quarta-feira, 20 de abril de 2016

O discurso democrático e as lutas que virão

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Foi a defesa da democracia e a denúncia da natureza golpista do impeachment que deflagrou a mobilização em defesa do mandato de Dilma. Elas não foram suficientes para impedir que a  maioria dos deputados autorizasse o julgamento da presidente pelo Senado mas serão a base da resistência aos desdobramentos que virão. Faltou, ou ficou em segundo plano, entretanto, a denúncia mais contundente sobre o significado da troca de Dilma por Temer. 
O que moveu os blocos conservadores no Congresso, expressando interesses da Fiesp, Firjan, banca financista, ruralistas e outros blocos econômicos,  foi a possibilidade concreta de trocar o projeto nacional de desenvolvimento inclusivo,  que a trancos e barrancos avançou com os governos petistas,  por uma novo ciclo de políticas neoliberais, de ação reduzida do Estado, ajuste fiscal rigoroso e reformas restritivas a direitos, especialmente trabalhistas e previdenciários. Se esta denúncia – que Dilma ensaiou na véspera da votação, ao dizer que Temer acabaria com os programas sociais -  tivesse sido feita antes e com mais ênfase, talvez a resistência tivesse atraído para as mobilizações os segmentos que serão mais afetados e não gravitam em torno de movimentos sociais organizados, como MST, MTST, Cut e outros.  A defesa da democracia calou fundo foi  na inteligência nacional, nas classes medias e na juventude mais politizadas, nos herdeiros da luta contra a ditadura, junto aos artistas e intelectuais.
Na luta politica, entretanto, leite derramado não é leite perdido. Na ausência de um plano B, o que a esquerda entoa agora é o refrão “a luta continua”. Ou a luta só começou.   Terá que continuar no governo Temer pois,  nesta altura,  nem Dilma deve acreditar sinceramente que pode virar o jogo no Senado. Ok, não se pode pedir a ela que jogue a toalha e deixe de lutar por sua biografia, combatendo até o fim para demonstrar que não cometeu qualquer crime e que está sendo tirada do cargo para o qual foi eleita por violência institucional revestida de legalidade. O mundo está ouvindo o que ela diz e se surpreendendo negativamente com o retrocesso civilizatório do Brasil.
Os outros, porém, devem se preparar para os tempos seguintes. Se o Senado aprovar a admissibilidade do processo, afastando Dilma por 180 dias daqui a duas semanas, até Lula já disse que ela não voltará. O governo Temer, ainda que provisório durante o julgamento, começará a implementar a agenda que fez dele o coveiro escolhido para dar fim ao que a esquerda gosta de chamar de governos populares. Na prática, governos que não fazem revolução mas permitem que alguns nacos ou migalhas caiam da mesa dos privilégios sobre a planície dos excluídos.  Foi o que fizeram os governos petistas e outros governos de esquerda no que a direita chama de “ciclo neo-populista” da América Latina.  A agenda de Temer é o documento “Ponte para o futuro”, que defende medidas como o fim da política de valorização do salário-mínimo, restrição aos programas sociais, reforma trabalhista e previdenciária e algumas privatizações. Vai ter combate e mais renhido que nos tempos de FHC, quando não havia o ressentimento com a derrota pela violência legal.

O enfrentamento deste retrocesso exigirá mais que o discurso democrático. E já não terá o PT como carro chefe. O que emerge nas lutas sociais são as organizações não partidárias que sustentaram as mobilizações contra o golpe. A Frente Brasil Popular, mais próxima de Lula e do PT, mas muito autônoma em suas ações e plataformas, e a Povo sem Medo, em que se destaca o líder do MTST Guilherme Boulos. Destas novas formas de ação e organização deve nascer a nova esquerda. E dela, mais adiante, talvez, uma nova organização partidária que congregue os fragmentos militantes do PT e de partidos como o PSOL e o PC do B, que saíram fortalecidos do combate.

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Marcos Imperial

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