estou apenas lutando pelas mulheres, mas pelos filhos também, e
por mais que lutemos, devo pressionar e continuar defendendo as mulheres que
não podem ou não conseguem defender a si mesmas. Nunca esquecerei o olhar
daquele menino nem o som de sua voz… tão desesperado para compreender por que
sua mãe passa tão pouco tempo com ele. Eu nunca esquecerei as crianças
penduradas de cada palavra minha porque para muitas delas eu também estava
falando sobre suas mães.
Podemos falar sobre isto?
Não
importa o quanto este blog o afete, se ele o deixa irritado comigo por falar a
verdade ou atinge um nervo porque você pode entender a situação, o que eu mais
quero é iniciar a conversa. Ninguém quer ser “aquela mãe” que trabalha o tempo
todo, passa pouco tempo com os filhos, grita com eles quando eles tentam falar
porque ela está verificando e-mails, distraída em seus pensamentos sem sequer
perceber o que está fazendo — e isolando-se das pessoas que ela mais ama. Mas
muitas de nós estamos fazendo exatamente isso!
Se
quisermos ver a mudança, temos de começar a falar a verdade sem medo de ser
julgadas.
Devemos
nos ajudar umas às outras, falando em vez de julgar; mostrando nossas
vulnerabilidade em vez de agir como se tudo estivesse perfeito em nossas vidas.
Eu já fui “aquela mãe”, mas me orgulho de dizer que hoje não sou. Começarei a
conversa oferecendo seis pequenos passos que dei que levaram a outros e afinal
transformaram minha vida.
1.
Respire. É sério, faça uma respiração profunda para dentro e para fora,
para dentro e para fora e desacelere por um momento. Você precisa respirar!
2. Faça
listas. Como mulher, você provavelmente foi educada para acreditar
que
poderia conseguir “tudo”, e esteve se matando para tentar consegui-lo. Sabe o
que é esse tudo? Como você vai saber quando o tiver? Você está perdendo o que é
mais importante no esforço para conquistar tudo?”
3.
Priorize sua vida. Seja honesta sobre o que é mais importante para você.
Está respeitando essas prioridades? Se não, provavelmente está em
desequilíbrio, infeliz e não realizada. Escreva suas três maiores prioridades e
considere que adaptações você pode fazer para colocá-las em ordem.
4. Assuma
o comando. Considere mudar seu foco de ter “tudo” para o “seu tudo”.
Provavelmente não é preciso muito para deixá-la feliz. Estou falando sobre a
verdadeira felicidade, no fundo da sua alma. Então, o que ela faz por você?
Construa seu tudo em torno das prioridades mais importantes. Faça uma lista
resumida do que você quer na vida, o que você chama de “seu tudo”, e em vez de
tentar ter o que todo mundo tem, persiga o que é mais importante para você.
5. Faça
mudanças. Se você não gosta da sua vida, modifique-a. Pequenas alterações
podem criar enormes efeitos na sua felicidade. Que duas ou três pequenas
mudanças você pode fazer esta semana?
Para a mãe do menino
Enquanto
eu me emocionei com aquele menino na classe, também tive simpatia por sua mãe.
Ser uma mãe trabalhadora não é fácil. Para ela e outras mães que se sentem
arrasadas, eu diria: respire fundo, tudo vai dar certo. Conforme o ano termina,
faça listas de prioridades na sua vida, assuma o comando e faça pequenas
mudanças que a levarão para um lugar melhor ao entrar em 2015. Se você já
chegou lá, apoie e anime as mães que ainda não entenderam. Vamos falar sobre
isto hoje para que nossas filhas não continuem falando a respeito amanhã.
Juntas podemos fazer a mudança que queremos ver."
*Traci
Bild é mãe, escritora, palestrante e empreendedora
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Marcos Imperial