Sei que a oposição e o conservadorismo da sociedade brasileira vão
festejar a última pesquisa Datafolha como uma vitória política e,
consequentemente, uma derrota do governo central, no caso, governo Dilma.
Mas,
mesmo sem ter tido acesso a todas as variáveis da pesquisa, com suas
amostragens e resultados detalhados, posso afirmar – lendo apenas aquilo que
foi publicado na tarde de sábado – que “o buraco é mais embaixo”. A pesquisa
mostra uma deterioração do ambiente político brasileiro em que o governo Dilma,
por ser o poder central, é quem mais drena o descontentamento popular. Não
estou aqui ignorando os ataques sofridos pelo governo na conjuntura, nem
tampouco a ofensiva conservadora contra o PT totalmente desproporcional, se considerarmos
a cobertura das denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras, comparado com
outras denúncias do momento, como a do Metrô de São Paulo, ou mesmo de outros
partidos investigados na operação Lava Jato.
Os ataques ao PT também atingem o
governo Dilma. Esses aspectos, que são específicos, e que podem gerar uma
“volátil alegria para a oposição”, interferem na conjuntura, mas o que quero
tratar aqui é de um problema estrutural, facilmente lido na pesquisa divulgada
neste final de semana: a crise das instituições brasileiras. As denúncias de
corrupção (mesmo sendo combatidas pelas instituições do Estado brasileiro, no
caso da Petrobras, pelos organismos federais), a crise hídrica, que atinge
prioritariamente o governo paulista e os demais aspectos conjunturais,
principalmente os reflexos da crise econômica internacional na economia
brasileira, trazem mais uma vez para a superfície o sentimento de mudança que
foi materializado em junho de 2013, que expressa um problema estrutural, de
crise de representatividade das instituições brasileiras. Não estou afirmando
aqui que a história vai se repetir, que teremos manifestações idênticas, mas
existe na sociedade um anseio para uma nova agenda para a política brasileira
que alimenta “uma vontade de mudar” que atinge todos aqueles que estão
exercendo tarefas de governo, seja no plano federal, estadual ou municipal, e
mesmo a legitimidade das instituições do Estado. Neste caso, não há o que
comemorar e não há vitoriosos – nem situação e nem oposição, nem Executivo, nem
Legislativo e nem Judiciário. Quando o “monstro emerge da lagoa”, todos perdem.
O sentimento de mudança sem agenda propositiva abre espaço para as aventuras,
para os oportunistas “salvadores da pátria”.
Geralmente aponta para saídas
conservadoras que colocam em “xeque” as instituições de Estado e a democracia.
Mais do que nunca é a hora para a construção de uma agenda que busque a reforma
das instituições aproximando o Estado da sociedade civil. É urgente uma
verdadeira reforma política. É necessário que o poder seja compartilhado
cotidianamente com a sociedade civil, aumentando a transparência e o controle
popular sobre as esferas de governo; é hora de uma nova governança. É urgente a
construção de consensos dos entes federados para uma reforma tributária,
desonerando os setores mais fragilizados da sociedade, os assalariados.
Precisamos democratizar e popularizar os instrumentos para a comunicação, que
tornou-se a “grande arma” da sociedade civil nesse início de século XXI. É
urgente um novo pacto federativo que aprimore a qualidade da prestação de
serviços. É necessário que se entenda que o Legislativo tem que se aproximar ao
máximo da sociedade, acabando com o fosso entre representantes e representados.
O Judiciário é um poder a serviço da sociedade e tem que estar submetido ao
controle social tanto quanto as demais instâncias do Estado. Se as forças
democráticas do Brasil não entenderem o sentimento de mudança que está em
gestação no atual “silêncio da sociedade brasileira”, podemos ser surpreendidos
com engôdos que significarão golpes contra a jovem democracia brasileira. Diante desse diagnóstico, cabe ao PT, maior partido do Brasil (mesmo sendo o
que mais perdeu na conjuntura, mas também o que tem maior organicidade social),
investir na construção de uma agenda de mudanças, sabendo que a Presidenta
Dilma já se comprometeu e tem tido iniciativas para com essas mudanças.
Cabe
também ao Partido dos Trabalhadores saber construir consensos que mobilizem as
forças democráticas em um movimento de construção de transformações na
estrutura do Estado brasileiro que levem a uma nova cultura política. Edinho
Silva é deputado estadual pelo PT em São Paulo, membro da direção nacional do
PT e foi prefeito de Araraquara de 2000 a 2008.
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Marcos Imperial