MIGUEL DO ROSÁRIO
Aécio tenta surfar, naturalmente, nas
investigações da Petrobrás. Quem ouve desprevenido poderá pensar que Aécio é o
presidente da república e que foi no governo dele que a Polícia Federal
resolveu investigar a fundo a corrupção nas estatais.
Eis que o candidato derrotado
Aécio Neves – e que, pelo jeito, ainda não se conformou com isso – dá uma
entrevista à um programa da Globonews e diz que perdeu a eleição para uma
“organização criminosa”.
Aécio tenta surfar,
naturalmente, nas investigações da Petrobrás.
Quem ouve desprevenido poderá
pensar que Aécio é o presidente da república e que foi no governo dele que a
Polícia Federal resolveu investigar a fundo a corrupção nas estatais.
Ora, o que está acontecendo é
mérito de Dilma, que nunca interferiu no trabalho da Polícia Federal. Dilma e
Lula, porque ambos contrataram milhares de novos delegados federais e agentes
da PF, e lhes deram liberdade. Liberdade inclusive política.
Em que outro governo, um grupo
de delegados se sentiria livre para fazer festinha em Facebook com invectivas
contra o governo?
É um excesso, claro, mas também
reflete o clima de liberdade democrática.
É tanta liberdade que chega a flertar
com o liberticismo suicida, visto que estes mesmos delegados são os
responsáveis pela Lava Jato, uma operação importante, que já prendeu executivos
e presidentes de empreiteiras, mas que vem eivada de irregularidades, como
vazamentos seletivos para a grande imprensa de trechos de depoimentos
sigilosos. Sempre em prejuízo da base aliada.
Mas, enfim, liberticida ou
suicida, continua sendo liberdade.
A mesma coisa vale para o
Ministério Público, para o Judiciário e para a mídia.
Como o PT não tem força ou
presença nessas instâncias, não faz nem pode fazer pressão para abafar.
Com o PSDB, tudo sempre é
abafado. Os procuradores esquecem os processos em gavetas. Os juízes estiram os
processos por anos, até que prescrevem, e a mídia dá notinhas para cumprir tabela,
mas não insiste, não acompanha, não faz editoriais para mobilizar a opinião
pública, não se engaja.
E por que?
Porque sempre houve relações
orgânicas, familiares, de classe, entre os donos do poder. Os políticos tucanos
ou do DEM são parentes e amigos dos juízes e dos procuradores. Frequentam os
mesmos restaurantes e fazem as mesmas viagens ao exterior.
Por isso são ídolos nas coxias
dos aeroportos.
(E ficam nervosos com os pobres
invadindo seu espaço).
Esse é o patrimonialismo
denunciado por Raymondo Faoro, viu Gurgel?
Faoro não denunciou o
patrimonialismo do PT, como você tentou vender na denúncia do mensalão.
Faoro denunciou o
patrimonialismo das classes proprietárias, cujas posses vão minguando, então
eles vão colocando seus filhos em cargos públicos para compensar a perda do
poder econômico.
A elite então passa a dar mais
valor a ocupação de cargos no judiciário, no ministério público, nos altos
escalões da polícia, exército. Enfim, dos estamentos.
Por isso, a tese do Fabiano
Santos é tão genial. A democracia está desinfetando a corrupção. O atrito entre
as instituições, pondo Executivo de um lado, e Judiciário e MP de outro, criou
uma independência que nunca havíamos visto.
O ódio político criou a independência
que apenas a ética profissional não foi capaz de produzir.
O perigo, naturalmente, seria um
novo golpe. Mas como a democracia parece bastante sólida, até por conta da
existência, hoje, de uma base social muito mais consciente do que nos anos 60,
a briga de poder entre os estamentos pode, no máximo, produzir arbítrios
judiciais, como no caso do mensalão.
Mas não golpes de Estado.
*
Leio que o PT irá processar
Aécio Neves pela frase proferida.
Ora, não basta!
A resposta tem de ser,
sobretudo, política.
Aécio Neves tem de pagar
politicamente por sua irresponsabilidade.
A mídia não cobra nada de Aécio
Neves.
O tucano e a mídia tentam
justificar a derrota depreciando a campanha de Dilma. Dizem que foi mentirosa,
suja, etc.
Mentirosa, suja e bandida foi a
campanha dele, de Aécio Neves!
A pistolagem midiática toda se
uniu em prol do PSDB!
