
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em
publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e
Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu
certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão",
"O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento setembro
2016).
Via 247 - Não é possível entender o que está
acontecendo no Brasil a partir de uma discussão ideológica: se houve ou não
houve golpe.
Essa gente capitaneada por Temer e Cunha
que chegou ao poder não tem ideologia nenhuma a não ser a do dinheiro.
A ideologia que conhecem é fazer fortuna
com o dinheiro do estado brasileiro. Sempre foi assim. Vejam o exemplo do
decano José Sarney.
Aos 86 anos, 60 dos quais dedicados à
política está muitas vezes milionário, sem até agora fornecer qualquer
explicação de como isso ocorreu. Sabe-se, no entanto, que o então presidente da
Petrobrás no governo FHC, Joel Rennó, era assíduo frequentador de sua mansão e
sua família comanda uma das grandes redes de postos de gasolina do país – além
de retransmissoras da TV Globo e de outros negócios herdados por seus filhos.
Outro campeão do mesmo esporte, Orestes
Quércia, morreu deixando uma herança de bilhões de reais tendo sido a vida
inteira político profissional. Seu sucessor na presidência do PMDB é Temer. Dá
para imaginar que ele tenha chegado a esse posto sem rezar na mesma bíblia do
antecessor?
Nem Sarney, nem Quércia, nem todos os
demais – não esqueçamos de Paulo Maluf, ACM, a lista é imensa – jamais foram
incomodados para valer pela Justiça. (Ainda hoje, também já octagenário, Maluf
continua dizendo que jamais teve conta na Suíça, embora não viaje mais ao
exterior como sempre fez, por suspeitar que a Interpol se oponha e faça com ele
o mesmo que foi feito com José Maria Marin, por coincidência seu sucessor, por
dez meses, no governo paulista ainda no tempo da ditadura militar.)
Contra os que deram mais bandeira foram
abertos inquéritos que rolam no STF há muitos anos, sem chegarem aos
finalmente. O senador Valdir Raupp, por exemplo, que já foi vice de Temer no
PMDB, citado na Lava Jato, responde a um desvio de 167 milhões de dólares do
Banco Mundial desde quando era governador de Rondônia (de 1995 a 1999).
O STF sempre foi e continua sendo um
refúgio seguro, à prova de intempéries.
De repente, a Lava Jato nasceu. No governo
Dilma. E a Lava Jato inovou ao enjaular grandes empresários que tinham negócios
com a Petrobrás e ao lhes oferecer uma forma de sair da cadeia: a delação.
E ela não fez nada para barrá-la, por um motivo
singelo: tinha certeza de que ela não estava no rolo. Se outros estavam –
inclusive petistas – não importava para ela.
A turma do PMDB e seus aliados de partidos
satélites enxergaram aí um perigo real. A Lava Jato, como diz o nome, era mais
rápida e mais atuante que o STF. E eles não tinham nenhuma relação com os
jovens procuradores.
Pela primeira vez em dezenas de anos as
suas operações secretas e muito bem camufladas poderiam vir à tona, denunciadas
por empresários que não tinham o STF para abrigá-los, com o que eles poderiam
perder tudo, ou boa parte do que amealharam, e assim comprometer o seu presente
e o futuro dos seus filhos e netos.
Alguma coisa precisava ser feita.
De onde surgiu a iniciativa de pôr fim a
essa ameaça? Da fértil imaginação de Eduardo Cunha, por coincidência aquele que
mais tinha a perder com a Lava Jato, como até os suíços demonstraram - com
precisão suíça.
Por que governos anteriores não foram
incomodados pela maioria que vive assaltando os cofres públicos apesar de
Fernando Henrique e Lula terem cometido as mesmas "pedaladas" que
ela? Porque não havia Lava Jato. Não era necessário inventar pretextos. Sob FHC
e sob Lula essa maioria podia agir livremente como sempre agiu. À luz do dia.
