Apanhou mas não se rendeu.
Nathali Macedo, DCM
Eis o mais recente vídeo viral na internet: uma adolescente
aparentemente colegial dando socos e tapas em uma rival e retirando-se,
triunfal, em meio aos gritos de entusiasmo dos presentes. (Aqui o
vídeo.)
Havia alguém ali – como há, na verdade, em todos os lugares –
mais preocupado em registrar o espetáculo violento do que em pacificar.
O resultado foram mais de quarenta mil visualizações, outros milhares
de
compartilhamentos, memes, piadas e até camisas em “homenagem”
à briga.
Confesso que pensei por um instante se isso valia um comentário. Mas algumas memórias tristes me convenceram de que, sim, há algo de
muito errado com uma sociedade que se diz anti-violência e faz piada de uma
briga de rua.
Em tempo, garanto: eu entendi a piada. A garota se levantou, tentando
transparecer uma coragem patética após o vergonhoso nocaute: “Já acabou,
Jéssica?”
A frase virou meme
Sim, seria cômico – se não fosse trágico.
Haverá quem diga que o mundo anda chato, politicamente correto e ninguém
tem bom-humor para rir de uma piada.
Mas chata, na verdade, é a hipocrisia. Chato é ver que as mesmas pessoas
que lamentaram os recentes atentados em Paris, que se indignam com a violência
policial, os homicídios, os roubos e as balas perdidas, agora riem de um
episódio que nasceu exatamente da mesma ideia de que a violência pode ser
risível, pode ser compartilhável, pode ser aceitável.
E que as mesmas pessoas que pregam a paz defendem que “bandido bom é
bandido morto”, aplaudem linchamentos públicos e têm orgasmos mentais
assistindo UFC, como doentes espectadores numa arena de gladiadores.
Vivemos, portanto, a sociedade do espetáculo e da indignação seletiva, e
isso não é engraçado. As pessoas lamentam a violência com um avatar em
suas redes sociais enquanto se regozijam com essa mesma violência, de
maneira tão alienada que sequer se dão conta.
O sentimento que faz com que as pessoas compartilhem uma surra no meio
da rua como se fosse engraçado é exatamente o mesmo que nos faz crer que a
violência resolve as coisas: que a polícia pode usar seus cassetetes “em nome
da lei”, que uma mulher pode apanhar do marido porque “ela mereceu”, que um
garoto pode ser linchado pelos colegas de classe por ser diferente.
O espírito pacificador precisa passar pelos detalhes para que seja
convincente. Precisa ser precedido pela ideia de que a violência é condenável
em qualquer nível e em qualquer circunstância.
Não importa se não houve derramamento de sangue. Não importa se a garota
se levantou. Esse continua sendo mais um triste episódio violento entre os
milhares que passam sob os nossos narizes sem que nos indignemos.
A violência não é engraçada. É preocupante."
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Marcos Imperial