Para tentar reagir à forte queda de popularidade,
a presidente Dilma Rousseff deve fazer um pronunciamento à nação logo depois do
Carnaval para anunciar as ações do governo de combate à corrupção e defender as
medidas que tem adotado em relação à Petrobras; a estratégia foi discutida em
reunião no Palácio do Alvorada, com os ministros mais próximos da petista; na
última reunião ministerial, ela pediu a todos os ministros que travassem a
batalha da comunicação; manchetômetro sinaliza que noticiário negativo predomina
na mídia nacional.
Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - Para tentar
reagir à forte queda de popularidade, a presidente Dilma Rousseff deve fazer um
pronunciamento à nação para anunciar as ações do governo de combate à corrupção
e defender as medidas que tem adotado em relação à Petrobras, que está no
centro de um escândalo de corrupção, disse à Reuters uma fonte do governo nesta
segunda-feira.
A estratégia foi discutida em reunião no
Palácio do Alvorada, nesta segunda, com os ministros mais próximos da petista.
Estavam no encontro os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da
Secreteria-Geral, Miguel Rossetto, das Relações Institucionais, Pepe Vargas, e
da Defesa, Jaques Wagner.
A secretaria de imprensa da Presidência disse,
no entanto, que não há previsão de pronunciamento à nação da presidente para a
próxima semana.
Dilma também analisa a possibilidade de
conceder uma entrevista a um veículo de imprensa nesta semana, segundo a fonte,
que falou sob condição de anonimato. O pronunciamento será, provavelmente, após
o Carnaval.
"Ela vai bater o martelo amanhã
(terça-feira). Ainda não está decidido se vai ter a entrevista e o
pronunciamento, ou só o pronunciamento", afirmou a fonte.
Na reunião, o núcleo político da presidente
avaliou que a popularidade tem sido drenada principalmente pelas seguidas
denúncias de corrupção na Petrobras, mas há também impacto dos aumentos de
tarifa de energia e do preço dos combustíveis, que teriam servido para
alimentar a sensação de que a presidente mentiu aos eleitores durante a
eleição.
Pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no
sábado, mostrou que a avaliação ótima/boa de Dilma despencou de 42 por cento em
dezembro para 23 por cento em fevereiro. Entre os entrevistados, aqueles que a
consideram ruim/péssima passaram de 24 por cento para 44 por cento.
Segundo a fonte, o pronunciamento deve ser
focado no pacote anticorrupção que a presidente pretende enviar ao Congresso
depois do Carnaval e nas ações tomadas em relação à Petrobras. As medidas para
endurecer o combate à corrupção foram defendidas por Dilma durante a campanha
eleitoral, mas ela pretende a proposta de mudanças legislativas ao Congresso.
Dilma quer, entre outras coisas, tornar crime
o uso de caixa 2 para financiar campanhas eleitorais, cuja punição atual é a
desaprovação das contas do partido ou o cancelamento do registro da candidatura
condenada.
A presidente também vai propor punição mais
rigorosa para funcionários públicos que apresentem enriquecimento sem
justificativa ou que não consigam comprovar a origem dos ganhos patrimoniais. E
também a criação de uma nova estrutura no Judiciário para acelerar o julgamento
de autoridades com foro privilegiado.
A Petrobras é alvo de investigações devido a
denúncias de superfaturamento de contratos envolvendo funcionários,
empreiteiras e partidos políticos, e os desdobramentos da operação Lava Jato,
da Polícia Federal, têm respingado no governo e em Dilma, que presidiu o
Conselho de Administração da estatal durante o governo Luiz Inácio Lula da
Silva.
Além disso, a petroleira passa por uma crise
administrativa depois que a diretoria pediu renúncia coletiva na semana
passada, o que precipitou a escolha de um sucessor. Para comandar a companhia,
Dilma indicou o ex-presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, o que gerou
críticas e reação negativa no mercado.
No Palácio do Planalto, avaliava-se que após
as eleições a popularidade de Dilma havia sido afetada, mas o que o núcleo mais
próximo da presidente não esperava era uma queda tão brusca como a apontada
pelo Datafolha.
Na reunião desta segunda, Dilma também teria
avaliado, segundo a fonte, que o governo ficou muito acuado desde a reeleição e
não conseguiu construir um discurso para explicar por que estava adotando
medidas amargas ao propor a mudança em benefícios trabalhistas e previdenciários
e anunciado um forte ajuste fiscal.
Essa falha de comunicação, na avaliação do
governo, também teria acelerado a queda de popularidade da presidente.
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