Mas quando a Lava Jato chegou com tudo e
Dilma não fez o menor esforço para freá-la, muito ao contrário, a estimulou, um
plano foi colocado em ação, com duas etapas: primeiro derrubar Dilma, depois
derrubar a Lava Jato. Por questão de sobrevivência, não de ideologia, embora,
para confundir a opinião pública, que é, na maioria, conservadora, foi criada a
narrativa de que era urgente exterminar a petista por ser uma perigosa agente
comunista que desejava transformar o Brasil numa nova Venezuela.
A tese do "perigo externo" foi
decisiva para convencer a classe média a ocupar a Avenida Paulista para
derrotar os "vermelhos" a fim de pressionar a maioria parlamentar.
Inventou-se esse pretexto mequetrefe –
pedaladas fiscais – que só deu certo porque qualquer coisa servia para afastar
o "perigo vermelho" do Planalto e era do interesse da maioria
parlamentar tirar Dilma a fórceps, o quanto antes. Antes que a Lava Jato
chegasse neles.
Temer chegou ao poder afrontando os que
achavam que ele queria derrubar a corrupção. Formou um ministério de suspeitos
e quase réus e fechou o órgão – Controladoria Geral da União - que os
fiscalizava. A frase que o marcou foi "eu sei tratar com bandidos",
talvez se referindo ao período em que, à frente da Secretaria de Segurança
Pública de São Paulo teve que se ver frente a frente com o rei do jogo do
bicho, Ivo Noal e com notórios contrabandistas, dando a entender que isso o
qualificava para ser presidente da República.
Agora que Dilma está fora, o grupo
majoritário trabalha sofregamente, noite e dia, para acabar definitivamente com
ela e com a Lava Jato. Ou seja, age decididamente no intuito de obstruir a
Justiça. Mas o STF não vê.
Não optou pelo caminho mais óbvio e também
mais visível – trocar o chefe da Polícia Federal, por exemplo – para a
obstrução não ficar na cara e assim seus líderes se arriscarem a serem presos,
pois obstruir a Justiça dá cadeia na certa. (Roubar os cofres públicos, não.)
A estratégia, mais sutil, mais subterrânea
– e ao mesmo tempo "legal" - foi explicitada claramente nos grampos
do delator Sérgio Machado, nos quais os caciques do PMDB discutem, preocupados,
de que forma podem manipular a maioria parlamentar para aprovar legislação que
enfraqueça os efeitos da Lava Jato.
Em reação a esse ataque em curso, os
procuradores da Lava Jato, unidos ao Procurador Geral da República travam uma
batalha de vida ou morte com o governo Temer.
Não só derrubam seus ministros, na maioria
com imensos telhados de vidro (ou de petróleo), como também aproximam a
guilhotina do seu pescoço.
Além de contar com a maioria obtida por
Cunha na Câmara e por Renan no Senado, sabe-se lá por meio de quais métodos
obscuros, Temer também utiliza seus ministros nessa cruzada.
Há alguns dias seu principal colaborador,
Eliseu Padilha (conhecido por Eliseu Quadrilha, talvez por ser adepto de festas
juninas) afirmou claramente para empresários do Lide, instituição comandada por
um dos brasileiros envolvidos no escândalo "Panamá Papers", João
'Dólar Jr'. que está na hora de acabar com a Lava Jato.
Uma coisa é certa. Temer vai tentar
convencer a opinião pública de que o mal maior – o governo petista – foi
afastado e que agora o país tem que sair da recessão e que a Lava Jato
atrapalha a retomada do crescimento. E vai usar todos os meios legais e ilegais
para alcançar seu objetivo. (Como orador, já se viu, não convence nem seu filho
de sete anos.)
Na verdade, a Lava Jato atrapalha os seus
movimentos e os de seu grupo na preservação e crescimento de suas fortunas.
Os procuradores da Lava Jato começam a
perceber que a operação só vai sobreviver se Dilma voltar.
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Marcos Imperial