TEREZA CRUVINEL, Colunista do 247, Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País.
“A justificativa central do
governo Temer para a PEC 55, impondo um teto para o gasto público que
sacrificará brutalmente o país e a população, é uma deslavada mentira que
precisa ser desmascarada”, diz a senadora Gleisi Hoffmann (PR-PR), presidente
da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Ao justificar a
PEC, o governo afirma que é preciso conter o “aumento sem precedentes da dívida
pública” para restabelecer a confiança em sua “sustentabilidade”.
Estudo da Consultoria do Senado realizado pelo economista Petronio
Portella Nunes Filho, a pedido da senadora, demonstra que ao longo dos governos
Lula e Dilma, até 2013, a relação entre a dívida líquida total e o PIB
(DLT/PIB) apresentou reduções substanciais em relação ao período FHC, caindo de
37,7% (em 2002) para 22,2% (em 2015). No biênio 2014-2015, em função da
recessão, houve um aumento modesto da dívida em relação ao PIB, de 2,9%,
enquanto nos estados e municípios, também por razões recessivas, o
aumento de 2,4%. Este crescimento foi de natureza conjuntural, fruto da
recessão, e não estrutural, não justificando medida tão drástica, diz o
estudo. “Drástica e equivocada, quando se propõe a combater a recessão com
arrocho fiscal”, completa a senadora.
A batalha final sobre a PEC 55 chega ao momento final, com os
debates conjuntos que a CAE e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
realizam nesta terça-feira. Na quarta, a comissão especial vota o parecer do
relator Eunício Oliveira, pela aprovação integral da emenda.
A “Nota informativa 2797” da Consultoria Técnica do Senado joga luz
sobre o discurso falacioso que o governo propaga para justificar a PEC,
calcado na ideia de que houve, sob Dilma, uma “explosão” inédita do
endividamento público.
Ao analisar a evolução da relação dívida/PIB, o estudo demonstra,
com uma tabela evolutiva ano a ano, que o período de maior explosão foi o
do governo FHC. No final do governo Itamar, em dezembro de 1994, a relação
dívida/PIB era de 18,9%. Em dezembro de 2002, ultimo ano de FHC,
havia saltado para 37,7%. No final da era Lula, em dezembro de 2010,
havia caído para 25,8%. E continuou caindo, sob Dilma, até dezembro de 2015,
quando foi de 22,2%. Em relação aos entes federados, no período FHC a
relação dívida/PIB saltou de 14,6% em 1994 para 19,7% em 2002, inferior,
portanto, ao endividamento federal no período. Já sob Lula, houve uma redução
para 11,6% no indicador.
“Somando-se a Dívida Líquida Total do governo federal com a dos
Estados e Municípios, chegamos, ao final de 2015, com um nível de endividamento
dos três níveis governamentais equivalente a 35,3% do PIB. Tal nível situa o
Brasil entre os países menos endividados do mundo. A grande maioria dos países
membros do G20 possui dívida pública líquida substancialmente maior”, diz o
estudo. Uma tabela mostra que a dívida pública líquida destes países era de
52,3% do PIB em 2013, 42,5% em 2008 e 45,7% em 2003. Já o endividamento
brasileiro (dívida pública liquida, que soma a do governo federal com a dos
entes federados) seguiu caindo nos últimos 15 nos, tendo diminuído de 50,6% em
2003 para 41,5% em 2008, depois para 33,6% em 2013.
Já a parte externa da dívida caiu ainda mais sob os governos
petistas. Quando Lula assumiu ela era de 13,3% do PIB. Quando ele passou o
governo a Dilma, era negativa, de 9,9%. O Brasil havia liquidado a dívida
externa e suas reservas cambiais haviam crescido como nunca, o que se refletiu
na negativação deste indicador.
Segundo o estudo, no período FHC, as três dívidas (total,
interna e externa) cresceram igualmente. A Dívida Líquida Total cresceu 752% de
1995 a 2002; a DLI (somando estados e municípios) cresceu 988% e a Dívida
Líquida Externa (DLE) cresceu 509%”.
“A gestão Dilma Rousseff foi, de longe, a que teve menor taxa de
crescimento da Dívida Líquida Total: só 31%. A DLT não só foi reduzida em
relação ao PIB, como diminuiu em termos reais. A inflação acumulada entre 2011
e 2015, medida pelo IPCA, chegou a 41%”, diz o estudo, acrescentando:
“Entretanto, é importante observar que o comportamento da dívida durante a
gestão Dilma pode ser dividido em dois períodos. Entre 2011 e 2013, a DLT teve
aumento nominal de apenas 2%, o que significou enorme redução em termos reais e
em relação ao PIB. A partir de 2014, como a economia entrou em violenta
recessão, a DLT voltou a crescer em ritmo forte. Porém, considerando a
totalidade do quinquênio da Presidente Dilma, a dívida federal diminuiu
substancialmente, tanto em termos reais quanto em relação ao PIB.”
O autor tem explicação diferente da que é apresentada pelo governo
para o crescimento da dívida total no final do governo Dilma. Como as
exportações haviam voltado a crescer, o Banco Central tratou de enxugar a base
monetária, expandida pela conversão das divisas em moeda nacional,
através da venda de títulos públicos. Para o governo atual, o que houve foi
descontrole no gasto.
Um segundo fator são os juros. A ideia sobre a qual se sustenta a
PEC 55 é a de evitar o déficit primário (receita menos despesas) e o
endividamento através do arrocho fiscal: nos próximos 20 anos o gasto não
cresceria, não importando o crescimento da população, do PIB e da receita. Uma
tabela demonstra que, apesar do superávit primário verificando a partir de
1997, quando ele é somado ao gasto com juros, encontra-se sempre um
Resultado Nominal negativo, que foi, em média, de – 2,8%. O culpado por isso
são os juros anormalmente altos praticados pelo Brasil, ao contrário do que
ocorre na maioria dos países.
“Não há como negar que o Governo Central teve déficit primário em
2014 (0,4% do PIB) e em 2015 (2,0% do PIB). Os déficits fiscais contribuíram
inegavelmente para o aumento da dívida federal. Mas a questão é que tais
déficits foram eminentemente conjunturais (temporários, decorrentes da
recessão) e não estruturais (relativos a um desajuste duradouro e de longo
prazo). Eles não justificam a aprovação de uma PEC que arroche os gastos
primários por vinte anos”, diz a nota técnica.
Na recessão, mostra ainda o estudo, a dívida sempre sobe. Assim foi
no biênio recessivo de 1998-1999, quando ela teve um crescimento de 11,5 pontos
percentuais. O mesmo ocorreu em 2009, único ano da gestão Lula em que o PIB
esteve estagnado, e a relação dívida/PIB cresceu 4,6% em um ano. Com Dilma, não
foi diferente no biênio recessivo 2014-2015, em que o crescimento da dívida
foi de 2,9%.
- Por conta de um problema conjuntural, querem aplicar um remédio
que terá efeitos colaterais negativos nos próximos 20 anos – diz a senadora
Gleisi.
O autor conclui:
“Não se pode negar a deterioração do resultado primário no último
biênio do governo Dilma Rousseff. Tal resultado deve culminar com a geração de
um déficit estimado em R$170 bilhões este ano, com aumento no endividamento
federal pelo terceiro ano consecutivo. A Presidente Dilma cometeu erros de
política fiscal, e pagou um preço desproporcionalmente alto por isto.
Entretanto, consideramos uma falácia a afirmativa, na Exposição de Motivos da
PEC do Teto dos Gastos Públicos, de que teria havido, nos anos recentes, um
aumento sem precedente no endividamento federal.”
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Marcos Imperial