quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

EMOCIONADA, DILMA DIZ QUE PAÍS TEM DIREITO À VERDADE

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Em discurso durante a cerimônia de entrega do relatório final dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, presidente se emociona ao falar sobre os parentes das vítimas da ditadura militar, que "continuam sofrendo como se eles morressem de novo, e sempre, a cada dia"; Dilma Rousseff diz que trabalho da comissão, que traz à tona a verdade sobre o período, "fez crescer a possibilidade de o Brasil ter um futuro plenamente democrático e livre de ameaças autoritárias"; ela negou "revanchismo" ou "acerto de contas" e, em meio a manifestações convocadas pela oposição que pedem a volta do regime militar, condenou o retorno de "fantasmas do passado".

247 – A presidente Dilma Rousseff se emocionou nesta manhã ao discursar durante a cerimônia de entrega do relatório dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, que aponta a responsabilidade de mais de 300 militares por crimes cometidos no período da ditadura. Dilma defendeu que o Brasil tem direito a saber a verdade sobre esse período, e que "a verdade não significa a busca de revanche. A verdade não precisa ser motivo para ódio ou acerto de contas".

"A verdade produz consciência, aprendizado, conhecimento e respeito. A verdade significa a oportunidade de apaziguar cada indivíduo consigo mesmo e um povo com a sua história. A verdade é uma homenagem a um Brasil que já trilha três décadas de um caminho democrático. Tornar público este relatório nesta data é um tributo a todas as mulheres e homens do mundo que lutaram pela liberdade pela democracia e, com essa luta, ajudaram a construir marcos civilizatórios e tornaram a humanidade melhor", afirmou, em referência ao Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Dilma chorou e fez uma pausa no discurso ao dizer que os parentes das vítimas da ditadura "continuam sofrendo como se eles morressem de novo, e sempre, a cada dia". Nesse momento, foi aplaudida de pé pelos presentes.

O trabalho da comissão, prosseguiu a presidente, "fez crescer a possibilidade de o Brasil ter um futuro plenamente democrático e livre de ameaças autoritárias". O discurso é feito em um momento em que manifestações contra Dilma, convocadas inclusive por líderes da oposição, pedem o retorno do regime militar. Ela condenou a volta de "fantasmas do passado".

Abaixo, reportagem da Agência Brasil:

Dilma chora ao receber relatório da Comissão da Verdade: país merece a verdade

Luana Lourenço – A presidenta Dilma Rousseff recebeu hoje (10) o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e disse que o trabalho do grupo vai ajudar a afastar "fantasmas de um passado doloroso" e permitir que os brasileiros conheçam a história das violações aos direitos humanos durante a ditadura militar para que elas não se repitam.

"Nós, que acreditamos na verdade, esperamos que esse relatório contribua para que fantasmas de um passado doloroso e triste não possam mais se proteger nas sombras do silêncio e da omissão".

Muito emocionada, Dilma chorou ao dizer que o Brasil merecia a verdade sobre a ditadura militar, e ao lembrar dos parentes das vítimas e desaparecidos. "Sobretudo merecem a verdade aqueles que perderam familiares e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia", disse, com a voz embargada, após interromper o discurso por causa do choro.

O relatório final da CNV faz um relato das atividades desenvolvidas pelo colegiado durante os dois anos e sete meses de investigações, além de fatos apurados, conclusões e recomendações. De acordo com o coordenador do colegiado, Pedro Dallari, uma das conclusões mais importantes do relatório final é a confirmação de que as graves violações aos direitos humanos, durante o período da ditadura militar, foram praticadas de maneira sistemática.

Dilma agradeceu e elogiou o trabalho dos integrantes do grupo e disse que a conclusão das atividades da comissão não representa um ponto final nas investigações das violações de direitos humanos na ditadura. Segundo Dilma, o Estado brasileiro vai se "debruçar" sobre o relatório, "olhar as recomendações e propostas e tirar as consequências necessárias". A presidenta citou os trabalhos de comissões da verdade estaduais e setoriais como complementares ao trabalho do colegiado.

Dilma também fez um agradecimento aos órgãos que colaboraram com as investigações da comissão e aos "homens e mulheres livres que relataram a verdade para a comissão", principalmente aos parentes de vítimas e sobreviventes do período militar.

"Presto homenagem e manifesto caloroso agradecimento aos familiares dos mortos e desaparecidos, aqueles que com determinação, coragem, generosidade, aceitaram contar suas histórias e histórias de parentes, amigos, companheiros que viveram tempos de dor, morte e sofrimento".

A presidenta ressaltou o trabalho histórico da comissão e a importância das investigações do grupo para o reconhecimento do direito à memória – principalmente para as gerações que nasceram após o período militar – e para a reconciliação nacional, com valorização dos pactos e acordos que levaram o país à redemocratização.

"Com a criação dessa comissão, o Brasil demonstrou a importância do conhecimento desse período para não mais deixá-lo se repetir", disse. "Conhecer a história é condição imprescindível para construí-la melhor. Conhecer a verdade não significa reagir, não deve ser motivo para ódio. A verdade liberta daquilo que permaneceu oculto", comparou.

Ao receber o documento de 4,4 mil páginas, que também está disponível na internet, Dilma disse que a apresentação simultânea para o governo e para a sociedade mostra que o trabalho da CNV foi isento de interferências e que é resultado de uma decisão do Estado brasileiro, e não apenas de um governo.

Criada pela Lei 12.528/2011 e instalada em maio de 2012 para examinar e esclarecer violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, principalmente no período da ditadura militar (1964-1985), a Comissão Nacional da Verdade terá seus trabalhos encerrados no próximo dia 16. No relatório final, o grupo sugere a criação de um órgão público para dar seguimento e a continuidade às ações da CNV.

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Marcos Imperial

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