Se Aécio quer continuar a
campanha, então vamos continuar.
Vamos lembrar que ele nomeou o
próprio pai para a Cemig, que sua irmã cuidou das verbas para a mídia de Minas
Gerais, incluindo aí a própria rádio da família, que foram construídos
aeroportos, com recursos públicos, para uso particular.
Que ele empregou a parentalha
toda no governo!
Que há podres em Claudio,
relacionados a trafico de drogas, homicídios, ossadas humanas, que dão para
encher vários aeroportos clandestinos!
E muitas outras coisas cabeludas
que levantamos durante a campanha. Tudo sempre acompanhado de provas.
Quem se fia apenas em fonte
anônima e delação de bandido é a Veja e a mídia corporativa.
Dilma venceu com apoio de uma
grande base popular orgânica, que se mobilizou com muita força, sobretudo no
segundo turno.
A Petrobrás acaba de criar uma
diretoria especializada em combater a corrupção.
Como eu havia previsto, a estatal
será modelo também nesse quesito.
Para isso, foi preciso um
conjunto de circunstâncias.
O PSDB vendeu metade da
Petrobrás na bolsa de Nova York, afundou a P-36 e aprovou leis que
flexibilizavam a vigilância dos processos de licitação.
Mesmo com tudo isso, jamais
acusaríamos os milhões de eleitores de Aécio Neves de “cúmplices”, como fez um
dos âncoras da Globo, Alexandre Garcia.
Nem chamaríamos o PSDB de
organização criminosa.
No entanto, podemos afirmar,
como diz o título do post, que Dilma venceu uma organização criminosa: esse
grupo social nojento que mistura marchadeiros da intervenção militar, udenistas
histéricos, zumbis da mídia, colunistas racistas, âncoras da ditadura, fundamentalistas
hipócritas, e uma mídia golpista cevada à sombra do regime militar.
As organizações criminosas que
vivem da corrupção temem o PT, é claro.
Porque o PT não tem, como o
PSDB, o poder de abafar escândalos.
O PT não teve força para impedir
que houvesse corrupção na Petrobrás, e isso foi um erro do partido que ele está
pagando, e caro; mas também não tem força para impedir a investigação contra a
própria base aliada, e esta é uma fraqueza que convêm à nossa democracia.
É uma ironia típica de uma
democracia. O ódio político que setores do Ministério Público, do Judiciário,
da mídia, e da própria Polícia Federal, desenvolveram contra o PT, acaba se
voltando em favor da democracia, ao aprofundarem investigações que, havendo
outro partido no poder, jamais seriam aprofundadas.
O risco é a repetição do que
ocorreu na Ação Penal 470. Que este ódio se transforme em arbítrio, que
direitos de defesa sejam violados e que alguns réus sejam condenados sem
provas.
Isso não interessa à democracia,
em absoluto.
Pode ser o empreiteiro mais rico
e mais cafajeste do país. Pode ser o político mais crápula. Sem provas, não se
deve jamais condená-lo apenas porque a mídia quer, ou para vender ao povo que
“agora os ricos e poderosos também vão para a cadeia”.
Na história mundial das
ditaduras, sempre foi comum ver ricos e poderosos indo para a cadeia.
Bastava não ser amigo do ditador da vez. No caso do Brasil hoje, basta não ser
amigo dos tiranetes que controlam a mídia e o judiciário.
Sim, porque eles não incomodam,
jamais, os amiguinhos da mídia.
A prova disso é que as mesmas
empreiteiras flagradas agora pagando propina a diretores da Petrobrás também
estavam envolvidas no buraco do metrô. As mesmas! Os mesmos executivos!
Não houve prisão de ninguém. Não
houve delação premiada. Não houve nada.
E sete pessoas morreram!
A mesma coisa no afundamento da
plataforma P-36, a maior do mundo, da Petrobrás.
Onze pessoas morreram. Não houve
investigação decente, prisão, delação premiada. Nada!
Por que? Porque não atingia o
PT.
*
Aécio Neves está cada vez mais
embriagado por sua derrota.
O chamego dos ricos e da mídia à
sua pessoa está lhe fazendo perder a prudência necessária para exercer a
atividade política.
Ao invés de se preparar para ser
um nome forte para 2018, Aécio continua apostando num terceiro turno agora,
imposto pela força da mídia e dos tiozinhos nervosos que marcham na Paulista.
Isso é feio, candidato.
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Marcos Imperial