Lara Brenner, Revista Bula
Aviso: este texto não é um manual, mas um conjunto de devaneios sobre como essa sequência de desastres pode estar intimamente ligada à vida de cada um de nós. Sinta-se livre para discordar, todavia, caso o faça, não seja agressivo. Apenas um debate amigável pode promover o crescimento.
A sensação que dá é a de que o apocalipse chegou mesmo para ficar. Profecias concretizam-se umas após outras e passagens bíblicas de desastres se fazem presentes a todo instante. Debates são fomentados e repensados nas redes sociais, desde os mais frutíferos até os mais improdutivos.
A quem se deve prestar mais solidariedade? Às vítimas do Bataclan na França? Aos 224 mortos do ataque contra o avião russo no Egito? Às famílias que perderam tudo no desastre de Mariana? Aos imigrantes famintos e humilhados que carregam nas costas o fardo produzido por um grupo de loucos e radicais?
Afinal de contas, solidarizar-se com alguma dessas tragédias seria ignorar as outras? Faz algum sentido tentar medir o imensurável — a dor e a desgraça — em um momento como este?
Cada um absorve e vive a vida de uma forma particular, mas, por alguma razão muito bizarra, é comum que se vejam indivíduos usando as próprias réguas para medir os outros. Posts e mais posts de brigas virtualmente homéricas tentam mensurar que dor é maior e quem merece mais atenção. Uma bobagem sem fim, que renderá tanto fruto quanto discutir sexo de anjo.
O curioso é que a grande maioria dos que esbravejam contra tudo e todos parece se contentar com seus discursos despropositados. Param por aí. Criticam o governo, as empresas privadas, os cidadãos que não sabem votar, os partidos, a corrupção e qualquer desavisado que ouse cruzar-lhes os caminhos.
Agir, que é bom mesmo, nada.
O mesmo cara que profere moralidade e baba regra na internet costuma não perceber que a única possibilidade de fazer com que a esse cenário tenha alguma chance de melhorar é olhar para dentro.
De que adianta comprar mil brigas na internet e depois pegar o carro, dirigir pelo acostamento, destratar o porteiro, jogar lixo na rua, ou não devolver o troco que veio errado?
De que adianta criticar a corrupção nas licitações e depois vender sentença, atestado médico, monografias, carteiras de estudante ou comprar peças furtadas de carro?
E o que isso tem a ver com Mariana? Bem, Mariana é um misto de corrupção, negligência, imperícia e descaso. A mesma corrupção do advogado que compra sentença; a mesma negligência do perito que recebe honorários para preencher mecanicamente uma planilha padrão, sem se importar com as consequências; a mesma imperícia de um clínico geral que se mete a fazer uma delicada cirurgia cardíaca; o mesmo descaso do pai que vê o filho se tornar um pequeno delinquente e culpa apenas a escola.
Os indivíduos que chegam ao poder, seja na esfera pública ou privada, só o fazem porque são afiançados a cada passo sujo que dão. Um grande corrupto é, antes de tudo, um pequeno corrupto. Em maior grau, são ambos espelho de quem os rodeia.
Quer ajudar Mariana e as demais cidades afetadas? Aja. Recolha mantimentos, programe a logística, procure saber quem está por trás do desabamento e ajude a disseminar consciência, informação, reflexão, e não discursos aparentemente moralistas e sem sentido.
Deseja um mundo melhor? A não ser que queira devotar sua vida a combater frontalmente o Estado Islâmico, as milícias, as quadrilhas de tráfico e toda essa barbárie organizada, o jeito é agir no microcosmo individual, procurando ser bom, honesto, íntegro, propagador de consciência e educação.
Que de tanta tragédia e horror possam surgir reflexões profundas, sinceras e transformadoras.
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Marcos Imperial