Não bastasse a longa demora, os ônibus sempre lotados e o stress do trânsito engarrafado, os usuários do transporte coletivo da capital ainda são obrigados a conviver com outro problema: o péssimo estado dos abrigos de passageiros. Quem usa o serviço diariamente conhece de perto essa realidade. As pessoas ficam expostas ao sol, à chuva e são obrigadas a esperar em pé, porque, além da cobertura, faltam bancos nas paradas. Em um dia chuvoso como nesta terça-feira, 23, os passageiros precisam improvisar para, literalmente, não tomar banho.
De acordo com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob), Natal tem aproximadamente 1.600 abrigos de passageiros, espalhados por todos os bairros, nas quatro regiões administrativas da cidade. Esse número leva em conta também os lugares onde não existe a estrutura mínima adequada, mas somente placas, geralmente fixadas em postes, indicando que ali funciona um ponto de ônibus.
Em muitos locais, porém, as pessoas reclamam até da falta de sinalização. Os usuários afirmam que precisam adivinhar onde fica a parada mais próxima. Além disso, muitas vezes são obrigados a disputar o espaço com os carros que ficam estacionados nos pontos onde o coletivo deveria parar.
A Zona Norte da cidade é a mais atingida pela falta de estrutura das paradas de ônibus. Nas principais avenidas da região é comum ver os usuários à mercê do tempo enquanto esperam o transporte. Quando dão sorte, abrigam-se sob a marquise de alguma loja, ou se protegem sob a sombra de uma árvore.
Mas o descaso não se limita àquela região. Um exemplo dessa situação é a Avenida Bernardo Vieira, um dos principais corredores de circulação de Natal, reformada em 2008 na segunda gestão do atual prefeito Carlos Eduardo Alves. Já se vão sete anos sem que o município tenha feito nenhuma manutenção naquela importante via, excerto as recorrentes operações tapa-buracos.
O retrato da Avenida Bernardo Vieira é reproduzido em quase toda a capital: abrigos sem coberturas, sem bancos e sem iluminação noturna adequada. Em muitos locais, a ferrugem da estrutura, a poluição visual e o lixo acumulado nas paradas parecem compor o cenário de uma cidade desabitada.
Diante desse quadro, um contraste tem chamado a atenção da população da capital. A gestão municipal inaugurou, em fevereiro, duas estações de transferência de passageiros, uma no Bairro latino (Zona Sul) e outra em Igapó (Zona Norte). Cada uma custou R$ 1,2 milhão, segundo a Semob. Os equipamentos, além de confortáveis, têm internet grátis, ar-condicionado e segurança privada. O problema é que, até agora, o serviço tem beneficiado poucas pessoas.
Nos horários de pico, quando o fluxo é tradicionalmente maior, quem passa pelos dois locais constata que as estações costumam estar vazias. Os usuários reclamam, principalmente, do número reduzido de linhas que fazem a transferência. A maioria prefere continuar usando os cartões de integração, que permitem aos passageiros desembarcar e embarcar em outro ônibus em qualquer parada, sem pagar outra passagem, num intervalo de uma hora e meia.
Enquanto a Semob gastou milhões em duas estações de transferência que servem a poucas pessoas, os passageiros continuam esperando o transporte em paradas velhas, desconfortáveis e desprotegidas.
A Secretaria de Mobilidade Urbana planeja recuperar 1.200 paradas de ônibus na capital. Os recursos para executar o projeto são do governo federal – como, aliás, acontece com a maioria das obras realizadas pelo município. Até que o que está programado se torne realidade, os natalenses vão seguir com sua “via crucis” à espera do ônibus nosso de cada dia.
Para se ter uma ideia da demanda, diariamente, segundo informações do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros (Seturn), 400 mil pessoas usam o transporte coletivo em Natal. Não estão incluídos aí os moradores das cidades da Região Metropolitana. O número, com esse universo extra, passaria de 530 mil usuários/dia. É uma verdadeira multidão que tem tido seu direito a um serviço de transporte público de qualidade ignorado há décadas pelo poder público local. Via mandato do Deputado Estadual Mineiro. Foto: Vlademir Alexandre.
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Marcos Imperial